Quando engravidei fiquei muito mas muito feliz, pois era o que eu sempre queria. Mas confesso que nesse dia quando soube que era um menino fiquei um pouco apreensiva pois tive medo de não saber como brincar com ele. Sou uma menina muito menina que gosta de coisas de meninas desde das unhas pintadas ao cabelo arranjado, dos vestidos aos sapatos e carteiras. Enfim, um mundo cor-de-rosa. Ainda por cima não praticava nenhum desporto, não gosto de ver nenhum desporto na televisão, tenho medo de bolas voadoras, de montanhas russas e coisas a alta velocidade. Basicamente tinha medo de não perceber o mundo azul dos meninos.
Depois o João nasceu. Lindo e perfeitinho, foi, claro, amor à primeira vista. Hoje tem 4 anos, que passaram a galopar, e durante cada instante destes 48 meses que tivemos juntos sei e sinto que os meninos têm uma ligação especial com as mães.
E como é que eu sei?
Não é táctil, não é direto, mas sim subtil e intimista. Nosso. Sinto-o pela forma carinhosa e meiga como me chama, pelas declarações de amor dignas de qualquer obra literária premiada, pelos beijinhos e abraços que constantemente me dá, pela preocupação genuína no meu bem-estar e no meu sorriso. Como elogia as minhas capacidades culinárias e decorativas. Pela maneira como aprecia o meu perfume, e faz-me festinhas no cabelo.
No início, quando começou a falar já com bom vocabulário, tudo muito detalhado e bem explicadinho, começaram as declarações, que cá entre nós, deixavam-me a cair para o lado. Abraços e muitos beijinhos, e palavras lindas. Mas, sempre achei que era normal e esta situação repetia-se com o Pai ou até com os Avós. Até que, já passados uns bons meses, um dia o Pai, muito contente, confessou que nesse mesmo dia o João lhe tinha feito uma mini declaração de amor. Estava muito entusiasmado, e até acho que vi um brilhozinho nos seus olhos. Contou tudo novamente, não fosse eu não ter prestado a devida atenção na primeira vez e até acrescentou alguns detalhes novos.
“Então?” Pergunta, à espera da minha opinião.
Ao qual rapidamente e sem pensar respondi: “ só agora?”
Penso que terá sido só nessa altura que me apercebi que realmente havia momentos meus e do João, só nossos, e que numa esfera diferente, quase que num plano paralelo, havia então outros momentos, os do João e do Pai.
Tal reconhecimento da minha parte levantou um conjunto de novas questões, que até a data não pensei que existissem. Mas então, o que é que eles “falavam” quando estavam juntos? Das brincadeiras já sabia que eram diferentes, pois assistia várias vezes quando brincavam, e até aproveitei para “aprender” algumas. Mas as “conversas” é que me deixaram surpreendida, pelos vistos não eram como as nossas, lamechas, com apetitosos beijinhos.
Agora com 2 meninos, o João de 4 anos e o Tomás de 1 ano, estes momentos de Mãe e filho duplicaram, e apesar de o bebé ainda não falar, o carinho e os miminhos são mais que evidentes. Tenho sim momentos deliciosos, momentos azuis, que por vezes se misturaram com uns carrinhos e uns dinossauros, mas que enchem o dia.
Marta Andrade Maia
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