O suor é uma resposta do organismo para reduzir a temperatura corporal. Nestes casos ele é generalizado, ou seja, por todo corpo. Quando isto se dá de uma forma localizada, geralmente nas palmas das mãos e/ou na axila e/ou na sola dos pés, estamos diante da Hiperidrose Focal, sendo a mais comum a palmar.
Crianças mais velhas e adolescentes com esta condição têm dificuldades em realizar os seus trabalhos académicos, por exemplo. Segurar uma caneta ou ter o papel sempre molhado tornam-se problemas. Num mundo em que a vida nos ecrãs se tornou “touch “ ter as mãos sempre molhadas é complicado. Do ponto de vista das relações interpessoais, um aperto de mão, a prática de desporto e mesmo tocar um instrumento musical tornam-se, por vezes, embaraçosos.
A Hiperidrose pode afetar até 3% da população e costuma ser um sintoma isolado. A causa deste distúrbio é uma resposta exacerbada do sistema nervoso que regula a temperatura corporal. Este sistema está localizado nos gânglios nervosos que se encontram entre as costelas, dentro do tórax. Para tratar este problema existem várias opções, seja ao nível do tratamento clínico ou tratamento cirúrgico. Vejamos:
O tratamento clínico da hiperidrose geralmente é temporário ou paliativo. O cloreto de alumínio, que é usado em vários antitranspirantes, teria de ser usado em concentrações muito altas e assim tornar-se-ia irritativo. As injeções de toxina botulínica, também conhecida como botox, são usadas nos casos de hiperidrose axilar isolada para desativar as glândulas sudoríparas axilares e os efeitos podem durar de 4 a 9 meses (esta opção não é efetiva na hiperidrose palmar). E, finalmente, os medicamentos anticolinérgicos, que reduzem a hiperidrose. Tem como inconvenientes os importantes efeitos colaterais como a sonolência, sintomas visuais, secura na boca e outras membranas mucosas, e, para ser efetivo, teriam de ser tomados ininterruptamente. Basta interromper a medicação e a hiperidrose retorna. A iontoforese, uma técnica que utiliza eletrodos, poderá ser uma solução mas ainda carece de estudos a longo prazo.
O tratamento definitivo da hiperidrose focal palmar é cirúrgico, e o procedimento minimamente invasivo designa-se de simpaticotomia torácica endoscópica. É considerado um procedimento seguro e eficaz, que reduz o suor excessivo das mãos em cerca de 95% das pessoas, sendo maior a percentagem no caso das crianças. Esta cirurgia, que pode ser realizada a partir dos 10 anos de idade, consiste na realização de duas microincisões de 5mm na região axilar e na introdução de uma câmara e de um instrumento que faz a secção de um daqueles nervos responsáveis pelo estímulo do suor. O procedimento é realizado nos dois lados do tórax, sob anestesia geral, não sendo necessário qualquer dreno e a alta pode ser dada no próprio dia ou no dia seguinte à cirurgia.
Por forma a diminuir possíveis efeitos secundários da cirurgia, apenas se secciona um nível nos gânglios que provocam o aumento do suor.
O efeito da cirurgia é imediato. Assim que se “corta” o gânglio, as mãos tornam-se secas. Não existe necessidade de tomar medicação a seguir à cirurgia, exceto analgésicos comuns durante três dias, no máximo. A criança pode retornar às atividades na semana seguinte, exceto desporto, que deverá ser suspenso por 4 semanas. As microincisões são fechadas com pontos de reabsorção espontânea, não sendo necessário retirá-los.
Como vimos, a hiperidrose focal tem solução. A melhor forma de lidar com o suor excessivo é procurar ajuda médica. É importante discutir todas as opções de tratamento possíveis com o seu médico, que o irá orientar para o tratamento mais indicado mediante cada caso.
Um artigo do médico Norberto Estevinho, Cirurgião Pediátrico no Instituto CUF Porto.
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