Sair do útero materno, seguro e quente, para um mundo exterior frio e desconhecido é sempre um trauma.
Descubra como a massagem pode ajudar o seu bebé a sentir-se seguro e protegido, ao mesmo tempo que promove o seu desenvolvimento fisiológico e emocional.
Um grupo de mães (e pais) massaja carinhosamente os seus bebés, que gesticulam, balbuciam e sorriem deliciados. O espetáculo é de tal forma embevecedor que a sua divulgação podia facilmente ser uma medida governamental de incentivo à natalidade. Estamos, convém esclarecer, numa aula de massagem do bebé. Uma forma privilegiada dos pais interagirem com os seus bebés, estimulando as suas capacidades fisiológicas e comportamentais, e de aprofundarem o seu vínculo afetivo.
Patrícia Oliveira, que frequentou um deste cursos após o nascimento da filha Leonor, aponta «o relaxamento geral, que a ajudava a adormecer» como principal benefício para a sua bebé, sublinhando ainda outro fator importante nesta aprendizagem. «Foi muito bom para aumentar a minha autoestima como mãe e o nosso laço afetivo. Deu-me confiança ao tocar-lhe e segurá-la», desabafa.
O que é?
A massagem do bebé é um conjunto de técnicas que se aplicam a qualquer criança com o objetivo de promover, através do toque, a comunicação entre os pais e o seu bebé. Trata-se de uma prática milenar em muitas culturas, com inúmeros benefícios há muito comprovados por diferentes grupos de investigadores, como os do reputado Touch Resource Institute da Universidade de Miami (EUA), totalmente dedicado ao estudo do toque.
O toque é o primeiro sentido a desenvolver-se ainda dentro do útero materno, pelo que, uma vez cá fora, o contacto pele com pele traz-lhe a lembrança dos movimentos intrauterinos que o massajavam com pequenas contrações. Ao ser tocado novamente, o bebé redescobre esse prazer e sente-se seguro, protegido e acarinhado. Por outro lado, «sendo a pele o maior órgão de comunicação de que o bebé dispõe, é através do tato que se transmitem uma infinidade de mensagens, organizadoras de bases fisiológicas e emocionais para o futuro», explicam os especialistas da Associação Portuguesa de Massagem Infantil (APMI).
As técnicas da massagem infantil reúnem princípios do yoga, reflexologia e técnicas de massagem indiana e sueca, numa combinação e sequência desenvolvidas pela norte-americana Vimala McClure, nos anos 70, após ter descoberto o poder do toque no desenvolvimento infantil, durante o seu trabalho de voluntariado em orfanatos na Índia. Hoje, o seu programa de massagem infantil, apoiado pela International Association of Infant Massage (IAIM), também fundada por si, é ensinado e aplicado em mais de 50 países, incluindo Portugal.
Como fazer?
O contacto intuitivo da pele da mãe ou do pai com a pele do bebé é, por si só, benéfico, mas, de acordo com a presidente da APMI, Angela Subtil, «existe uma sequência para realizar os movimentos, de modo a que o benefício seja aumentado quer para o bebé, quer para os pais».
Esta sequência é muito simples e poderá ser facilmente aprendida num curso de massagem do bebé.
Segundo Angela Subtil, esta formação «é muito mais do que a explicação da técnica, é um momento de partilha em que os pais vão estimular, interagir, relaxar e aliviar o bebé». Um pormenor interessante a reter é que «numa primeira abordagem, será conveniente começar pelos pés, pois é a zona que está mais habituada a ser manipulada com as mudas da fralda. Quando a criança já percebe que lhe estão a fazer a massagem cabe aos pais decidir por onde começar». Para além disso, à medida que o bebé vai crescendo e evoluindo, a massagem deve ser constantemente adaptada.
«Durante o curso, os pais aprendem formas de irem adaptando a massagem às diferentes idades e fases do desenvolvimento do seus bebés», explica Rita Pissarra, instrutora de massagem infantil pela IAIM. Nada de complicado, portanto. Patrícia Oliveira confirma. «É bastante simples de aprender e fácil de fazer. Não são precisas grandes preparações, exceto ter o quarto aquecido no inverno, para que o bebé não arrefeça durante a massagem. Basta também um óleo vegetal, como o de sésamo ou coco, nada de muito dispendioso».
Quando fazer?
A massagem infantil pode e deve começar logo desde o nascimento. De acordo com Rita Pissara, «a massagem é particularmente eficaz para ganhar peso em bebés prematuros; e para as mães com depressão pós-parto pode ser uma forma excelente de ganhar autoconfiança». Quanto à periodicidade, a instrutora refere que «a massagem deve ser uma rotina diária, e deve haver um momento só da massagem, com o ambiente criado ao estilo parental».
Relativamente à hora ideal, esta deverá ser identificada pelos pais. Para certos bebés, a massagem a seguir ao banho, por exemplo, pode ser hiperestimulante, para outros muito relaxante, por isso varia muito de bebé para bebé, de família para família. Os pais têm de descobrir qual a melhor hora, observando qual o momento do dia em que o bebé está mais predisposto. Preferencialmente, o bebé deve estar no chamado estadio de alerta tranquilo».
Quais os benefícios?
Os beneficios da massagem do bebé são inúmeros e, de acordo com os especialistas da APMI, manifestam-se não só a nível fisológico mas também a nível emocional/comportamental, na medida em que «aumentam o vínculo pais/bebés, permitindo uma base de confiança, segurança e de aceitação emocional importante para o desenvolvimento positivo da personalidade do bebé».
Entre estes benefícios, importa destacar:
Benefícios para o bebé
- Diminui as hormonas do stresse, promovendo um sono mais tranquilo (favorecedor da libertação da hormona do crescimento), ao mesmo tempo que aumenta o tempo no estado vigília tranquilo, em que o bebé está propenso a aprender e comunicar.
- Facilita a digestão e promove o alívio de cólicas, gases e obstipação, diminuindo a dor e a tensão intestinal.
- Promove o aumento do fluxo de oxigénio e, por conseguinte, de nutrientes para as células, facilitando o aumento de peso (estudos recentes apontam para um aumento de peso diário médio superior a 50% em relação a bebés não massajados).
- Fortalece o sistema imunitário, prevenindo doenças.
Beneficios para os pais
- Construção de um vínculo afetivo profundo entre pais e bebés.
- Aprendem a dar melhor resposta aos sinais do bebé (acalmá-lo, por exemplo), ganhando auto-confiança nesse novo papel de cuidadores/educadores.
Texto: Fernanda Soares
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