Embora nunca tenha pisado terras lusas, o norte-americano Joel Henriques, autor do blogue Made by Joel, um apaixonado por pintura, tem origens portuguesas. No início, conseguiu sobreviver dos lucros que a venda das suas obras gerava. Depois, foi pai de gémeos e tudo mudou. Residente em Portland, no Oregon, nos EUA, é também autor do livro "Made to play! - Handmade toys and crafts for growing imaginations".
Como é que surgiu a ideia de começar o blogue?
Após o nascimento dos meus filhos gémeos, deixei de ter tempo para pintar. Entretinha-me a desenhá-los, a observar a forma como brincavam com as coisas. Quando eles tinham 10 meses, a minha mãe fez-lhes babetes que tinham um fecho em velcro. Eles divertiam-se a tirá-los do pescoço e brincavam com o contraste que existia entre a textura do velcro e a do tecido macio.
E tinham à sua disposição uma coleção de brinquedos que nos custou mais de 200 dólares! Então, comecei a fazer brinquedos com os quais pensava que os gémeos iriam gostar de brincar. Nessa altura, os meus antigos clientes [de quadros] procuraram-me para saber se tinha novidades.
Expliquei-lhes que não tinha obras novas e que me dedicava a fazer brinquedos para os meus filhos. Mostrei-lhes, eles gostaram e sugeriram que publicasse o que fazia num site. O [blogue] Made by Joel, que já tem mais de 100.000 visitas por mês, tem vindo a crescer graças ao passa-palavra.
É fácil desenvolver a criatividade infantil? Pelo que diz, parece que as crianças ficam encantadas com as coisas mais corriqueiras…
Sim, concordo totalmente. Os meus filhos brincam com coisas que não são brinquedos, como a pá do jardim, os copos de medição... Brincam com objetos do quotidiano, que não são projetados para serem brinquedos, de formas muito criativas. É surpreendente e fascinante.
Para mim, é interessante observar as crianças a interagirem com as coisas, porque não têm conhecimento prévio do que é suposto fazerem com qualquer objeto. Estão a descobrir tudo pela primeira vez, com um olhar totalmente novo. A partir de um ano e meio, as crianças já começam a interagir com as coisas, pelo que costumo sugerir aos pais que comecem a dar-lhes ferramentas com as quais possam ser criativas.
Que tipo de ferramentas?
Material de desenho, plasticina, brinquedos, objetos para empilharem e construírem coisas... Hoje em dia, os iPads e iPhones vão parar às mãos de crianças cada vez mais pequenas. Não acho que seja um problema, a menos que só mexam nesses aparelhos. A minha filosofia é moderação em todas as coisas.
O objetivo principal do Made by Joel é ajudar os pais a envolverem os seus filhos nas artes, ensinarem-lhes a fazer brinquedos com uma embalagem de cereais ou apenas com uma impressão do computador.
As crianças devem fazer atividades que promovam a criatividade de uma forma mais óbvia, como a dança?
Atualmente, os meus filhos mais velhos têm aulas de espanhol, música e artes plásticas, que nem todas as escolas públicas oferecem. Mas, antes de transitarem para o primeiro ciclo, andaram numa escola que aplicava o método Montessori.
Na sala de aula, cada objeto tinha uma função e devia ser usado de uma maneira muito específica. Isto vai contra tudo o que eu sempre lhes ensinei, que os brinquedos e objetos podem ser utilizados de maneiras muito diferentes. É importante que haja um equilíbrio e que também aprendam a maneira correta de brincar com certos objetos.
Devemos decorar os espaços de forma a contribuírem para a capacidade criativa das crianças?
Descobri que, quando um quarto tem uma decoração minimalista, está limpo, organizado e há poucas coisas à vista para as crianças poderem brincar, é quando estão mais concentrados e interagem com os objetos de uma forma significativa. Com coisas espalhadas pelo chão, distraem-se facilmente.
Eu não me preocupo com a decoração, desde que a quantidade de objetos seja a mínima e essencial. Mais importante do que a decoração, é conseguir manter as divisões limpas e organizadas, convidativas para brincar. Sou apologista de os deixar pintar nas paredes e, por isso, temos um muro grande no jardim onde as crianças podem desenhar a giz.
Os seus filhos reutilizam os brinquedos que fazem ou expõem-nos?
Depende. Às vezes fazem coisas e deixam-nas penduradas durante algum tempo. Na maioria das vezes, fazem objetos e brincam com eles. Os meus filhos sempre me viram a fazer brinquedos. Estão sempre a inventar brinquedos e a transformar as coisas em brinquedos.
Há uma correlação entre ser-se criativo, ter sucesso académico e ter uma carreira de sucesso?
Absolutamente. Tudo o que fortalece a nossa confiança no início da vida é importante. Metade da satisfação, quando somos pequenos, é fazermos o nosso próprio brinquedo e brincarmos com ele. É divertido e gratificante, porque sentimo-nos bem por termos concluído uma tarefa. Isso gera confiança! Quando somos criados assim, de certeza que nos ajuda mais tarde.
Quais os materiais que todos os pais devem ter em casa para estimular a criatividade?
Alguns dos meus materiais favoritos são o papel de computador, lápis de cor, lápis de cera, canetas, tesoura, cola, fita-cola, caixas de cereais vazias... Podemos fazer objetos tridimensionais e colori-los. E são materiais acessíveis para a maioria das famílias! Quanto aos brinquedos à venda nas lojas, há muitos que ajudam a desenvolver a criatividade. Adoramos a Lego! O meu filho coleciona-os. Mas é um brinquedo muito caro.
Texto: Filipa Basílio da Silva
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