A Federação Académica de Lisboa (FAL) realizou o estudo “Alojamentos de Estudantes Deslocados – Residências e Arrendamentos” e concluiu que “64% dos alunos não está minimamente satisfeito com o alojamento que tem”, contou à Lusa o presidente da FAL, João Rodrigues.

Há residências universitárias onde um fogão tem de ser dividido por 50 alunos e casas arrendadas onde os alunos só podem usar a cozinha mediante um pagamento extra, revela o estudo feito com base nas respostas de 400 alunos que estão a estudar longe de casa.

Lisboa, Porto e Coimbra têm em falta entre 13 e 18 mil camas para estudantes
Lisboa, Porto e Coimbra têm em falta entre 13 e 18 mil camas para estudantes
Ver artigo

A maioria dos alunos inquiridos está a estudar a mais de 250 quilómetros de casa e quando chegou a Lisboa teve muitas dificuldades em encontrar uma casa em bom estado e com preços acessíveis.

“Há residências universitárias públicas que têm apenas um fogão para 50 estudantes. Há alunos que vivem em residências e que se queixam de infiltrações, outros que não têm acesso à internet ou que não têm sala de estudo”, contou à Lusa o presidente da FAL.

A maioria dos estudantes que vive em residências universitárias diz que estas estão equipadas com cozinha e espaços de refeitório, mas mais de 40% considera que os espaços não são adequados, segundo o estudo que consta do “Livro Negro do Ensino Superior” que será publicado ainda este mês.

Várias queixas

Tanto os alunos que vivem em residências como em casas particulares arrendadas queixam-se da utilização de alguns equipamentos básicos, como o frigorífico. “Cerca de 45% dos inquiridos admitem que o frigorifico ao seu dispor não tem a dimensão adequada ao número de pessoas que o partilha, criando dificuldades de gestão dos alimentos e uma alimentação menos cuidada”, refere o estudo a que a Lusa teve acesso.

Nas residências universitárias, quase metade dos alunos paga mais de cento e cinquenta euros por mês, sendo que cerca de 30% é beneficiário de complemento de alojamento.

Mas, para quem não conseguiu lugar numa residência, o cenário agrava-se. “Há alunos a pagar 430 euros para viver numas águas furtadas”, contou à Lusa João Rodrigues, lembrando que os estudantes não escapam aos preços cada vez mais altos das casas que existem para arrendar na zona de Lisboa.

Mais de 90% dos estudantes que vivem em casas arrendadas paga mais de cento e cinquenta euros mensais, sendo que apenas 3% possui um complemento estatal para fazer face às despesas de alojamento.

Em algumas casas particulares, o acesso à cozinha implica um pagamento extra: Metade dos alunos inquiridos “admite que a utilização da cozinha tem um custo, dos quais quase 20% admite que esse valor é caro”, lê-se no estudo.

Com rendas elevadas, muitos acabam por partilhar casa e até transformar a sala de estudo e convívio em mais um quarto.

“A maioria dos senhorios não passa recibo e quando as famílias o pedem as rendas aumentam ainda mais”, lembra João Rodrigues, que hoje esteve reunido com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor.

Para combater a falta de oferta de residências universitárias e os preços do mercado de arrendamento, a FAL apresentou hoje um pacote de medidas ao ministro.

Os estudantes defendem que deveria haver benefícios fiscais para os senhorios que arrendam a estudantes e reformados.

“Esta medida poderia ainda combater a elevada evasão fiscal que existe, já que a maioria dos arrendatários não passa fatura”, sublinhou o presidente da FAL.

A reabilitação do edificado público é outra das soluções apresentadas pelos estudantes para aumentar e melhorar a oferta de residências.