Já longe seguem os tempos em que se acreditava que os quadros depressivos dos adolescentes mais não eram que “crises da idade”, ou que as crianças não eram capazes de os experienciar por terem dificuldade em expressar os seus afetos, ou até que os bebés eram seres ainda demasiado “rudimentares” para se deprimirem! Hoje em dia sabemos que as perturbações depressivas são transversais a qualquer faixa etária. Estima-se que a sua prevalência seja de 1-2% em idade pré-pubertária, idêntica para as meninas e os meninos, e 3-8% se nos referirmos à adolescência, sendo nesta faixa etária duas a três vezes superior nas raparigas.

 

No entanto, ter-se uma depressão não é dizer-se que se está triste. Ou não é só. E pode ter-se a doença, inclusivamente, sem uma sensação de tristeza! Se na adolescência o quadro clínico assume contornos mais parecidos com a depressão no adulto, na criança, uma queixa de irritabilidade ao invés da tristeza pode ser muito característico. De notar que não são apenas as queixas verbalizadas que se tomam em consideração na avaliação das perturbações depressivas em Pedopsiquiatria; a observação do comportamento é também determinante!

 

Existem fatores — individuais, familiares, sociais — que podem conduzir à predisposição para a patologia; exemplificando aleatoriamente, destacam-se a dificuldade de adaptação face a mudanças, a dificuldade na socialização, a vivência de situações de vida eventualmente traumáticas, entre outros.
A que sinais devemos prestar atenção quando suspeitamos da necessidade de uma avaliação clínica? Alterações no funcionamento normal da criança podem colocar-nos na senda para tal: falta de prazer em brincar ou jogar, diminuição do rendimento escolar, dificuldades de concentração, isolamento social, cansaço mais acentuado, grande irritabilidade, alterações no sono ou no apetite — a descrição continuaria vasta.

 

A intervenção terapêutica pedopsiquiátrica, principalmente em idades precoces e, contrariamente ao que muitos dos pais podem inicialmente pensar, NÃO tem que passar pela prescrição de medicação. A psicoterapia e a intervenção familiar podem ser imprescindíveis. No entanto, cada criança e cada adolescente são únicos, pelo que a avaliação por um especialista é imprescindível e a intervenção, necessariamente, personalizada. A depressão não é um fim; há que estar atentos para que possa ser gerida e tratada o mais atempadamente possível. Quando os caminhos se entortam, cabe-nos devolver as nossas crianças aos dias de riso e esperança! Afinal, elas são o que seremos.

 

Margarida Crujo

Pedopsiquiatra

margarida.crujo@pin.com.pt

 

PIN - Progresso Infantil