«Não consigo fazer com que o meu filho de sete meses coma vegetais». Quantas vezes os pais disseram esta frase e quantas vezes os pediatras ouviram os pais dizê-la?

 

No início do século XX, os legumes e a fruta foram tardiamente introduzidos na dieta das crianças, aos dois ou três anos de idade, e com grandes precauções. As crianças passavam bem sem elas, pois eram amamentadas, o que lhes garantia todas as vitaminas necessárias. Quando se prolongou a lactância artificial e os bebés começaram a apresentar carências vitamínicas (já que os fabricantes demoraram décadas até começarem a adicionar vitaminas aos leites infantis), houve necessidade de antecipar a introdução de frutas e legumes na alimentação. Mas havia um problema: a sua baixa concentração calórica.

 

As crianças pequenas têm um estômago mais pequeno. Precisam de alimentos concentrados, com muitas calorias em pouco volume. Esta é uma das causas da desnutrição infantil. Em muitos países, as crianças estão desnutridas enquanto os adultos não. «É um erro acreditar que os adultos comem tudo e não deixam nada para as crianças comerem; os pais (e sobretudo as mães, que até nisso se nota a diferença) cuidam muito bem dos seus filhos», explica o pediatra espanhol Carlos González. Segundo o especialista, as mães renunciam com gosto à sua própria comida para alimentar os filhos; o problema é que muitas vezes o único alimento disponível consiste em verduras e tubérculos com muita fibra e poucas calorias. Os adultos podem comer tudo o que necessitem porque os seus estômagos são suficientemente grandes. E, comendo quantidades suficientes, qualquer alimento engorda. «As crianças pequenas, por mais que tentem, não podem comer a quantidade de vegetais necessária, porque não cabe nos seus estômagos», diz Carlos González.

 

O leite materno tem mais de 70 kcal por 100 g; o arroz cozido 126 kcal, o grão-de-bico cozido 150 kcal, o frango 186 kcal, a banana 91 kcal…, mas a maçã tem 52 kcal por 100 g, a laranja 45, a cenoura cozida 27, o repolho cozido 15, os espinafres cozidos 20, o feijão-verde 15, a alface crua 17 kcal por cada 100g. E isto tendo em conta que estejam bem escorridas; a sopa ou o puré com água da cozedura contém, no entanto, menos «substância».

 

«Para deixar os pais tranquilos, as crianças não costumam ter uma repugnância absoluta por vegetais. Não é um problema de sabor. Normalmente aceitam bem uma pequena quantidade de verduras, que são ricas em vários minerais e vitaminas importantes. Mas a sua dose normal pode ser de apenas um par de colheradas. Contudo, como as verduras são muito "sãs", os pais tendem a dar-lhes um prato inteiro», afirma o pediatra. «Pior! É uma grande ofensa dar-lhes esse prato de verduras em vez do peito da mãe ou do biberão, que têm o triplo das calorias. “Quem matar-me à fome”, pensa a criança, espantada; e, naturalmente, nega-se a aceitar tal afronta. Começa a guerra, e a criança pode pegar por ponta a fruta e a verdura que logo, quando crescer e lhe caibam no estômago, as rejeitará», conclui Carlos González.

 

 

Maria João Pratt

 

Fonte: Mi niño no me come - Consejos para prevenir y resolver el problema, de Carlos González (2009), Ediciones Planeta Madrid.