Uma gravidez feliz, uma gravidez saudável é, antes de mais, uma gravidez que foi preparada.

 

Uma gravidez que implicou a adoção antecipada de novos hábitos e a perfeita noção de que parte dos problemas que o casal enfrenta para conseguir engravidar pode ser evitada.

Esta é a ideia central da obra «Quero um bebé», assinado por Marilyn Glenville, no qual partilha com os leitores um plano de pré-conceção de quatro meses que promete ajudar os casais a enfrentar ou a escapar da infertilidade. Se deseja ser mãe no futuro ou se está a tentar engravidar, aceite um primeiro conselho. Não perca as respostas que se seguem desta nutricionista.

O que explica o aumento do número de casais afetados pela infertilidade?

Essencialmente, a combinação do estilo de vida (o tabaco, o consumo de álcool, o facto de as mulheres adiarem a maternidade por motivos profissionais ou porque não encontraram o homem certo) e fatores ambientais, como os xenoestrogénios produzidos pela indústria dos plásticos e pesticidas (que são compostos que afetam o equilíbrio hormonal de ambos os sexos), assim como o facto dos casais não se alimentarem corretamente e terem um consumo deficitário de nutrientes que potenciam a fertilidade.

Apesar de todas essas condicionantes, quando o casal não consegue conceber, a mulher tende pensar que a culpa é sua...

Cerca de 30 por cento dos problemas de fertilidade têm origem no homem, 40 por cento são associados à mulher e 30 por cento são casos inexplicáveis. Defendo que as consultas de infertilidade devem incluir os dois elementos do casal.

O homem, que geralmente associa fertilidade a virilidade e tende a sentir-se menos homem se não consegue engravidar a parceira, não se pode esquecer que contribui em 50 por cento para a saúde do bebé assim como para a gravidez.

Que mulheres têm mais probabilidade de vir a ter dificuldade em engravidar?

A fertilidade feminina decresce intensamente a partir dos 35 anos. As mulheres nascem com cerca de dois milhões de folículos, na puberdade têm cerca de 750 mil e aos 45 anos já só restam dez mil. Embora não possam alterar estes números, podem certamente influenciar a sua qualidade.

Através da alimentação e de mudanças ao nível do estilo de vida estão a dar a si mesmas melhores possibilidades de engravidar de forma natural e de evitar um aborto. Para além disso, se tiverem de recorrer a tratamentos de reprodução medicamente assistida, o ideal é que os óvulos estejam o mais saudáveis possíveis para que a técnica possa surtir resultados.

Há outros fatores negativos?

As drogas e também alguns fármacos afetam a fertilidade (como os usados para a hipertensão ou gota), pelo que é importante conversar com o médico sobre a sua suspensão ou a possibilidade de mudar de medicação. O facto de a menstruação ser irregular também pode ser um problema pois a mulher não sabe quando é o período da ovulação.

A pílula interfere na fertilidade?

São necessários cerca de três meses para que o organismo consiga eliminar o efeito da pílula. Para algumas mulheres, deixar de a tomar torna-as mais férteis, para outras pode demorar algum tempo até que tenham a menstruação. As mulheres que usam este método contracetivo podem apresentar baixos níveis de vitamina B2, B6 e B12, assim como de ácido fólico (tão importante para a gravidez, devendo ser tomado três meses antes da conceção).

Também se sabe que a pílula afeta os níveis de cobre e zinco, este último crucial para o bom funcionamento do sistema reprodutivo e o mais importante mineral para a fertilidade.

Até que ponto é que a idade também afeta a fertilidade masculina?

A fertilidade masculina decresce com a idade. As pesquisas demonstram que nos homens com mais de 35 anos o número de espermatozoides é menor assim como a sua mobilidade.

Por outro lado, o organismo do homem, a partir dessa idade, deixa de ser tão eficiente na deteção e destruição de espermatozoides danificados, existindo mais erros no ADN. Isto significa que há menor probabilidade de se engravidar, maior probabilidade de aborto ou de ter um bebé com deficiências congénitas.

Da sua experiência, quais são os principais erros que os casais cometem quando estão a tentar engravidar?

O tabagismo é um deles e está associado à infertilidade feminina. Pode inclusivamente contribuir para uma menopausa antecipada mas também reduz o número de espermatozoides, tornando o esperma mais lento e pode aumentar o número de espermatozoides anormais.

O álcool também afeta ambos os sexos, podendo reduzir a fertilidade para metade. E quanto mais se bebe mais difícil se torna engravidar.

Qual o impacto do consumo de álcool?

Um estudo demonstrou que mulheres que consumiam menos de cinco unidades de álcool por semana (o correspondente a cinco copos de vinho) tinham o dobro da probabilidade de engravidar, em seis meses, do que as que bebiam mais. As investigações também revelaram que o álcool provoca uma diminuição do número de espermatozoides, o aumento de espermatozoides anormais e a sua baixa mobilidade. O álcool também inibe a capacidade do organismo absorver nutrientes como o zinco.


Deve-se interromper de forma súbita o consumo de álcool e tabaco ou gradualmente?

O casal deve fazê-lo imediatamente. Podem esperar resultados ao fim de três meses, o tempo que é necessário para que o óvulo amadureça e novos espermatozoides se desenvolvam.

Que outros alimentos podem afetar a fertilidade?

A cafeína, particularmente sob a forma de café. As mulheres que bebem café têm três vezes mais dificuldade em engravidar, no prazo de um ano, do que as que não o bebem. Um estudo revelou, por exemplo, que os problemas com a quantidade, mobilidade e qualidade do esperma aumentavam com a quantidade de café consumida diariamente.

É importante eliminar todas as fontes de cafeína pelo menos três meses antes de se tentar engravidar, o que inclui colas, chocolate, chá preto, entre outros alimentos.

O peso pode atuar como um elemento negativo?

As mulheres são mais férteis quando não são nem muito magras nem muito pesadas. Precisam de cerca de 18 por cento de massa gorda para a ovulação ocorrer e têm maior probabilidade de engravidar se esta constituir 20 ou 25 por cento do seu peso.

Por outro lado, o ciclo menstrual pode ser perturbado pelo excesso de gordura, afetando os níveis de estrogénio.

 

Ter mais 25 por cento em relação ao peso ideal pode travar a ovulação. Também é importante que o homem vigie o seu peso pois o excesso deste ou obesidade aumentam o risco de infertilidade ou a qualidade e quantidade de espermatozoides.

Para além de ser uma consequência, a ansiedade que assalta os casais durante este processo pode ser uma causa da dificuldade em engravidar?

O stress pode ocasionar menstruações irregulares ou amenorreia (a sua ausência), assim como pode afetar o equilíbrio hormonal masculino e causar uma baixa quantidade de espermatozoides, redução da sua mobilidade e originar espermatozoides anormais.

Tenho acompanhado mulheres com menstruações irregulares ou amenorreia e não se tratam de casos de stress extremo. A tensão diária é o suficiente para as afetar.

Há uma explicação para isso?

Este mecanismo parece ser uma forma da natureza evitar a gravidez numa altura em que a mulher tem dificuldades em gerir a situação. Os casais que tentam ter um bebé estão, de facto, expostos a elevados níveis de stress (especialmente se se estão a sujeitar a um tratamento) e quanto mais tempo demoram a alcançar resultados mais ansiosos ficam, o que por si só promove o stress que inibe a fertilidade e afeta o desejo sexual.

 

O que pode ajudar os casais a estimular a libido?

É importante que cumpram os princípios de uma dieta que promova a fertilidade, de forma a combater a fadiga, que é um sintoma de carência nutricional. A vitamina B, o zinco (as ostras são ricas neste nutriente) e o selénio são cruciais para a libido, assim como também o exercício físico pode ajudar, ao promover o bem-estar psicológico e ao melhorar a autoimagem. A aromaterapia defende que alguns aromas como o do jasmim, rosa e sandalo têm um efeito afrodisíaco. E, claro, devem também controlar os seus níveis de stress.

Como o podem fazer?

Qualquer programa de gestão de stress deve começar por um plano alimentar saudável. Se os níveis de açúcar no sangue estiverem frequentemente baixos o organismo começa a produzir adrenalina, a hormona do stress. Para os manter equilibrados deve comer-se pouco e frequentemente e eliminar o açúcar, a cafeína e os alimentos refinados.

Em termos hormonais, o que acontece quando estamos sob muita pressão?

A glândula suprarrenal produz em excesso as hormonas do stress, adrenalina e cortisol, e testosterona, que favorecem menstruações irregulares e fertilidade reduzida. Estas glândulas dependem da vitamina C, B5 e B6, zinco e magnésio e ficam esgotadas quando o organismo está sob stress, pelo que é positiva a toma de suplementos multivitamínicos e minerais. Aconselho ainda a pratica de exercício regular e que se durma pelo menos oito horas por noite. Ioga ou meditação podem também ajudar.

O timing das relações sexuais é fulcral para quem está a tentar engravidar. Que conselhos pode dar?

Uma vez que o óvulo apenas sobrevive 24 horas e o esperma sete dias no muco alcalino, temos apenas um breve período para conceber.

 

Algumas mulheres produzem muco fértil somente um ou dois dias por mês pelo que é essencial saber quando tal está a ocorrer.

É muito fácil ter relações sexuais na altura errada e não tão frequentemente quanto o necessário. Na altura da ovulação, o melhor é ter relações sexuais dia sim, dia não de forma a maximizar o volume de esperma.

 

Um dos capítulos do seu livro é dedicado ao uso de suplementos nutricionais. Há casos em que possam ser perigosos?

Um estudo constatou que mulheres que tomavam diariamente elevadas doses de retinol (vitamina A que se encontra em alimentos de origem animal) aumentavam a probabilidade de ter um filho com deficiências. O estudo documenta que o betacaroteno (forma vegetal da vitamina A) é mais seguro.

Aparentemente os retinoides (a versão animal), e não os carotenoides (a versão vegetal), são a causa das deficiências congénitas. É melhor evitar suplementos de retinol durante a conceção assim como fígado e óleo de fígado de bacalhau que contém elevados níveis desta vitamina.

Defende que as medicinas alternativas podem ser úteis contra a infertilidade. Quais as conclusões dos estudos científicos?

Investigadores da Weill Cornell Medical Center de Nova Iorque concluíram que a acupunctura é eficaz na redução das hormonas do stress que afetam a ovulação, normaliza as hormonas que regulam a ovulação, promove a circulação sanguínea uterina, aumentando a probabilidade de um óvulo fecundado se implantar, melhora os ciclos menstruais em mulheres com síndrome dos ovários policísticos e aumenta a taxa de gravidez das mulheres que se sujeitam à fertilização in vitro.

Estudos preliminares indicam que o tratamento homeopático não só pode ajudar mulheres inférteis a engravidar, mas também a repor os níveis hormonais e a prevenir abortos. Uma outra investigação demonstra que pode potenciar a fertilidade masculina.

 

Texto: Nazaré Tocha