Cores, raças, religiões. Num mundo cada vez mais heterogéneo, o racismo e a intolerância estão longe de ser história do passado. Conta a jornalista Lisa Armstrong ao site Parents.com: “Até os 9 anos de idade, Niko Crawford, de New Market, Maryland, Estados Unidos, orgulhava-se de ser muçulmano. Mas nessa altura tudo mudou. As crianças da turma começaram a insultar o seu melhor amigo, Mohammed, apelidando-o de ‘terrorista’ e ‘amante de Osama’. Por fim, tentaram espancá-lo no autocarro para a escola. Niko, afro-americano e dificilmente identificado como muçulmano, defendeu o amigo, mas não revelou a ninguém a religião da sua família. A provocação aumentou de tal forma que um dia chegou a casa em lágrimas. Depois de ver a forma horrível como o amigo estava a ser tratado, Niko começou a ter vergonha da sua religião. Estava aterrorizado”.

A experiência deste afro-americano é, como sublinha a jornalista, um alerta para o fanatismo – “que está vivo e bem vivo nos Estados Unidos”, como sublinha Amanda. Mas não só. “O racismo pode ser menos aceitável hoje do que há uma geração, mas ainda existe”, defendeu Kerrie Laguna, professor e psicólogo à Parents.com. “As crianças são rápidas a perceber os preconceitos dos pais – mesmo que sejam transmitidos de forma subtil e nunca pronunciados em voz alta”.

Eis como a especialista aconselha os pais a agirem para formar jovens sem preconceitos e que respeitem diferentes raças, religiões e culturas.

1. Reconheça as diferenças

Aos 4 anos, as crianças começam a perceber que algumas pessoas parecem fisicamente diferentes e podem começar a fazer perguntas como: por que é que a pele dela é mais escura do que a minha? “Os pais às vezes entram em pânico com essas questões, mas as crianças são naturalmente curiosas e estão simplesmente a tentar compreender”, defende Alvin Poussaint, professor de psiquiatria da Universidade de Harvard e co-autor do livro Raising Black Children.

O especialista aconselha a explicar simplesmente que “as pessoas têm cores, formas e tamanhos diferentes”. Empolar a questão pode dar a ideia de que há algo errado com a diversidade. A mensagem a passar é simples: “As pessoas podem parecer diferentes por fora, mas são iguais por dentro”, sublinha Poussaint, aconselhando os pais a usarem analogias de fácil entendimento.

2. Seja um modelo

A maioria das pessoas sabe que não deve usar expressões depreciativas para descrever raças, mas muitas acabam por socorrer-se dessa arma tão pouco nobre quando enfrentam alguma contrariedade que envolva uma pessoa de raça distinta. Kerrie Laguna aconselha a explorar “o seu próprio comportamento para ver que mensagens subtis pode estar a enviar ao seu filho sem saber”. Por exemplo: “Ri em vez de reclamar quando alguém conta uma anedota racista? Tranca a porta quando conduz dentro de alguns bairros? Imita sotaques étnicos para parecer engraçado?”. Laguna é taxativo: “Até pode não querer humilhar ninguém, mas é possível que a criança fique com a impressão errada”.

3. Fale sobre fanatismo

As crianças criam estereótipos a partir do que vêm na televisão.“Até nos desenhos animados há vilões com nomes e características de povos estrangeiros e lindas princesas loiras e caucasianas”. Quando tropeçar num estereótipo negativo, “mostre-o à criança, deixando bem claro que acha errado”, sugere Poussaint. Dando exemplos bem práticos: “Se o seu filho diz coisas como: ‘Todas as crianças negras da minha escola são boas a jogar basquete’, aproveite para acabar com as generalizações”. Como? “Explique que só porque algumas pessoas de determinada etnia se comportam de uma certa forma, não se pode presumir que todos os membros desse grupo ajam de maneira semelhante”. Simplifique: “Explique à criança que nunca é bom fazer generalizações baseadas em raças ou culturas - mesmo se forem positivas”.

4. Incentive a empatia

“As crianças que conseguem pôr-se no lugar do outro são menos propensas a provocar os que se distinguem”, defende o artigo da Parents. “Converse com o seu filho sobre o que ele acha que sentiria se estivesse em minoria – por exemplo, se morasse num país onde todos parecessem diferentes. Pergunte como seria se as pessoas fossem más com ele só por causa do formato dos seus olhos”. Os especialistas dizem que se podem ter estas discussões com crianças a partir dos 3 ou 4 anos se os conceitos e a linguagem utilizados forem simples.

5. Exponha o seu filho à diversidade

As crianças do século XXI estão a crescer numa sociedade multicultural, “e quanto mais cedo se sentirem à vontade com pessoas de outras etnias, mais bem preparadas estarão para o futuro”, sublinha o artigo. Leve o seu filho a restaurantes étnicos, vá a exposições e a eventos culturais que abram os seus horizontes e procure livros que descrevam e celebrem outras culturas”.

6. Promova o sentido de identidade

Tratar as crianças com respeito e dignidade é a melhor forma de as ajudar a desenvolver a autoestima. Crianças felizes e bem integradas tendem a não ser fanáticas”, defende Peter Langman, diretor e psicólogo da KidsPeace, organização infantil sem fins lucrativos. “Os miúdos que sentem que não são valorizadas tendem a procurar alvos – alguém que considerem diferente – para liberar a sua raiva e frustração.”, conclui o especialista. A autoestima é especialmente importante para as crianças que se sentem em minoria – nem que seja porque têm o cabelo frisado e quase todas as amigas exibem cabeleiras lisas.

7. Não tolere qualquer tipo de preconceito

Explique ao seu filho que todas as pessoas merecem respeito, sejam elas mais ou menos parecidas com maioria. “Para criar um filho tolerante, tem de ensiná-lo a valorizar todos os seres humanos”, defende Peter Langman, que aconselha deste modo os pais de miúdos que foram alvo de preconceito: “Explique ao seu filho que entende que ele se sinta furioso e magoado, mas aconselhe-o a permanecer sempre calmo. Se alguém usar um termo ofensivo, é importante que a criança assinale e se recuse a pactuar com isso, mas de forma serena”. Mais: “Quando a criança falar de um episódio infeliz, dê-lhe hipóteses de desabafar, mas não caia no erro de se mostrar furioso”. Em vez disso, prossegue Lagman, “tome uma atitude”. Por exemplo, se o episódio ocorreu na escola, fale com o professor. Peça-lhe para confrontar o agressor e explicar-lhe que o que disse é inadmissível”. Se a situação decorreu na sua vizinhança, pondere ligar aos pais do outro miúdo. Mas com cuidado: “É possível que essa criança esteja a repetir o que ouviu em casa”.