Se for perguntado a 100 crianças sobre os adultos mais importantes das suas vidas, a esmagadora maioria tem a resposta na ponta da língua: os pais.

 

Desde que nasce, pai e mãe são as principais referências do bebé, e a ligação torna-se cada vez mais forte à medida que o tempo passa. É os pais que traduzem o mundo para que a criança o possa compreender. São as suas acções que lhe servem de exemplo e é a eles que ela recorre para dissipar dúvidas, procurar conhecimento e afastar angústias.

 

 

Modelos perfeitos

 

Para qualquer criança pequena, não existem seres humanos mais perfeitos que os pais. A mãe é linda, carinhosa, cuidadora, uma autêntica fada e o pai é forte, destemido, pronto a ajudar, um autêntico porto de abrigo.

 

Os pais são os modelos preferenciais de comportamento e exemplo e, aos olhos dos mais novos, parecem todo-poderosos e infalíveis. Nas brincadeiras, é muito frequente as crianças mimetizarem as atitudes e respostas do pai e da mãe, reagindo às situações imaginárias da mesma forma que os adultos agem na vida real.

 

Conhecimento é poder

 

É também para o “farol pais” que a criança se vira na busca de conhecimento. São estes dois adultos de referência que ela espera terem todas as respostas para qualquer tema.

 

Não há altura em que este fenómeno seja mais evidente do que na chamada “idade dos porquês”. É perante a catadupa de perguntas que pai e mãe avançam, tendo de responder a todas, ou quase todas.

 

Desde questões simples e quotidianas às ideias mais abstractas e filosóficas, a criança faz uma pergunta, está à espera de respostas e não ficará satisfeita até obter uma explicação satisfatória.

 

Alguns adultos consideram esta etapa do desenvolvimento infantil particularmente desafiante. As questões multiplicam-se, a propósito de todos os assuntos e estímulos possíveis e imaginários e, muitas vezes, parecem faltar os argumentos – e até as forças – para responder sucessivamente.

 

Existem duas estratégias que frequentemente dão bons resultados. A primeira é responder apenas ao que a criança está a perguntar e adequar a informação à sua idade e maturidade. A segunda é admitir desconhecimento, quando é verdade.

 

No entanto, admitir não saber algo não significa que a conversa deva parar por aí. Todos ficarão a ganhar se os adultos garantirem que vão procurar informar-se. A criança continuará com dúvidas, mas terá a certeza de que os seus “pais heróis” tudo farão para a ajudar. E os “pais heróis” reforçam, mais uma vez, os laços afectivos e de confiança que os unem à sua criança.

 

 

Pais falíveis

 

É natural que, à medida que os filhos crescem, os pais percam o estatuto de perfeição e infalibilidade que detinham quando as crianças eram mais novas.

 

Abrindo-se para o mundo, para cada vez mais pessoas, para novos e diferentes estímulos exteriores ao círculo familiar mais íntimo, a criança apercebe-se que os pais não têm todas as respostas. E que são humanos, com todas as qualidades e defeitos que tal implica.

 

No entanto, abandonarem o pedestal de perfeição não significa que mãe e pai deixem de ser uma das grandes centralidades na vida dos filhos. Em especial se, até aí, foram criados laços fortes, baseados no afecto, na honestidade e na confiança.

 

É uma centralidade diferente, baseada não na admiração cega mas no reconhecimento dos valores, respeito e amor que unem a família. Em suma, os pais deixam de ser super-heróis imaginários para se tornarem heróis reais.

 

 

Maria C Rodrigues