Os bebés recém-nascidos são tão delicados que dependem totalmente do cuidado, alimentação e amor dos adultos. Algumas das doenças não se manifestam no nascimento e os pais só se apercebem à medida que a criança vai crescendo e se desenvolvendo, o que, na maioria das situações, pode levar a que a deteção seja tardia.

Estudos demonstram que, entre 20% a 30% dos casos de mortalidade pediátrica hospitalar têm por base uma doença genética. Daí a importância da consciencialização para a procura de doenças genéticas na população infantil, para as diagnosticar e tratar de forma precoce e com o mínimo de impacto possível, uma vez que representam um importante problema de saúde pública.

Tomemos como exemplo a hipoacusia (perda auditiva). Ainda que não seja um problema genético, as crianças que nascem com hipoacusia passam a sua vida em total desigualdade quando esta não é detetada à nascença, pois acabam por não receber reabilitação apropriada. Não é um segredo que o sucesso da reabilitação da criança com perda auditiva está na celeridade com que se enfrenta o problema e com o tipo de terapia a que se recorre, sejam auxiliares auditivos ou avaliação para implante auditivo. Por esta razão, em diferentes países do mundo, os programas de rastreio auditivo neonatal são rotineiros e inclusivamente obrigatórios. O tempo é um fator decisivo na reabilitação.

Os problemas de audição podem apresentar-se em qualquer idade e por diferentes motivos. O mesmo acontece com a hipoacusia, que pode ocorrer em qualquer idade. O mais importante é diagnosticar-se de forma precoce, para permitir que a criança alcance a linguagem de maneira correta. Normalmente, a mãe é a primeira a detetar o problema, quando cai alguma coisa ao chão e a criança não se apercebe, ou quando o bebé manuseia os objetos sem atenção pelos sons que produzem. Às vezes, o problema deteta-se aos 7 ou 8 meses, no período em que “palram”. O pequeno não balbucia, simplesmente, porque não ouve.

Se o problema existe desde o nascimento (probabilidade de uma em cada 2000 crianças), a hipoacusia pode dever-se a várias razões: fator hereditário, danos no nervo acústico, doenças como sarampo ou meningite, ou lesões no ouvido interno como as provocadas pela rubéola.

Ainda assim, a hipoacusia pode ser causada por uma privação de oxigénio ao nascer (hipoaxia) ou por icterícia, ou seja, a acumulação de bilirrubina que dá à pele um aspeto amarelo e que, somente em casos extremos, pode provocar danos desta gravidade.

Se o problema surge depois de nascer, deve-se, na maior parte das vezes a uma obstrução: a criança introduziu um objeto pequeno no canal auditivo ou ficou com mucosidade no ouvido médio.

Mas é muito importante para os pais saberem como reagir perante cada situação. Se surgir a presença de um corpo desconhecido, o objeto deve eliminar-se o mais rápido possível num serviço de urgências. No caso de estancamento de mucosidade (frequente nas crianças com rinite ou com adenoides grossos), intervém-se, em primeiro lugar, tratando de descongestionar o ouvido, sem recorrer a antibióticos, sempre que seja possível. Se a mucosidade não está infetada por bactérias, trata-se de uma otite média ou aguda. É preciso recorrer aos antibióticos em caso de otite purulenta (na exploração visual, observa-se que o tímpano está perfurado), com o fim de evitar maiores complicações. Para casos de surdez acentuada, hoje em dia, existem próteses discretas, que não prejudicam a vida social da criança. Se a surdez é total, pode-se recorrer a um implante auditivo, realizado por profissionais competentes.

Texto de: 
Dulce Martins Paiva
Diretora geral da GAES - Centros Auditivos em Portugal