“Os alunos estão a sofrer imenso no secundário”, disse, acrescentando que “milhares de alunos de 15 anos” estão, “no final do 1.º período, com uma média que compromete entrar em engenharia espacial, medicina ou outras engenharias”.

Falando no salão nobre da Câmara da Maia, no âmbito da apresentação do INEDIT. Maia - programa de inclusão pela educação, José Verdasca disse que “Portugal é, provavelmente, dos países onde as distâncias e as representações sociais sobre as profissões é mais acentuada e isso tem afunilado muito as respostas educativas das escolas, criando uma excessiva procura das ciências e tecnologias”.

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“Esta área representa cerca de 70% das opções [feitas pelos alunos], e isto tem muito a ver com esta assimetria da sociedade, quer pela representação social que as pessoas têm dessas profissões, quer pelos estatutos remuneratórios que essas profissões proporcionam. E cria uma distorção enorme na procura das ofertas educativas no nível superior”, sustentou.

Na sua opinião, esta é a altura certa para realizar “um grande debate sobre isso”, porque “há novos desafios em cima da mesa”. “Este ecossistema educacional está a fazer germinar um conjunto de discussões territoriais com múltiplos atores, com responsabilidades neste processo, e isso será facilitador de uma nova equação, de um outro contexto”, disse, considerando que o Ensino Superior “usa muito o critério de ser o ensino secundário a resolver o problema do acesso”.

Ensino Superior a pagar a cada uma das escolas

Verdasca defende que “as escolas prestam um serviço publico inquestionável, de elevadíssima qualidade no processo dessa seleção [de alunos] que é matéria do Ensino Superior” e “talvez fosse interessante o Ensino Superior pagar a cada uma das escolas um X por cada aluno que ela avalia para entrar no Ensino Superior”.

Também presente na sessão, o antigo ministro da Educação e presidente do Conselho Nacional de Educação, David Justino, afirmou que “o sucesso [escolar] não é necessariamente algo que só diga respeito aqueles que o têm”, sendo um “direito”.

O responsável defendeu que não se deve “aliviar as expectativas” dos alunos e todos aqueles que “lutam para isso merecem respeito de todos”.

No seu entender, muitas escolas e alguns professores, ao quererem tratar os alunos de forma protegida, o que estão a fazer é baixar-lhes as expectativas.

“O nosso papel é dizer: tu vais conseguir, mas para isso tens de trabalhar, tens de te disciplinar e organizar na vida”, sublinhou.

David Justino é da opinião de que os jovens de hoje "têm de ser responsabilizados" e que "antes de serem bons profissionais têm de ser boas pessoas, com caráter".

O programa INEDIT. Maia destina-se a crianças do pré-escolar ao 2.º ciclo do ensino básico e tem a duração de três anos, abrangendo todos os agrupamentos de escolas do concelho.

Com este tipo de programa inovador, que na Maia estabelece como metas a redução da taxa de alunos com níveis negativos, bem como a redução das taxas de retenção e desistência, é possível “melhorar as aprendizagens que são consideradas essenciais, significativas, para os alunos”, considerou José Verdasca.

“Do meu ponto de vista, estes projetos inspiram esta ideia de ecossistema educacional no território, onde se percebe que há uma disponibilidade e uma grande vontade do município em colaborar, mas dando espaço às escolas e comunidade educativa” para estarem envolvidos, concluiu o responsável.