Acompanhando, entre Porto e Braga, uma média de 100 grávidas e famílias por mês, a associação assenta a sua intervenção nas áreas da prevenção, acompanhamento de proximidade, capacitação e autonomia, referiu à agência Lusa a presidente da Vida Norte, Isabel Pessanha Moreira.

Tendo surgido como "uma resposta social que não existia e que hoje formalmente continua a não haver, ou seja, dar resposta à gravidez não planeada a mulheres fragilizadas", na Vida Norte sente-se, duas décadas volvidas, que o "problema persiste", frisou a responsável.

Neste percurso, o crescimento da associação foi gradual e depois de há cerca de um ano e meio ter aberto uma delegação em Braga, é através de "entidades sociais, como as juntas de freguesia ou centros de saúde que referenciam a Vida Norte, que fazem com que seja mais fácil as grávidas chegarem" à instituição.

Numa leitura social, a coordenadora Mafalda Bastos garante que "a pobreza e a exclusão social são transversais a grande parte das famílias" que apoiam, mas com uma nuance para pior.

"O que é hoje diferente é a orgânica familiar, que faz com que haja uma solidão muito maior, dado a rede de apoio ser menor", salientou Mafalda Bastos, lembrando que há 20 anos "era mais comum haver uma avó ou uma mãe disponível".

Desenvolvendo a sua faixa de intervenção em mulheres entre os 20 e os 24 anos, a Vida Norte apoia também grávidas entre os 14 e os 18 anos, explicando Isabel Pessanha Moreira manter-se o facto de que "quando uma mulher engravida, normalmente está em trabalho precário e acaba por perdê-lo, o que a deixa ainda mais fragilizada".

Hoje não são apenas as portuguesas a procurar a Vida Norte, afirmando a coordenadora que "25% das grávidas que procuram a associação são estrangeiras como cabo-verdianas, marroquinas, indianas, ucranianas, nepalesas e brasileiras".

Enfatizando ser o "grande foco da Vida Norte a capacitação", decorrendo, para tal, "ações de formação promovidas pelo Hospital da CUF quinzenalmente sobre várias temáticas da gravidez e maternidade", o 20.º aniversário, disse a presidente, será de "aposta ainda mais na empregabilidade".

Contando com empresas parceiras como garantia do seu funcionamento diário, a Vida Norte, segundo Mafalda Bastos, está a recorrer a essas entidades, "que estão mais sensíveis à causa, para tentar integrar a mãe ou o pai no mercado de trabalho, assim conseguindo a autonomia das famílias".

E de um trabalho profissional, envolvendo psicólogas e assistentes sociais, com o suporte de muitos voluntários, a presidente elencou à Lusa os apoios efetuados em 2018: 227 pedidos de ajuda e 146 grávidas apoiadas.

"No acompanhamento de proximidade, pós-parto, foram 187 famílias além de um apoio pontual a mais 45, através da entrega de enxovais e cabazes de alimentos", acrescentou.

Apesar da vontade de cumprir o terceiro e quarto temas das áreas de intervenção, a capacitação e a autonomia, Mafalda Bastos reconheceu que nem tudo correu sobre rodas nos 20 anos da associação, dando conta de um "número preocupante" de pessoas que recusou ajuda quando lhes foi apresentado o compromisso.

"Para nós, o que faz sentido é capacitar e a primeira coisa que fazemos quando as mães nos procuram é apresentar esse projeto, que implica um compromisso grande das famílias", explicou a coordenadora, revelando que "30% dessas pessoas recusaram-no e nem sequer passaram do atendimento".

Desta percentagem "são mais as portuguesas a recusar", explicando que, "provavelmente as estrangeiras precisam mais, e talvez queiram mais, receber este apoio e compromisso, pois para elas as sessões de capacitação são também momentos de companhia para quem está sozinha em Portugal".