Tornar-se mãe é uma transição repleta de descobertas, desafios e momentos inesquecíveis. As primeiras semanas após o parto, também designadas de puerpério, correspondem a um período de adaptação física e emocional, tanto para a mãe como para o/a bebé. Alguns desafios do puerpério incluem a recuperação física pós-parto e a adaptação do corpo ao pós-gravidez, labilidade emocional (ora triste, ora feliz e emocionada com a criança nos braços, ora alegre, ora incomodada), aprender a conhecer o/a bebé e a interagir com ele/a tendo em conta as suas necessidades, bem como acrescentar os cuidados com a criança (alimentação, higiene, interação, entre outros) a um estilo de vida preexistente, sem se esquecer de si própria e das suas próprias necessidades.

Para a/o bebé, esse período corresponde ao que alguns autores designam de 4º trimestre de gravidez, período em que se está a adaptar a este mundo “gigante” depois de meses na barriga da mãe. Nessa adaptação a sua necessidade de colo/ aconchego é estruturante. Perceber as necessidades dele/a e também da mulher nesta fase prepara-a e também à família para as mudanças que ocorrerão e alerta para a necessidade dela ter apoio para que sinta que tem a disponibilidade necessária não só para a sua adaptação/recuperação, mas também para poder cuidar de si e da criança de acordo com as suas expectativas.

Participar em Programas de Preparação para o Parto e Parentalidade (PPPP), pode promover confiança e sucesso nos cuidados e na resolução de algumas situações, bem como garantir a disponibilidade de profissionais de saúde, nos quais já confiam, para esclarecimento de dúvidas ou sugestão de estratégias direcionadas a cada família. Nesse processo parece-me fundamental – entre outros - incluir a consciencialização sobre eventuais mudanças após o nascimento promovendo a igualdade de género, gerir expectativas sobre comportamentos de recém-nascido/a(s) e salientar a importância da divisão de tarefas (de cuidar e domésticas), bem como promover a reflexão e eventual organização de tarefas e de uma rede de suporte.

Averiguadas com a família as suas expectativas e ciente das adaptações e necessidades da mãe e bebé no pós-parto, bem como da importância de serem cuidados/as, faz-me sentido promover também a reflexão não só sobre a organização de tarefas de casa, como sobre a criação de uma rede de apoio/ suporte para – pelo menos – o primeiro mês. No fundo, no que concerne à organização da casa, fazerem uma lista de tarefas domésticas imprescindíveis e articularem-se para as cumprir, procurando – acima de tudo – não ser muito exigentes com pormenores. Podem também pensar nos cuidados à criança, pensando em tarefas de cuidar que possam ser compartilhadas (para além da amamentação, tudo pode ser compartilhado nos cuidados).

A rede de apoio/ suporte composta pelos/as amigos/as e familiares disponíveis para ajudar, mas também de profissionais de saúde e/ou outros que possam acolher a familia em diferentes situações.  Essa rede procura garantir que a família não está sozinha na adaptação à parentalidade/ recuperação pós-parto, podendo estar mais relaxados para viverem esta fase de uma forma mais tranquila, dentro de um conjunto de ajustes. Esse grupo pode organizar-se para fazer umas compras, passar a ferro, ajudar nas limpezas, ficar com a criança para os pais fazerem um programa social, entre outros. Essas pessoas deverão inclusive poder ter acesso a algumas das informações que são adquiridas no PPPP para que possam estar na mesma linha de pensamento em relação aos cuidados não só à/ao bebé, mas também à mulher, para que esta possa confiar e delegar.

Um artigo da enfermeira Bárbara de Morais Sousa, especialista em saúde materna e obstétrica, especialista em igualdade de género, conselheira em aleitamento materno e sono materno infantil e parceira das Conversas com Barriguinhas.