A prática do desporto é cada vez mais comum na criança e, em particular, na adolescência pois não só promove o bem estar físico, como também o psicológico.
Tem um papel social reunindo pessoas de diferentes origens, desempenha um papel fundamental na educação, melhora o desenvolvimento e aprendizagem da criança estimulando um melhor desempenho académico, aumenta a auto estima, isto num ambiente que se pretende seguro e protetor.
E é aqui que se coloca a dúvida: “sob o ponto de vista físico será seguro praticar desporto?” Claro que em todas as atividades físicas, a prática desportiva acarreta um risco acrescido com uma maior tendência para o aparecimento de lesões mas que de uma forma geral são relativamente simples e de fácil resolução sem sequelas na idade adulta. Passemos então em revista as lesões mais frequentes:
1. Lesões de sobrecarga
Quem tem crianças depara-se frequentemente com um queixume de dores no joelho, ou nos pés... é comum a criança chegar a casa e referir “oh Mãe, tem-me doìdo o calcanhar e hoje não fui capaz de jogar futebol... “ Habitualmente temos logo um amigo ou vizinho que nos sossega “isso são dores de crescimento e passam rapidamente...”
A questão é: “será assim?” Os ossos longos crescem em comprimento (na sua extremidade existe a cartilagem de crescimento responsável pelo aumento em altura) e em largura (pela aposição na periferia como acontece nas árvores). O osso novo é resultante da transformação da cartilagem em osso e, por isso, é um osso imaturo.
Os tendões / músculos estão inseridos nos ossos como se fossem as peças de um puzzle e a tensão desencadeada no movimento vai provocar zonas de tensão extrema nestas uniões que podem inflamar... Chama-se a isto uma osteocondrose e é particularmente comum ao nível do calcanhar (entre os 8 e os 10 anos) e no joelho um pouco mais tarde entre os 10 e os 14 anos) dos desportistas. Na grande maioria destas crianças encontra-se um quadro de encurtamentos musculares pelo que a prática regular de exercícios de alongamento dos músculos das cadeias posteriores será um fator de prevenção.
2. Fraturas
As quedas são frequentes na prática desportiva e podem dar lugar a fraturas, luxações (quando as superfícies articulares perdem o contato) ou combinação de ambas. Com o aumento da prática de desportos radicais como o skate ou os trampolins, também o número de fraturas tem aumentado. Este fato está associado também ás alterações do metabolismo do osso, próprias do crescimento e responsáveis por uma baixa da vitamina D - o que pode comprometer a estrutura do osso. Medidas preventivas como cuidados específicos na dieta associado à exposição solar e o uso de ortóteses protetoras podem melhorar a qualidade do osso e atenuar o embate nas quedas.
3. Fraturas de stress
Exercícios repetitivos como acontece nos atletas de alta competição, em particular em desportos de impacto como a ginástica ou a corrida, podem levar ao aparecimento de zonas de micro-rotura do osso, não visíveis na radiografia e que se traduzem por uma dor constante local associada a “inchaço” da zona afetada e agravada pelo exercício físico. Nestes casos será importante a avaliação urgente num serviço especializado. Uma ressonância magnética ou uma cintigrafia óssea serão essenciais para o diagnóstico.
4. Lesões do joelho
As queixas ao nível do joelho são muito comuns nas criança praticantes do desporto, pelo simples fato de que é normal cair sobre os joelhos e, também, porque esta articulação está sujeita a traumatismos envolvendo mecanismos de rotação. Infelizmente as lesões do joelho, nalgumas situações, são difíceis de diagnosticar: os ossos são envoltos por uma cartilagem articular espessa que é propícia a fraturas por um mecanismo tangencial e não visíveis numa radiografia normal. Por outro lado as zonas de crescimento também são mais frágeis e sede de fraturas.
Tal como os adultos, também as crianças desenvolvem lesões meniscais ou ligamentares que por vezes passam despercebidas na fase inicial. Um joelho doloroso (mesmo com pouca intensidade) associado a um “inchaço” no seguimento de um trauma (mesmo pequeno) obriga a uma avaliação especializada.
5. Entorses do tornozelo
As entorses do tornozelo são relativamente comuns mas ao contrario dos adultos em que as lesões são predominantemente ligamentares, neste grupo etário os elos mais fracos são a zona de inserção dos ligamentos com pequenos arrancamentos ósseos ou das zonas de crescimento. É por isso fundamental perceber se se trata de uma lesão ligamentar simples tratada com contenção elástica ou uma lesão mais complexa que obrigará a uma imobilização mais rígida. Para evitar sequelas é sempre bom ter uma avaliação profissional que faça esta distinção.
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