O seu sucesso escolar depende muito da forma como se alimentam. Devemos, por isso, ter sempre cuidado com a sua alimentação. Mas, especialmente durante a época das provas de aferição e exames nacionais, devemos ter ainda mais cuidado com o que as crianças e os jovens comem para evitar eventuais falhas. Quando estudamos de forma intensiva, o cérebro precisa de mais energia do que o normal para pensar. O que não significa ingerir maior quantidade de comida, nem as crianças poderem ter o que lhes apetecer, como comida rápida, bolos e beber refrigerantes. Não comer ou comer mal, para um jovem em época de exames, «é como se o corpo pregasse uma rasteira e reduzisse a capacidade de atingir os objetivos», comenta Maria Paes de Vasconcelos, nutricionista.

Por isso, as crianças devem alimentar-se de forma ainda mais regular nesta altura do ano. Esta estratégia «permite a estabilização dos açúcares no sangue e isso faz com que o cérebro viva com mais conforto, com todos os substratos de que precisa», explica a especialista. Portanto, não devem comer a menos, nem a mais. Não existe uma solução mágica que faça com que os mais novos melhorem o rendimento intelectual instantaneamente. Contudo, é nosso dever, enquanto adultos, incutir uma alimentação saudável, equilibrada e variada, de modo a que as crianças sintam que estão sempre capacitadas e confortáveis para resolver as questões num teste.

Como favorecer o raciocínio

«Há alimentos que, estruturalmente, ajudam o cérebro a funcionar melhor», explica Maria Paes da Vasconcelos. Mas a nutricionista ressalva que não fazem milagres e, por isso, não é na semana dos testes que os devemos integrar na alimentação da criança ou do jovem. «Tem de se fazer durante todo o seu crescimento. É um investimento a longo prazo», defende. Para o efeito pretendido, que os mais jovens tenham sucesso escolar de modo a terem opções no futuro, a especialista recomenda que os pais lhes dêem refeições ricas em antioxidantes, pois «são importantíssimos para o cérebro». E, também, alimentos ricos em minerais, como o potássio e o magnésio, e vitaminas do complexo B.

Acima de tudo, os pais devem incentivar ao consumo de ácidos gordos ómega-3 (gorduras saturadas de cadeia longa), presentes nos peixes como o salmão, o carapau, a sardinha, o robalo ou a dourada. «Dão-nos 10 vezes mais deste nutriente estrutural (ómega-3) do que a pescada e o bacalhau», comenta. Porém, a nutricionista salvaguarda que, quando comermos peixes gordos, não devemos regá-los com azeite. «Temos de ter atenção se o peixe vem da natureza com gordura ou se vem sem gordura. Aí, sim, faz sentido acrescentar», esclarece.

Porções comedidas

De acordo com a Roda dos Alimentos, as crianças devem consumir entre uma a duas porções de gorduras e óleos diariamente. Cada uma equivale, sensivelmente, a 10 gramas. «O ideal é acrescentar uma colher de sopa de azeite, ou de uma gordura que seja saudável, em cada refeição (almoço e jantar)», sugere Maria Paes da Vasconcelos. As restantes porções podem ser distribuídas pelos lanches, quer da manhã, quer da tarde, barrando «manteiga no pão, ou manteiga de amendoim, ou uma fatia de queijo, que é também uma fonte de gordura». Deste modo, os pais estão a criar as condições ideais para que os seus filhos tenham uma boa memória, uma boa capacidade de raciocínio e de aprendizagem.

Os ácidos gordos de cadeia longa ajudam a formar e a fortalecer as sinapses entre os neurónios, promovendo uma melhor comunicação entre as células cerebrais. «Não é preciso comer carne e peixe para se ter um bom cérebro (a alimentação vegetariana é um bom exemplo disto). É preciso ter um substrato energético, hidratos de carbono de absorção lenta e alguma gordura, ao longo do crescimento, para que o cérebro tenha energia e tijolos para ser construído, sustenta a nutricionista.

Índice glicémico

Leguminosas como o feijão e o grão também são uma boa fonte de energia, por serem ricas em fibra e proteína magra. «Comendo feijão com massa, ou grão com arroz, conseguimos fazer uma proteína sem ser preciso comer carne», propõe Maria Paes de Vasconcelos. Se apenas consumirmos hidratos de carbono integrais, o nosso organismo agradece. Temos esparguete, arroz e até a batata pode ser comida de forma integral. «Basta não descascar, lavar e cozer com casca», nota a nutricionista. Quando a juntamos num prato com peixe, «os alimentos atrapalham-se uns aos outros e a digestão acaba por levar mais tempo», diz.

Tal significa que sacia durante um período mais alargado. Não devemos esquecer, nunca, a importância que as frutas e os legumes têm para a saúde do corpo e do cérebro. Os vegetais ajudam a melhorar a capacidade de concentração e de aprendizagem. A especialista sublinha que devemos dar aos nossos filhos fruta como melão e melancia, pois «são alimentos muitas vezes doces, mas que, na realidade, têm pouco açúcar», acrescenta ainda a nutricionista.

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Sim ou não à suplementação?

Muitos pais debatem sobre os prós e os contras de dar suplementos aos filhos. Mas, do ponto de vista de Maria Paes de Vasconcelos, «as pessoas devem dar suplementos aos filhos em geral. Não sempre, mas em certas alturas do ano». A nutricionista explicou à Saber Viver que esta recomendação se deve ao facto de «os alimentos já não serem o que eram». No fundo, pode ser o ingrediente de que os mais jovens precisam para terem sucesso escolar, visto que os suplementos ajudam a melhorar a capacidade de concentração, a capacidade de memorização e intelectual.

Ainda assim, e apesar de sugerir uma suplementação para reforçar o aporte energético durante os exames, a especialista deixa um alerta. «Os jovens têm de tomar os suplementos pelo menos três semanas antes, para terem a certeza de que, quando chegam à altura do teste, o sistema está a funcionar corretamente», adverte Maria Paes de Vasconcelos.

Vamos por partes

Maria Paes de Vasconcelos, nutricionista, sugere como os pais devem proceder no que toca à alimentação dos filhos que estão em idade escolar, particularmente aqueles que estão a preparar-se para os exames de aferição e exames nacionais. Saiba como atuar em cada uma das alturas:

- Na véspera do exame

«Usando uma mesa redonda, imagine o que o seu filho comeu no dia anterior a um teste. Metade daquilo que ingeriu era legumes e fruta, como na Roda dos Alimentos?», ilustra a especialista.

- No dia do exame

«Não podem ir em jejum. Devem fazer o pequeno-almoço normal de todos os dias. E, tal como no perídodo que antecede as provas de atividade física, antes dos exames deve-se comer hidratos de carbono», declara  a nutricionista.

Texto: Filipa Basílio da Silva