Existem doenças e patologias que podem condicionar uma futura gravidez. É o caso da doença bipolar, uma situação que preocupa Teresa Carvalho.
«Tenho 45 anos e o meu marido 47. Não tenho filhos, casei há três anos e gostaríamos muito de ter um filho. Mas tenho algum receio, não só pela minha idade, mas porque sou bipolar do tipo II», assume esta empregada de balcão.
«Fiz os exames pré-natais, estava tudo normal. Já falei com a minha psiquiatra e comecei o desmame da medicação. Quando estiver grávida (se conseguir...) só tomarei Sedoxil. O que me causa receio são os riscos relacionados com a minha idade e a falta de medicação. Mas gostaria muito que me desse a sua opinião sincera e profissional sobre a nossa vontade de sermos pais e quais os riscos para mim e para o bebé», questiona.
O psiquiatra Mário Simões responde. «Compreendo bem que deseje ter um filho, pois é uma experiência maravilhosa. No entanto, no seu caso existem questões a ponderar muito bem, o que aliás faz referindo a idade e a paragem da medicação», alerta o especialista.
A idade avançada aumenta o risco de nascerem crianças com síndroma de Down e acarreta maiores dificuldades no parto, daí a necessidade de uma vigilância redobrada. «Quanto à primeira, poderá fazer despiste com amniocentese, também útil para despistar outras alterações genéticas. Depois é uma opção sua ir para a frente com a gravidez. O segundo aspeto pode ultrapassar-se com uma cesariana, que recomendaria dada a idade e o facto de ser o primeiro filho», explica Mário Simões.
Além desse aspeto, coloca-se a questão gravidez e bipolaridade. «É uma mistura explosiva pois, apesar do desmame do lítio ser lento (o que está correto), o risco de recaída é muito elevado (em 100 pessoas, na sua situação, cerca de 70 recaem) não só durante a gravidez como também após o parto», refere o especialista.
«Conte, pois, quase de certeza, com uma crise, mesmo estando estável há anos, por isso se propõe que se continue o lítio até saber que está grávida e só depois interromper e retomar após o terceiro mês e não amamentar. Existem blogs na Internet de mães nas suas circunstâncias, que mesmo perante as dificuldades enunciadas, decidiram ter uma criança e escrevem sobre a sua gravidez e pós-parto», acrescenta.
«Um artigo científico de excelente qualidade sobre estes riscos pode ser lido em http://ajp.psychiatryonline.org/cgi/content/full/164/12/1771. No entanto, um casal não se realiza e confirma no seu amor apenas pela paternidade e maternidade biológica. Estas podem ser do coração. Ponderem também, ambos, a hipótese de adotar uma criança», sugere ainda o psiquiatra.
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