O nascimento da primeira criança por uma técnica de Procriação Medicamente Assistida resultou de um tratamento de Fecundação In Vitro (FIV) realizado em Inglaterra, em 1978, a Lesley Brown, uma mulher de 30 anos com as trompas obstruídas e que há 9 anos lutava para ser mãe. A bebé Louise tem hoje quase 35 anos e já foi, ela própria, mãe de uma criança nascida em 2006 de conceção natural.
O primeiro bebé-proveta português foi Carlos Saleiro, hoje futebolista da Académica (tendo também já representado o Sporting e jogado dezenas de vezes nas seleções nacionais de futebol nos escalões jovens), que nasceu em 1986, na sequência de um tratamento de FIV realizado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Atualmente, realizam-se todos os anos centenas de milhares de ciclos de FIV em todo o mundo, sendo este um procedimento seguro, bem estabelecido, com uma excelente percentagem de sucesso e que já ajudou a nascer milhões de crianças.
Na FIV os óvulos são recolhidos a partir dos ovários da mulher, sendo de seguida fecundados com espermatozóides em meio laboratorial. Os embriões assim obtidos são posteriormente transferidos para o útero. Assim, este é um procedimento em que a fecundação ocorre fora do organismo da mulher. As expressões “bebé proveta” ou “fertilização in vitro” utilizadas em linguagem comum surgem exatamente devido ao facto do(s) óvulos(s) ser(em) fertilizados em laboratório, ao contrário do que acontece naturalmente.
Em que consiste a Fecundação in Vitro
A realização de um ciclo de FIV é um processo que envolve vários passos complexos. A mulher começa por ser submetida a tratamento com medicamentos indutores da ovulação (Gonal F, Puregon ou Menopur, por exemplo), administrados por via injetável. São estes que vão estimular os ovários a produzirem mais óvulos que o habitual.
O desenvolvimento dos óvulos é seguidamente controlado através da realização periódica de ecografias e análises ao sangue (para determinar os níveis de algumas hormonas associadas ao processo de desenvolvimento dos óvulos). Quando se verifica que os folículos já estão suficientemente desenvolvidos e com elevada probabilidade de conterem no seu interior um óvulo maduro, é administrada uma injeção de outra hormona (gonadotrofina coriónica humana – hCG, cujo nome comercial é Pregnyl ou Ovitrelle), cuja função é provocar a libertação dos óvulos a partir dos ovários.
Nesta fase o tempo tem um papel fundamental: a punção (operação de recolha dos ovócitos a partir dos ovários) deverá ser realizada 35 a 36 horas após a administração da hCG. Ou seja, é muito importante que os casais respeitem as horas indicadas pelo ginecologista para administração das várias injeções, pois um erro a este nível pode pôr em causa todo o processo de tratamento.
A punção é feita com controlo ecográfico e consiste na introdução na vagina de uma agulha muito fina, que irá permitir a recolha de ovócitos a partir de cada um dos ovários. Esta operação é realizada sob sedação e dura cerca de 15 minutos.
No mesmo dia da punção, será pedido ao homem que recolha esperma na clínica, para que este possa ser utilizado no procedimento (embora também seja possível a utilização de esperma previamente congelado). Depois de obtido, o esperma é centrifugado a alta velocidade e sujeito a uma série de processos de tratamento, de modo a selecionar os espermatozóides mais fortes e com melhor capacidade de fecundação.
Após a punção, os ovócitos são transferidos para meios de cultura no laboratório, sendo posteriormente postos em contacto com os espermatozóides para que ocorra a fertilização, com formação de embriões. Uma vez obtidos, os embriões (normalmente apenas dois) são transferidos para o útero da mulher, para que se implantem e dêem origem a uma gravidez.
Habitualmente os embriões são transferidos entre dois a três dias após a fecundação. Nos casos em que existem vários embriões de boa qualidade a transferência poderá ser feita ao quinto dia, não tendo os casais qualquer custo adicional com a cultura prolongada.
Os embriões excedentários, que não foram utilizados no tratamento e apresentem condições de viabilidade, podem ser congelados e utilizados num ciclo a realizar posteriormente (nos casos em que o casal pretende ter um segundo filho, ou se a primeira tentativa falhar), podem ser doados para investigação científica, podem ser doados a outro casal ou podem ser destruídos, cabendo ao casal a decisão sobre o seu destino, desde que respeitadas as condições previstas na lei.
A partir do dia da punção, a mulher começa a aplicar progesterona (em comprimidos vaginais ou gel), de modo a preparar o endométrio para que a implantação dos embriões possa ser bem sucedida.
Para que serve a Fecundação in Vitro
Existe indicação para FIV nos casos de:
- Infertilidade inexplicada;
- Disfunção ovulatória moderada a grave;
- Obstrução de trompas (também no caso das mulheres que fizeram laqueação de trompas);
- Insucessos repetidos em ciclos de inseminação intrauterina realizados previamente;
- Infertilidade causada por factor masculino de gravidade moderada Por se tratar de um tratamento em que o processo de ovulação e a probabilidade de fecundação são otimizados, bem como a probabilidade de implantação no útero de um ou dois embriões, a fecundação in vitro é uma alternativa com excelentes probabilidades de sucesso e que permite resolver o problema de uma grande parte dos casos de infertilidade.
As taxas de sucesso da Fecundação in Vitro
As taxas de sucesso da FIV são bastante variáveis e dependem essencialmente de dois fatores: a causa de infertilidade e a idade da mulher. Quanto mais complicado for o diagnóstico de infertilidade e mais velha for a mulher, menor será a probabilidade de sucesso do tratamento. No caso dos homens, a idade não será tão relevante, embora a probabilidade de sucesso seja maior em homens mais jovens.
Na generalidade dos relatórios internacionais mais recentes, as taxas de sucesso para os ciclos de FIV com embriões frescos (gravidez clínica confirmada ecograficamente por transferência de embriões) são de cerca de 30-35% e para os ciclos com embriões congelados rondam os 20% (Registos Europeus da ESHRE).
Embora muitas vezes as taxas de sucesso dos tratamentos de PMA tendam a ser consideradas demasiado baixas, não nos devemos esquecer que nas situações em que há conceção natural a probabilidade de sucesso é semelhante: apenas 20 a 30% das tentativas resultam em gravidez.
Por outro lado, é importante que os casais tenham em conta que a probabilidade de terem realmente um filho é ligeiramente mais baixa pois, tal como acontece nos casos em que a conceção se faz do modo natural, algumas mulheres não conseguem levar a gravidez a termo e correm o risco de abortar espontaneamente.
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