Talvez ainda não tenha dado conta, mas há muitos miúdos a seguirem uma série que começa a desafiar logo no título. The End of te F…World. É emitida pela Netflix, tem conhecido um sucesso considerável entre os jovens e retrata a relação nem sempre linear de dois adolescentes entre si e com as respetivas famílias. Não é preciso dizer que essas famílias são, digamos, disfuncionais, certo?

Num extenso artigo para o Huffington Post, a jornalista Hanna Tomes é capaz de ter revelado o ingrediente principal do sucesso da série. Diz Hanna Tomes que se trata de um retrato incrível da verdade, em oposição às centenas de histórias cor-de-rosa que se vendem sobre a família.

“Num domingo recente assisti de uma assentada a todos os episódios de The End of the F***inkg World, obra-prima do humor negro da cadeia britânica Channel 4. É uma série brilhante, especialmente por lidar com temas pesados (assassinatos, ataques sexuais, suicídio) de maneira inovadora – e muitas vezes de um jeito bizarramente humorístico”. A jornalista diz ter experimentado “a sensação de uma crueza emocional bem mais intensa do que se costuma ver na televisão. Além do elenco excelente, de diálogos pouco convencionais e da fotografia – diferente –, o que me chamou a atenção foi o tratamento dado aos relacionamentos familiares. Mais especificamente, a Alyssa e à sua relação com um pai distante, alimentada apenas por meia dúzia de cartões de aniversário, que se descobre mais tarde serem escritos pela mãe”, revela Hanna, também ela filha de um pai ausente. “Como alguém que não conhece o próprio pai, a série marcou-me”, admite.

A jornalista conta que passou a infância a lidar com um silêncio constrangedor quando lhe era perguntado onde estava o pai. E a fantasiar sobre ele. “Produções que lidam com pais ausentes, especialmente com o relacionamento entre pais e filhas, costumam adotar rótulos fáceis e retratos gastos do que é ser pai. Esse tipo de estereótipo não ajuda a entender a complexidade da família e das relações difíceis entre pais e filhos. O que poderia ser uma história interessante e formativa, se tratada com habilidade – e verdade – acaba por transformar-se no único traço que define a personagem”.

Hanna diz que, na sua perspetiva de filha, costuma encontrar dois finais para este tipo de história: “A rapariga conhece o pai e recuperam o tempo perdido na infância, sendo perdoado numa ida a uma gelataria (com diálogos enjoativos de tão doces que são) ou há uma separação dramática e irreconciliável, porque as mágoas do passado são difíceis de superar”.

E por que caminho segue, afinal, The End of the F***inkg World? “A série cria uma terceira opção. O pai de Alyssa é problemático, mas nunca é retratado como um monstro, como costuma acontecer com os pais ausentes. É a representação realista de um pai que fugiu às responsabilidades, mas não cai no lugar comum de o classificar como uma pessoa má. Por esse motivo, a série já merece ser aplaudida”, diz Hanna.