Uma hora depois de saírem da Praça do Rossio, em Lisboa, a mancha de estudantes subia finalmente a Rua de São Bento e antes mesmo de virarem para o parlamento as vozes que em uníssono entoavam gritos reivindicativos já anunciavam a chegada.
Debaixo de chuva, que começou a cair já no final do percurso, erguiam cartazes que mostravam ao que vinham: “A propina roubou-nos as carteiras, devolvam-nos a faculdade”, “Mais representação estudantil” ou “Mais democracia nas instituições de ensino superior”.
Os caminhos cruzaram-se logo na zona do Chiado, mas o grande grupo que acabou por encher as ruas da capital partiu de dois protestos distintos, mas com objetivos comuns.
Na Praça do Rossio, a concentração foi organizada por associações de estudantes de outras 12 instituições em Lisboa, Porto e Caldas da Rainha e pela Federação Académica de Lisboa, enquanto o Terreiro do Paço foi o ponto de partida escolhido pelo movimento Académicos, constituído por nove associações de todo o país.
“Aquilo que nós reivindicamos hoje é, essencialmente, a participação ativa dos estudantes. Estão aqui diversos estudantes que têm reivindicações diferentes e achamos que o importante neste dia era conseguirmos ter aqui um conjunto de estudantes muito grande, ativos e a participar”, disse à Lusa João Machado, presidente da Federação Académica de Lisboa.
Este ano, o Dia Nacional do Estudante coincidiu com os 60 anos desde a crise estudantil de 1962, mais um motivo para os estudantes quererem sair à rua, na primeira grande manifestação de estudantes do ensino superior desde o início da pandemia da covid-19.
“A melhor maneira de homenagear os que lutaram no passado é lutar no presente. Muitas das suas lutas mantêm-se e nós temos de continuar a assumir essa responsabilidade que temos como dirigentes associativos e representantes dos estudantes”, afirmou Carolina Santos, da associação de estudantes da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.
No rol de problemas que afetam o ensino superior, Carolina sublinhou o valor das propinas, a falta de alojamento nas residências universitárias e a insuficiência da ação social escolar e Nuno Marques, do Politécnico de Leiria, acrescentou ainda a falta de condições nas instituições, pedindo mais investimento no ensino superior.
Aluno na Escola Superior Artes e Design, Nuno relatou que, por exemplo, no curso de fotografia analógica são os próprios alunos que têm de suportar o custo dos rolos e o material disponível é insuficiente para chegar a todos os alunos.
À vista, está já um novo ciclo governativo com um novo nome à frente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que será liderado pela cientista Elvira Fortunato, e a mudança criou algumas expectativas nos estudantes.
“Com o antigo ministro [Manuel Heitor] foram poucas as vezes que houve reuniões com os estudantes e não ouviu, naturalmente, as nossas preocupações”, recordou o presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior, Ricardo Nora, sublinhando que espera a proximidade com as associações estudantis seja retomada.
Depois do protesto, já à noite, a frente do parlamento será ainda palco de uma vigília promovida pela Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico, pelas 22:00, de homenagem às vítimas da guerra na Ucrânia.
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