Se ainda acha que não há problema em dar uma palmada ao seu filho, mais um estudo acaba de comprovar que nenhum tipo de agressão ajuda na educação das crianças. Pelo contrário. Pode prejudicar a saúde do seu filho a longo prazo.

 

Foi exatamente isto que investigadores da Universidade de Manitoba, em Winnipeg, no Canadá, descobriram, ao analisarem os dados de saúde pública fornecidos pelo governo canadiano de mais de 34 mil adultos entre 2004 e 2005.

 

De acordo com os cientistas, aqueles que sofreram algum tipo de agressão na infância, como bofetadas ou empurrões, apresentaram uma probabilidade maior de desenvolverem obesidade (31% contra 26%), artrite (22,5% contra 20%) e doenças cardíacas (9% contra 7%) do que aqueles que foram educados sem nenhum tipo de violência.

 

De acordo com a investigadora Tracie Afifi, que liderou o estudo, o resultado mostra uma associação entre a agressão e o desenvolvimento de problemas de saúde. Para os especialistas, a educação não passa, em nenhum momento, pela agressão física ou verbal.

 

«A bofetada intimida, dá medo, mostra quem é o mais forte. Bater reprime, não educa. Encurta a conversa – mata a possibilidade de que o diálogo exista. Bater cala a boca da discussão e desperta a mágoa», reflete Tracie Afifi.

 

Conhecer os limites

Quando a criança é agredida, sente-se humilhada e não consegue relacionar o motivo da violência ao que fez para provocar aquilo. Sente medo e isso pode gerar traumas no futuro.

 

«O stresse causado pela agressão pode, sim, provocar angústia, baixa autoestima, depressão. E quantos estudos já vimos que relacionam problemas emocionais à obesidade? Consequentemente, o excesso de peso pode causar outros problemas, como as doenças cardíacas e a artrite, que são relatadas no estudo», explica a autora do estudo, em comunicado.

 

E estas não são as únicas consequências que a violência física e verbal pode trazer à vida do seu filho. A criança que apanha também pode ter dificuldades em respeitar e receber ordens, já que foi controlada pela força física. Ou seja, ela aprendeu a obedecer para não apanhar ou somente depois de levar umas bofetadas. Assim, na ausência do castigo físico, perde as referências de até onde pode ir.

 

Não é só o seu filho que perde ao ser agredido. Quando se parte para a agressão, está a reconhecer-se que se ficou impotente diante da atitude da criança. Mostra claramente que perdeu o controlo de si mesmo e a agressão passa a ser a única maneira de manter a autoridade. Além disso, depois de bater muitos pais se arrependem. Esta atitude contraditória não é positiva para a criança.

 

 

Qual é a forma correta de educar?

Para o pediatra Paulo Oom, «os castigos, quando bem aplicados, atendem ao senso de justiça que todas as crianças têm, enquanto a falta de punição, pelo contrário, as desorienta.»

 

«Para aprender, o seu filho tem de entender a relação entre o que fez e a consequência. A punição deve acontecer no mesmo momento, pois as crianças têm uma visão imediatista: ainda não aprenderam a pensar a longo prazo», afirma o médico no seu livro Não te volto a dizer!

 

Na prática, isto significa que, assim que  o seu filho atirar o brinquedo para o chão durante um ataque de birra, o melhor a ser feito é tirar o objeto do seu alcance por alguns minutos. Com o passar do tempo, ele pode ficar sem TV, sem computador e sem outras coisas de que gosta e até o seu olhar sério e quieto vai ser suficiente para fazê-lo entender que aquilo que ele fez não foi correto.

 

Isto, sim, é educar!

 

 

Mais 4 razões para não bater no seu filho

Pais que adotam a palmada passam a mensagem de que os problemas podem ser resolvidos na base da força física.

 

Se a criança já não responde da mesma forma às palmadas, poderá iniciar-se uma sucessão de castigos físicos cada vez mais severos.

 

Quem apanha apresenta uma maior probabilidade de se tornar num agressor.

 

Nos casos mais graves, a criança pode desenvolver dificuldade de aprendizagem, atitude de medo em relação aos pais e sequelas físicas.

 

 

Maria João Pratt

 

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