Em declarações à agência Lusa, a investigadora principal, do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, explicou que o jogo de tabuleiro vai estar à venda a partir de quinta-feira, em livrarias, com um preço que poderá rondar os 40 euros.
Segundo Rute Agulhas, este primeiro jogo destina-se a crianças entre os seis e os 10 anos e tem como objetivo a prevenção primária dos abusos sexuais de crianças.
Pode ser jogado por qualquer adulto, desde pais, psicólogos, professores, educadores de infância ou animadores socioculturais, com uma criança ou com um grupo de crianças, até um máximo de quatro.
“É uma lógica de aumentar conhecimento e promover competências: pedir ajuda, dizer não, o mais cedo possível”, sublinhou, acrescentando que o jogo também pretende aumentar os conhecimentos dos próprios adultos que jogam.
A psicóloga explicou que trabalha desde há 18 anos na área dos abusos sexuais, tanto com vítimas, famílias e agressores e que, por isso, já desde há muito tempo que sentia a necessidade de apostar na prevenção primária e não só no trabalho feito depois de o abuso ter acontecido, apontando que “em Portugal não há materiais específicos na área da prevenção”.
O jogo em causa é o primeiro de uma coleção que se chama “Vamos Prevenir” e foi decidido dar prioridade à faixa etária entre os seis e os 10 anos porque “é onde a incidência do abuso sexual é maior”.
“No próximo ano letivo vamos ter de abranger os 3 aos 6 anos e fazer materiais específicos para os mais pequenos e vamos fazer uma aplicação de telemóveis para os adolescentes”, adiantou.
Segundo explicou, trata-se de um jogo de tabuleiro, desenhado e estruturado à volta do tema do mar, com um menino chamado Búzio e uma menina chamada Coral, além de um livro de instruções, a Bússola, que tem as informações básicas que todos os adultos devem ler antes de começarem a jogar.
O jogo aborda vários temas, entre o corpo e o toque, o segredos, as emoções, pedir ajuda ou a internet e tem atividades que vão desde a mímica, desenho, cartas de expressões, onde é pedido às crianças que identifiquem as emoções associadas, ou cartas de segredos.
“Temos os cartões do corpo humano com o Búzio e a Coral todos despidos, de frente e de trás, exatamente para falar das partes privadas, desse conceito, quem pode mexer e quem não pode, o que fazer se mexe”, disse a psicóloga.
Rute Agulhas alertou que este é um material que serve para prevenção primária e não para trabalhar com crianças vítimas de abuso, não descartando a hipótese de poder servir como uma forma de facilitar a revelação.
“Uma criança que tenha sido efetivamente abusada ou esteja a ser abusada pode ser que encontre aqui uma oportunidade de falar sobre o tema porque aquilo que muitas vezes inibe que uma criança revele, além do medo, da vergonha, dos conflitos de lealdade ou a culpa, que também inibe bastante, é não haver uma oportunidade, é não se criar um contexto porque normalmente as famílias não falam sobre isto”, apontou.
Se por acaso isso acontecer, o adulto que estiver a jogar com a criança é orientado para saber o que dizer – “para a pessoa não ficar perdida com esta informação na mão” – e a quem ou onde pedir ajuda.
A psicóloga adiantou ainda que parte dos lucros da venda do jogo revertem para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
O jogo é recomendado pelo ISCTE, Centros de Estudos Judiciários e pela Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco.
Nos últimos cinco anos, a Polícia Judiciária investigou mais de 7 mil casos, o que dá uma média de quatro abusos por dia.
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