Já 33% das 8.600 situações de acolhimento deveram-se à exposição da criança “a modelos parentais desviantes”, revela o Relatório de Caracterização Anual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens – CASA 2015, a que a agência Lusa teve acesso.

A terceira maior problemática centra-se ao nível da negligência dos cuidados de educação (32%) e saúde (30%), em que se verifica uma ausência de cuidados de rotina necessários ao “são desenvolvimento” da criança.

O relatório do Instituto da Segurança Social assinala ainda o aumento dos comportamentos de risco da criança/jovem face a 2014, que motivaram 15,5% dos internamentos, e a diminuição (1%) dos casos de mau trato físico.

Analisando as medidas em meio natural de vida anteriores à situação de acolhimento, verificou-se que 4.255 crianças e jovens (49,5%) já tinham sido alvo destas medidas, mais 330 face a 2014.

Destes, 3.430 tinham recebido apoio junto dos pais, 851 apoio junto de outro familiar, 157 tinham sido confiados “a pessoa idónea” e seis tiveram “apoio para autonomia de vida”.

Perante estes dados, o documento afirma que, “mais uma vez, poderão levantar-se questões sobre a eficácia das medidas em meio natural de vida e sobre o real investimento que nelas é efetuado, quer sob o ponto de vista do acompanhamento técnico, quer na intervenção desenvolvida”.

“Eventualmente, poderá ter existido desadequação na definição dos planos de intervenção definidos, dificuldades na sua implementação e nos apoios efetivamente prestados às crianças, jovens e respetivas famílias”, explica.

Do total de crianças acolhidas, 3.100 (36%, mesma percentagem que em 2014) já tinham vivenciado experiências de acolhimento noutros locais.

Segundo o relatório, 2.484 (80,1%) estão atualmente na segunda resposta, 476 (15,4%) na terceira e 140 (4,5%) estão na quarta, quinta ou sexta resposta de acolhimento, sendo na faixa etária dos 15 aos 17 anos que se regista o maior número desta última situação.

Para os autores do documento, estes dados, além de “inquietantes, por supor que estas crianças e jovens, ao longo do seu crescimento, foram expostos a várias mudanças e sujeitos a inúmeras ruturas”, permitem prever “as sérias complicações relacionais e de vinculação que isso acarreta nas diversas etapas do seu desenvolvimento, na construção da sua identidade e personalidade, e no desenvolvimento do sentido de pertença”.

A maioria das crianças (7.685) já tem definido o seu projeto de vida, continuando a prevalecer a “autonomização” e a “reintegração na família nuclear” com um peso, respetivamente, de 33% (32% em 2014) e de 31,4% (30% em 2014).

O projeto de vida “adoção” foi definido para 882 crianças (10,3%), o “acolhimento permanente” para 7,8%, a integração na família alargada” para 5,5%, a “confiança à guarda de terceira pessoa, tutela, regulação do exercício das responsabilidades parentais” para 1% e o “apadrinhamento civil” para 0,4% dos menores.