Nunca ou quase nunca é encarada como tal mas a dislexia é um dom precioso que, se for compreendido e estimulado, pode trazer inúmeros benefícios.

O pior é que a maior parte das pessoas não está preparada para isso, ou seja, é preciso perceber o que é, afinal, a dislexia, e estarmos atentos aos sinais.

Muitas vezes, só quando as crianças estão na escola é que se começa a dar atenção aos tais sinais e, nessa altura, pode-se entrar num círculo vicioso, isto é, a criança demonstra dificuldades de aprendizagem, o problema é atribuído a outras causas, a pressão começa a ser grande e leva a que a criança se isole, sentindo-se incompreendida.

Esse foi o caso, precisamente, de Ronald Davis, o autor do livro «O Dom da Dislexia - Porque é que algumas pessoas brilhantes não conseguem ler e como podem aprender», editado em Portugal pela Lua de Papel. Autista, foi alvo de chacota na escola e, contra todas as probabilidades, conseguiu libertar-se do isolamento em que vivia.

Aos 17 anos o seu QI era de 137 e, aos 19, a terapia da fala permitiu-lhe começar a expressar-se com coerência, o que não aconteceu com a leitura, já que era profundamente disléxico. Mas, em 1981, experiências relacionadas com as suas próprias perceções conduziram-no a uma descoberta, a de que era possível controlar e corrigir as distorções percetivas involuntárias que provocam a dislexia e, pela primeira vez na vida, conseguiu ler um livro inteiro.

Pouco depois, com a ajuda de uma psicóloga, desenvolveu um programa de correção da dislexia, fundou o Reading Research Council e, a partir dessa altura, os seus métodos revolucionaram as perspetivas da educação especial um pouco por todo o mundo. Com Alice Davis, sua mulher, Ronald Davis criou então a Davis Dyslexia Association International, atualmente presente em 44 países.