A atriz Paula Neves e a apresentadora, empresária e galerista Raquel Prates são apenas duas das figuras públicas portuguesas que já admitiram publicamente ter dificuldades em engravidar. Nos últimos anos, os tratamentos de infertilidade tornaram-se mais seguros e aumentaram a taxa de êxito, mas o crescente número de situações de depressão, stresse, cansaço e excesso de trabalho está a levar os portugueses a fazer menos sexo, o que acaba por ter repercussões em termos de fertilidade, como adverte Ana Pereira, psicóloga na AVA Clinic, em entrevista.
Quais os maiores desafios que representam os tratamentos de fertilidade e de procriação medicamente assistida para as pessoas que têm vontade de ter filhos? E para os especialistas?
Tomar consciência que existe um problema de fertilidade no casal é, na maioria das vezes, recebido com choque e com dificuldade de enfrentar essa realidade. Não é incomum que de imediato se tente recorrer a estratégias e receitas, muito por conta dos comentários de senso comum para que se relaxe ou se tire férias. É muito comum que a relação conjugal e sexual sofra alguns impactes negativos, o que leva ao receio que o casamento fique em perigo.
Poderá haver algum isolamento social, pois o casal evita o contacto com outros casais com crianças, grávidas, aniversários, etc. Dado que a maior parte dos casais tem dificuldade em partilhar com estranhos a sua infertilidade, acabam por não receber o apoio que tanto precisam nesta fase. Quando iniciam os tratamentos de fertilidade, os casais confrontam-se com tratamentos que são invasivos e causam tensão emocional.
Outro dos fatores é a incerteza sobre o resultado final do tratamento, apesar das boas taxas de sucesso. Não sendo demais clarificar que o stresse e ansiedade não interferem no sucesso dos tratamentos, é verdade que a vivência da infertilidade causa muito stresse, mas ele surge como uma consequência da situação que o casal vivencia.
As sociedades ocidentais de hoje são sociedades stressadas. O stresse prejudica a assim tanto a fertilidade?
A intervenção dos psicólogos na área da infertilidade teve o seu início em meados dos anos da década de 1950, num período em que a taxa de infertilidade de causa idiopática era muito mais elevada do que na atualidade. Por esse motivo, uma primeira linha de investigação na área da psicologia teve como objetivo avaliar se a ansiedade e stresse poderiam ser a causa da infertilidade. Desde então, inúmeros estudos têm mostrado que o stresse e ansiedade não são causa de infertilidade.
Níveis muito elevados e constantes de stresse podem contudo levar a um período de tempo mais alargado para se conseguir a gravidez. A maior parte das mulheres passa por eventos de vida bastante penosos ou situações familiares e profissionais complicadas, sem que o seu ciclo menstrual sofra alterações. Contudo, basta que haja uma diminuição da frequência ideal de relações sexuais, provocada por depressão, pelo stresse, pelo cansaço e/ou excesso de trabalho, entre outros, para que a gravidez tarde.
Texto: Luis Batista Gonçalves
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