Imaginem uma criança sentada a uma mesa cheia de pratos diversos: bacalhau com batatas, peru recheado, rabanadas, aletria, leite-creme… Uma mesa bem colorido com os enfeites de Natal e um cheirinho a canela e doces natalícios pelo ar. Parece tentador, certo? A maioria das pessoas considera este cenário bem convidativo e até acolhedor. Mas, não será assim para todos.
Estudos recentes demonstram que cerca de 22.5% das crianças pode apresentar um diagnóstico de ARFID ou Perturbação Alimentar Restritiva-Evitante. De acordo com os critérios de diagnóstico, a criança pode apresentar: (1) pouco interesse nos alimentos ou até parecer não sentir fome, (2) sensibilidade sensorial reagindo negativamente a cheiros intensos, a determinados sabores, texturas ou até à cor dos alimentos, (3) receio em engasgar-se ou vomitar após ingerir alimentos. Como consequência, a perda de peso ocorre com frequência ou apresentam um défice nutricional, devido ao número reduzido de alimentos que são aceitáveis para a criança.
Estas crianças são normalmente conhecidas como “seletivas”, “picuinhas com a comida”, “esquisitas”. Mas o que é certo, é que esta é uma dificuldade real para estas crianças e parece ser ainda mal compreendida pela maioria das famílias e até por alguns profissionais de saúde. Por isso mesmo, é importante dar a conhecer estas dificuldades e, principalmente, partilhar como se pode ajudar uma criança seletiva.
Em época natalícia, onde a festa se faz à volta da mesa, segue um pequeno guião para conseguir lidar com a criança seletiva:
- Fale com a criança sobre onde, com quem e como será a festa. É importante que a criança consiga antecipar o que vai acontecer;
- Assegure à criança que não tem que comer nada que não sinta estar verdadeiramente preparada para comer;
- Fale com os outros familiares sobre as dificuldades alimentares da criança;
- Evite comentários como:
- É Natal! Tens que experimentar pelo menos!
- Come pelo menos esta rabanada…foi a avó que fez, não queremos que ela fique triste;
- Se não comeres tudo não cresces;
- Olha, o teu primo come que é uma maravilha!
- Deixe a criança escolher um alimento que goste para levar para a festa e, leve uma dose extra para que possa partilhar com os outros;
- Se a criança não se sentir confortável, não pressione e permita que se afaste da mesa quando necessário.
O Natal deve ser uma época de partilha e bem-estar junto dos que mais gostamos. Por isso, relaxe e desfrute do momento sem estar sempre preocupado com o que a criança irá ou não comer. Talvez até o surpreenda e dê uma dentada num alimento novo! Se acontecer, redobre os sorrisos e reforce com um abraço ou palavras de incentivo!
Um artigo de Joana Fernandes, Psicóloga Clínica na PIN.
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