Foi o que senti ao observar alunos do 10º ano a fazerem em palco, em apresentação pública, projetos que desenvolveram na sua turma, vindos de Quarteira, da Amadora, de Oeiras, do Porto.
Alunos e professores a demonstrarem como se pode aprender no respeito pelas pessoas que são, pessoas que têm voz, pessoas criativas e exigentes , capazes de escolher, de organizar, de planear, de fazer, de avaliar. Cada um, enquanto pessoa inteira e em cada turma, enquanto unidade em descoberta, em pesquisa, em aprendizagem e em sintonia na mais nobre das tarefas: formar e formar-se.
E o demonstraram ali para quem quisesse ver.
Num palco onde nunca tinham estado FAZEM coisas realizadas em aulas concretas. Mostram o caminho que pode ser feito na escola para APRENDER e ir entendendo o Universo na sua globalidade, para viver nele; mostram que só em conjunto e em relação afetiva se pode CRESCER como pessoa e como grupo; mostram que COMUNICAR pode ser muita coisa...
Puderam, em início de aula de Português, de História, de Inglês, de Geologia, de Educação Física, viver e sentir o corpo e ir crescendo em bem estar. Para isso fizeram exercícios simples para distender, descontrair, largar tensões, interagir com os colegas. Puderam abrir-se ao que vem de novo e tanta coisa foi. Um novo que não foi uma brincadeirinha, mas trabalho de APRENDIZAGEM sério e exigente que incluía todos. Estimulante, motivador, dinâmico, desafiador, partilhado, reflexivo, a puxar por todos os alunos e por cada um no que tinha para dar.As aulas foram uma simbiose de criação e aprendizagem, evidentes em tantos formatos diferentes, em que arte, corpo, trabalho manual e conteúdos curriculares se mostravam de mãos dadas. Foi vê-los em palco corporizar a poesia trovadoresca, conceitos da história do Egito, da Grécia, rochas sedimentares, vulcões, movimentos divergentes de placas tectónicas e tanto mais. Foi vê-los expor-se a falar inglês casando-o tão bem com os temas de Geologia ou de Português, como por exemplo apresentar países de expressão inglesa com interesse geológico.
Todos saíram da sua zona de conforto. A dupla de professores de diferentes disciplinas que trabalhou em conjunto com um artista, o próprio artista que se viu em ligação com uma turma e dois professores/disciplinas desconhecidos, os alunos habituados a estar sentados a ouvir.
Todos em processo de aprendizagem mútua, desatando nós em cumplicidade, sem esconder as dificuldades num processo que desconheciam, antes agarrando a oportunidade.
Como tão bem sabe a Gulbenkian só se pode mudar a educação mudando o funcionamento da sala de aula. Desde 2012 que, em Portugal, pondo de pé o projeto 10x10 professores e alunos mostram que é possível.
Maria de Lurdes Monteiro
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