Há muito que a expressão “gordura é formosura” caiu em desuso e, hoje, a visão de um bebé ou uma criança rechonchuda já não leva ninguém a dizer que está cheia de saúde. Antes pelo contrário. Família e médicos preocupam-se com o excesso de peso desde cedo, e com toda a razão. Os quilos que ultrapassam o razoável impedem o normal desenvolvimento infantil e podem causar danos irreparáveis.

 

A situação – especialmente nos países mais desenvolvidos economicamente – é tão grave que a obesidade é considerada a doença crónica com mais prevalência na população infantil.

 

 

Sedentarismo e alimentação

 

As raízes deste fenómeno são várias e radicam nas profundas alterações sociais acontecidas nas últimas décadas. A alimentação é cada vez menos equilibrada e calórica, com o predomínio de opções industrializadas, repletas de calorias, sal e açúcar.

 

Por outro lado, as novas gerações são cada vez mais sedentárias. As actividades ao ar livre ou com grande movimentação têm vindo a ser substituídas por opções de lazer onde predominam os equipamentos electrónicos. Em resultado, as calorias que são consumidas acabam por não serem gastas.

 

 

Riscos aumentados

 

Tal como acontece na idade, adulta, as crianças com excesso de peso têm maiores riscos de desenvolverem várias doenças associadas a esta condição. Hipertensão, alterações nos níveis de colesterol, diabetes e apneia do sono são as mais frequentes.

 

De acordo com os especialistas em endocrinologia pediátrica, é raro que a obesidade cause risco de vida na infância, mas a esperança de vida é drasticamente reduzida. Ou seja, os quilos a mais podem significar anos a menos.

 

Outros problemas causados por esta doença podem ser o agravamento de patologias respiratórias e alérgicas (com destaque para a asma), dores nas articulações, impossibilidade de fazer actividades físicas em contexto escolar e também desajustes psicológicos e sociais que, nos casos mais graves, podem desembocar em isolamento e até depressão.

 

 

Exemplos e prevenção

 

Habitualmente, os casos de obesidade infantil surgem em ambientes propícios. Ou seja, no seio de famílias em que a tendência para o excesso de peso afeta adultos e crianças. Esta não é uma relação causa-efeito que aconteça sempre, mas é mais provável que os mais novos ganhem maus hábitos alimentares e de exercício se os tiverem como exemplo.

 

O inverso também é verdadeiro. Se o pai e a mãe comerem de forma equilibrada e praticarem exercício físico, muito provavelmente os filhos farão o mesmo. Em resultado, toda a família terá o peso sob controlo.

 

Daí que a primeira linha de combate à obesidade é a prevenção. É muito mais fácil manter uma criança dentro dos parâmetros normais de peso do que levar uma criança obesa a emagrecer e a manter um peso saudável.

 

 

Tratamento precoce

 

O excesso de peso pode ser detectado bastante cedo, até em bebés. O tratamento passa pela reeducação alimentar, combinada com mudanças no estilo de vida que favoreçam o exercício físico e combatam o sedentarismo. Os benefícios serão para a criança e para toda a família, em especial se esta “batalha” começar de forma precoce.

 

Diminuir o consumo de alimentos altamente energéticos – como fritos, doces ou comida rápida – estipular horários para as refeições e cumpri-los, ou diminuir a quantidade que se coloca no prato são bons princípios.

 

Uma parte significativa das calorias que se ingerem a mais provém de aperitivos, guloseimas e bebidas pouco naturais, como os refrigerantes. Todos os pais sabem que é uma missão quase impossível cortar completamente com estas “tentações”, mas que tal reservá-la para ocasiões específicas, como os aniversários e outras datas especiais?

 

 

Maria C Rodrigues