Os meus filhos são pequeninos. Ainda falta muito para irem para a faculdade, serem académicos e, supostamente, terem uma educação superior. Mas tenho medo. Tenho medo, porque me apercebi (talvez seja ingénua ou talvez necessite de um sinal bem evidente) de que, por muito que tentemos, por muitos esforços que façamos, muitas escolhas e sacrifícios há sempre coisas que estão fora do nosso escudo protetor.

Desde que sabemos que estamos grávidas a nossa vida muda em função do bebé que vem aí. Passamos nove meses com medo. Medo de não levar a gravidez ao fim, medo que algo aconteça ao bebé, medo que as análises e os exames mostrem algo de errado, medo que o bebé não tenha cinco dedos em cada mão e em cada pé. Medo que não seja perfeito, nem saudável.

Depois, o bebé nasce. Vemos que é saudável e com todos os órgãos e membros no sítio. Inicia-se uma nova fase de medos. Medo que deixe de respirar subitamente, medo que vomite, medo que não faça cocó, medo que não durma nem coma, medo que não engorde ou que as cólicas não passem. Protegemos a nossa casa da melhor forma para que não se magoe, mudamos os nossos horários para que seja melhor para o bebé, mudamos mobília de sítio e desfazemos divisões para dar espaço ao bebé. Ele primeiro, e lá muito depois, quase no fim das nossas prioridades, estamos nós.

Habituados ao bebé, começamos a ter mais segurança nas nossas capacidades parentais e ele começa a crescer. Mas, uma terceira nova fase de medos surge. Medo que se dê mal na escola, medo de sermos muito rígidos ou brandos, medo de não o perceber bem, medo de não o saber educar, medo de não brincar com ele, medo de não lhe dar atenção suficiente, medo de não conseguir transmitir os valores e princípios certos e moralmente justos (na nossa perspetiva), medo de não saber quais são os valores e princípios a transmitir.

Enfim, um role de medos novos, a cada fase e desafio que vamos ultrapassando, com sacrifícios, cedências, dedicação, noites sem dormir, preocupações que não queremos transmitir, doenças e sobressaltos. Anos a andar com o coração nas mãos.

Dedicamos uma vida inteira de corpo e alma, e de coração, para que consigamos formar uma pessoa boa, íntegra, responsável, humana, com bons sentimentos, humilde, inteligente, trabalhadora, que saiba distinguir o certo do errado. Dedicamos todos os nossos dias, o nosso esforço, para que tenha um futuro melhor que o nosso, para que nos supere em todos os sentidos e nos dê netos e momentos maravilhosos.

E quando pensamos que os grandes medos já estão quase ganhos, quase desaparecidos, e até podemos respirar um pouco de ar fresco, eis que surge um momento inexplicável, decisões que não adivinhávamos, prioridades distorcidas (e estúpidas), uma situação fora do nosso alcance, uma vida desaparecida e a nossa para sempre desfeita.

Marta Andrade Maia

My baby blue blog