Um ano de uma dura jornada que termina agora com a melhor notícia de todas. Virginia Lopéz venceu o cancro da mama com que foi diagnosticada em janeiro passado, apenas um mês depois de ter sentido um caroço que a alertou.

Convicta de que iria superar esta batalha, Virginia passou os últimos 12 meses focada em melhorar e assim criou, no seu Instagram, uma ampla comunidade composta por pessoas que a queriam apoiar e de outras que aproveitaram a sua energia e confiança para as suas próprias jornadas contra o cancro.

A escritora escolheu o Fama ao Minuto para dar a sua primeira entrevista após lhe ter sido confirmado que superou a doença com sucesso. O contacto manteve-se depois de connosco ter falado sobre 'Eu, Maria das Dores, Me Confesso', o livro que escreveu em 2019 e que se tornou oportuno recordar aquando da libertação da socialite condenada por mandar matar o marido.

Na conversa que agora tivemos com Virginia, falou-se sobre o processo e as descobertas que com ele surgiram. Acima de tudo, a ex-concorrente do 'Big Brother Famosos' percebeu que chegou a hora de viver a vida que sempre adiou por falta de tempo. Durante todo este período, sentiu-se acompanhada pela mãe, que morreu, precisamente, de cancro.

Foi há aproximadamente um ano que sentiu, pela primeira vez, o caroço na mama. Um ano depois, novamente perto do Natal, a Virgínia recebe a tão aguardada notícia de que venceu o cancro. Calculo que esta é a melhor prenda que poderia receber…

Sem dúvida. Quando comecei a quimioterapia, em maio, perguntei à minha oncologista qual seria a previsão para a concluir, gosto de colocar objetivos e metas para colocar o foco na ação. A resposta dela foi: 'lá para janeiro'. Mas por alguma razão, eu senti que terminaria antes do Natal, para fechar este capítulo ainda este ano. Era suposto fazer a última sessão em janeiro, mas devido à agressividade da quimioterapia e aos efeitos secundários que provoca no meu organismo, ontem a minha oncologista decidiu cancelar. A quimioterapia, no meu caso, era preventiva, para reduzir a probabilidade de voltar a ter cancro no futuro, mas a oncologista entendeu que a toxicidade e os efeitos secundários tão agressivos, no meu caso, já não compensavam os benefícios. Era exatamente o que eu tinha visualizado em maio: celebrar o fim da quimioterapia e brindar por isso no Natal!

O que sentiu quando soube que saiu vitoriosa deste tão grande desafio a que foi submetida? E qual foi a reação da família?

Eu não gosto de desistir e luto sempre até ao fim, mas esta experiência ensinou-me que uma retirada a tempo é uma vitória. Não fazer a última quimioterapia fez-me sentir aliviada, grata, feliz e vencedora! Dei tudo de mim apesar dos dias terrivelmente maus que também tive. A família e os amigos encheram-me de amor e carinho, como têm feito ao longo de todo este ano, o meu marido não se separou de mim um instante e o melhor do dia foram os abraços e os beijos dos meus filhos. A frase do Santi, o mais novo, foi: 'mãe, tinhas razão, nós conseguimos tudo!'.

A sua mãe morreu com cancro. A memória dela esteve presente ao longo deste processo?

Sim, a minha mãe esteve mais presente do que nunca. Se calhar, quando ela morreu eu não fiz o luto, chutei a bola para a frente, foquei-me no trabalho e nos meus filhos pequenos, para doer menos. Deixei de ir à minha terra porque ali tudo me lembrava dela. Uma noite, a minha mãe até me apareceu em sonhos e fez-me rir de tal forma que acordei às gargalhadas. Sei que tem estado comigo e quantas vezes quis voltar ao seu colo. Ela costumava dizer: 'filha, se tiveres de chorar, chora, mas depois limpa as lágrimas e segue em frente porque a vida não para'. Agora, de cabelo branco e curtinho, olho-me ao espelho e vejo-a a ela em mim. Tem sido a minha força, porque ela viveu os últimos oito anos com cancro, fez muitas mais cirurgias e muitas mais quimios do que eu e eu pensava... Se ela fez tudo isso para viver, eu também consigo! Agora sim, posso lembrá-la sem dor e reconhecer nela a minha grande inspiração.

Sinto-me grata por este cancro que me ensinou a viver a vida que sempre quis mas andava a adiarÉ hoje uma mulher diferente do que a mulher que era há um ano?

A antiga Virginia morreu. A nova Virginia renasceu. O pior ano da minha vida foi o melhor ano da minha vida. Parei de vez para entender o que me tinha levado até este cancro. Nunca questionei 'porquê a mim?'. Passei todo este ano a refletir sobre a questão 'o que tenho de aprender com isto?'. Aprendi muito, cresci muito e estou muito grata porque nunca imaginei uma onda de amor tão grande como a que tenho recebido. Sinto-me grata por este cancro que me ensinou a viver a vida que sempre quis mas andava a adiar por falta de tempo ou falta de dinheiro. Agora sei que vivi durante anos em estado de stress crónico, carregada de cortisol e com ressentimentos do passado que este ano consegui perdoar. Não estava a guiar-me pelos meus valores, não tinha as prioridades em ordem nem estava a ouvir o meu coração. Agora sei quais são os meus 'não negociáveis'.

Que cuidados terá de continuar a ter?

No meu caso, não quero ser 'saudável' só por algum tempo, do estilo: 'agora que tenho cancro não posso comer açúcar ou beber álcool ou fazer isto ou aquilo'. Eu decidi ser saudável o resto da minha vida. A meditação veio para ficar, o exercício também, a alimentação mais vegetariana, nada de processados, os óleos essenciais fazem parte da minha rotina, quero uma vida mais natural. As raivas dos outros não me pertencem e a gratidão e amor vieram para fazer vibrar no meu coração de forma consciente. Nada de cortisol no meu organismo, nem mágoas nem ansiedade. Quero viver o presente. Acredito que muitas dessas emoções são as que fazem as nossas células adoecer. Por isso criei o podcast e a comunidade 'Carpe Diem Para Mulheres Cansadas', para poder partilhar tudo isto com as mulheres que queiram ouvir e viver no presente, para não chegarem ao fim do dia sem energia vital. No fundo, os cuidados a ter são simples: proporcionar-me as condições certas para ser saudável e feliz.

Sempre senti dentro de mim uma voz que me dizia 'tu consegues' e decidi seguir essa voz

Acredita que o facto de ter encarado a doença com tanta força e boa disposição acabou por ser fulcral para que hoje possa dizer que venceu o cancro?

Sem dúvida! Cada vez mais acredito no poder da mente e do coração quando trabalham em equipa. Os meus 'mentores' têm sido Louise L. Hay e há uma frase dela com que fico: 'limpar os ressentimentos do passado podem curar até o cancro'. O segredo está no perdão. Também há uma frase do doutor Joe Dispenza: 'a melhor forma de prever o futuro é criá-lo'. Se acordamos a achar que o dia vai correr mal, passamos o dia à procura de experiências que validem essa crença. Eu sempre senti dentro de mim uma voz que me dizia 'tu consegues' e decidi seguir essa voz todos os dias e visualizar a cura. O cancro pode voltar um dia? A nível de probabilidades, sim... mas eu posso decidir acreditar que não, que temos mais poder de autocura do que pensamos e que os pensamentos determinam as emoções, estas determinam os comportamentos e estes os resultados. Eu escolho ver o copo meio cheio, mesmo depois de o ter acabado de beber. Porque podemos sempre enchê-lo outra vez.

Sei que a Virgínia recebe, diariamente, dezenas de mensagens de seguidoras que passaram, ou que estão a passar, pelo mesmo que passou ao longo deste ano. O que lhe dizem nestas abordagens?

Detesto a frase 'perdeu a batalha contra o cancro'. Para mim, todas as pessoas são vencedoras, independentemente do fim da história. Cada um tem a sua data marcada no calendário. A minha mãe viveu oito anos, esteve no meu casamento, nos partos, nos batizados dos meus filhos... e depois partiu. Isso não faz dela uma perdedora. Foi o que tinha de ser. O que ninguém controla é o dia em que a morte nos chama à nossa porta. Não podemos dizer 'volta outro dia que hoje não me dá jeito'. Mas também não podemos viver a pensar que somos eternos e adiar o que realmente queremos fazer, os nossos sonhos. Não podemos comprar as nossas desculpas e sermos vítimas de nós próprios. Não é preciso ter cancro para viver o presente, em 'carpe diem' [aproveita o dia]. Mas se temos cancro, então a urgência de viver a vida que queremos é ainda maior. Eu sei que é duro, que há dias que só quem passa por eles sabe o quão duros são, mas insisto nas palavras do doutor Joe Dispenza: 'o maior poder de autocura que existe no universo é o do nosso próprio corpo'.

Não me levem a mal, respeito muito quem está a sofrer, mas a minha mensagem é sempre de esperança. Acreditem em vocês, visualizem a cura e vivam o hoje. Ontem já foi, amanhã não sei se haverá, mas o hoje ninguém me pode tirar. Por isso criei a comunidade de WhatsApp. Não é só para mulheres ou homens com cancro, é para vibrarmos juntos e apoiarmo-nos. Os desabafos partilhados funcionam melhor. Quem quiser, pode aceder a partir do meu Instagram. Juntos somos sempre melhores.

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