O desenvolvimento da linguagem é um processo muito complexo. Falar implica ouvir e processar o que se ouve, reproduzir utilizando as palavras adequadas e fazendo os movimentos articulares certos utilizando músculos e tendões específicos e regulando a capacidade respiratória. Para falar temos de pensar, construir frases, escolher as palavras, recorrer a símbolos para expressar o nosso pensamento, tudo numa fração de segundos, de modo a partilhar sentimentos, ideias, valores, factos e pensamentos.

A evolução da linguagem, tal como acontece com o desenvolvimento da criança noutras áreas, é um processo gradual e não é igual para todas – umas têm um ritmo mais lento, outras mais acelerado.



O que o seu filho consegue fazer

 Por volta da terceira semana de vida, o bebé começa a esboçar o sorriso dirigido aos pais, sabendo que este é o melhor meio de captar a sua atenção.

No primeiro mês de vida, o bebé já consegue fixar o rosto do pai ou da mãe por longos períodos, ficando cada vez mais interessado, até esboçar um sorriso aberto. Se for correspondido com outro sorriso, tenderá a prolongá-lo. Já balbucia, emite breves sons de contentamento e segue os sons e a face.

Aos dois meses, o bebé começa a palrar e a produzir vocábulos em resposta à estimulação quando brincam com ele. Chora quando quer chamar a atenção, pois sabe que os pais respondem prontamente.

Com quatro meses, geralmente já ri com intenção em resposta a estímulos que aprecia e chora em caso contrário. Começa a jogar com as suas novas aquisições, chora deliberadamente para chamar a atenção e após um compasso de espera volta a chorar com mais intensidade – é o chamado processo de causalidade: se tiver determinado comportamento sabe que obterá o resultado pretendido.

Entre os seis e os oito meses, o bebé já imita, tentando vocalizar com entoação, usa algumas sílabas, como «ma-ma», «pa-pa» e «da-da», sem significado. Responde ao nome e grita para chamar a atenção dos adultos.

Dos nove aos doze meses começa a entender o «não», usa palavras como «mamã» ou «papá» já com significado.

Por volta do primeiro ano de idade, o bebé já revela um entendimento do que ouve. Compreende ordens simples como «vai dar ao papá» ou «vai buscar um brinquedo», mostrando que sabe o que lhe estamos a dizer quer obedecendo quer mostrando claramente que não quer fazê-lo. Pode utilizar a linguagem gestual para se expressar, aponta para o que quer, acompanhando com gestos o seu discurso, mas muito poucas palavras serão percetíveis – eventualmente já diz mais alguns monossílabos co, significado, tais como «dá», «olá» ou «não».

Aos 15 meses a criança é ainda muito trapalhona a falar, compreende tudo e faz-se entender quer por palavras quer por gestos; pode utilizar alguns substantivos isolados. Fala com entoação e ritmo, mesmo que impercetível pelos adultos e começa a mostrar frustração por não conseguir conversar ao ritmo que desejaria.

Com 18 meses utiliza várias palavras: «bola», «cão» e os nomes de algumas pessoas; identifica algumas partes do corpo; executa gestos mais complexos para se expressar.

Aos dois anos já utiliza alguns verbos e adjetivos como «é bonito» ou «quero aquilo». Compreende ordens complexas sendo capaz de cumprir duas a três ordens em sequência, como «vai buscar os sapatos e vai dar ao pai que está na sala». Já começa a utilizar o «eu». Mesmo que ainda não fale, se a criança consegue expressar-se por gestos e utiliza a linguagem corporal então é porque já consegue descodificar o que lhe é dito. Ainda que a maioria das expressões que usa sejam impercetíveis, a compreensão do discurso mostra que o desenvolvimento está a processar-se. Algumas crianças que já falam mas não conseguem expressar-se bem utilizam a linguagem gestual se fazerem entender.

Por volta dos três anos, a criança constrói frases mais elaboradas com três ou mais palavras. Já entende os contrários – cima/baixo, dentro/fora, pequeno/grande. Já consegue utilizar o plural e, por vezes, o feminino/masculino. Já sabe o próprio nome e a idade. Começa a questionar-se sobre o «porquê» das coisas.

Entre os quatro e os cinco anos, o discurso da criança torna-se mais elaborado, constrói frases mais complexas, expressa-se bem, utiliza os tempos verbais adequados. Pode, eventualmente, revelar ainda dificuldades no que se refere à articulação e/ou dicção.

 

Maria João Pratt

Para saber mais:

 

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0075


http://repositorio.esepf.pt/handle/10000/66

http://www2.ilch.uminho.pt/portaldealunos/Estudos/EP/AH/TCH/P2/Adriana/

http://www.mayoclinic.com/health/infant-development/AN01026


http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0306.pdf


http://www.arsalgarve.min-saude.pt/pais/iframe/linguagemc.php