A vitamina D na infância deve ser garantida de que forma?
As fontes principais de vitamina D provêm de alimentos e da exposição solar. Obviamente que são necessários todos os cuidados de proteção solar. No entanto, uma vida e crescimento saudáveis passam pela exposição ao ar livre e ao sol. E o sol é a fonte mais importante para promover a síntese de vitamina D na pele. Os alimentos ricos em vitamina D são também fundamentais. Nalguns casos pode ser necessária a suplementação farmacológica com soluções de vitamina D, nomeadamente no contexto de patologias caracterizadas pela má absorção, patologias ósseas ou quando a criança está medicada com alguns fármacos, como por exemplo a corticoterapia.
Quais são as consequências do défice de vitamina D até aos 3 anos?
A vitamina D é essencial para uma boa saúde dos ossos e por isso uma das consequências do défice de vitamina D nas crianças é o raquitismo. Mas dependendo do grau de carência e das razões para a existência da carência de vitamina D podem surgir outras consequências para a saúde e desenvolvimento da criança.
A saúde do bebé está muito dependente da saúde materna, das boas condições no momento do parto, da genética do bebé, dos cuidados que lhe são prestados e da alimentação nos primeiros meses de vida
Como é que se garante vitamina D em suficiência?
O aporte alimentar (leite) e a exposição ao ar livre são fundamentais para um bom aporte nos bebés. A suplementação com solução oral com gotas não é defendida por todos os especialistas e varia conforme as evidências que vão surgindo dessa necessidade. Há quem defenda a suplementação para todos até aos um ou dois anos de idade e quem considere que em bebés saudáveis e bem nutridos essa suplementação não se justifica. O mais importante é o acompanhamento regular do bebé pelo pediatra e que os pais ou responsáveis pelo bebé sigam as orientações que este lhes dá. Na dúvida, deve questionar-se sempre o médico ou o profissional de saúde.
É possível prevenir as doenças reumáticas no bebé? Como?
As situações estruturais como ter ossos, articulações e músculos saudáveis devem ser promovidas desde o nascimento e ao longo da vida. Isso é atingido através de uma alimentação equilibrada e saudável e mais tarde pelo controlo dos hábitos, nomeadamente álcool e tabaco e promoção de exercício físico. A saúde do bebé está muito dependente da saúde materna, das boas condições no momento do parto, da genética do bebé, dos cuidados que lhe são prestados e da alimentação nos primeiros meses de vida. A prevenção da doença reumática integra-se nestas idades na prevenção da doença em geral e obviamente no diagnóstico precoce das doenças reumáticas que se instalam nesta idades.
A que sintomas é que os pais devem estar atentos? E em que idades surgem?
As doenças reumáticas da infância podem surgir nos dois sexos em qualquer idade. Nas crianças pequenas ainda com dificuldade em verbalizar, a recusa da marcha ou o pedido de colo insistente podem ser a primeira manifestação. Os pais devem estar atentos a situações de edema e tumefação articular, nomeadamente dos joelhos, punhos e pequenas articulações das mãos. De uma forma geral, as crianças pequenas referem menos a dor do que os adultos, tendem a proteger a articulação dolorosa, evitando a sua mobilização, mas não verbalizam o sintoma dor. A febre, o rash (erupções cutâneas), outras alterações cutâneas, fadiga, dor muscular ou óssea, adenopatias, petequias, dor abdominal, podem também associar-se às queixas reumáticas.
Quando é que uma criança deve ser reencaminhada para um reumatologista pediátrico?
A criança deve ser observada por um reumatologista pediátrico quando tem queixas persistentes relacionadas com articulações, músculos ou ossos, nomeadamente dor, claudicação da marcha e incapacidade funcional. Mesmo se as queixas forem recentes e agudas e a criança apresentar tumefação das articulações com edema local, calor ou rubor também deve ser referenciadas. Excluem-se das patologias do foro da reumatologia as lesões causadas por traumatismos, que devem ser observadas por um ortopedista. Mas uma criança que faça fraturas de repetição, sem traumatismo ou com traumatismo mínimo deve também ser observada por reumatologista pediátrico.
De notar, que as doenças reumáticas da infância não atingem apenas o sistema músculo-esquelético, mas também podem causar manifestações sistémicas como febre, fadiga, emagrecimento ou manifestações de outros órgãos como a pele, o rim, o coração ou o sistema gastro-intestinal, entre outros. O pediatra ou o médico de família referenciam para o reumatologista frequentemente para estabelecer o diagnóstico diferencial de patologias, quando este é ainda incerto, ou para orientação terapêutica quando a patologia reumática está estabelecida.
Quais são as doenças reumáticas mais comuns até aos 3 anos?
As doenças reumáticas podem surgir em qualquer idade e até aos 3 anos são mais frequentemente patologias sistémicas que cursam com artrite mas também envolvimento de outros órgãos e sistemas como sejam a artrite idiopática juvenil sistémica ou doença de Still (em que a criança apresenta febre prolongada por picos, artrite e rash, além de outras manifestações de órgão), o lúpus eritematoso sistémico, vasculites como doença de Kawasaki e púrpura de Henoch Schonlein, a dermatomiosite e miosites inflamatórias.
Uma patologia muito frequente é também a sinovite transitória da anca, em que a criança apresenta claudicação da marcha, por vezes com recusa em andar. Habitualmente não é acompanhada de alterações noutras articulações nem em outros órgãos e resolve-se sem sequelas em 2 ou 3 semanas. Há ainda doenças genéticas que não são frequentes, mas que se podem manifestar- antes dos 3 anos como a osteogénese imperfeita grave, com fraturas precoces.
Este tipo de doenças podem comprometer o desenvolvimento da criança?
Sim. Numa fase tão precoce do crescimento linear e do desenvolvimento de órgãos e sistemas, as doenças inflamatórias persistentes podem ter repercussões muito importantes no desenvolvimento da doença. Daí a importância de se estabelecer um diagnóstico precoce e correto e iniciar precocemente o tratamento adequado, assim como a reabilitação, educação e aconselhamento da família e professores, isto para que a doença seja controlada e a criança tenha um desenvolvimento equilibrado.
De notar também que, apesar de toda a inovação terapêutica nesta área, continuamos a ter que utilizar medicamentos que causam efeitos adversos e que podem, quando em doses altas e prolongadas, afetar o desenvolvimento das crianças. Aqui, mais uma vez, friso a importância do diagnóstico precoce, do seguimento por uma equipa experiente que saiba avaliar os fatores de prognóstico e que institua as medidas que tragam maior ganho para a criança, sendo o menos deletérias possível, para o sucesso terapêutico.
As explicações são da médica Helena Canhão, Reumatologista Pediátrica no Hospital Lusíadas Lisboa e Professora Universitária na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
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