Para este seu novo papel no cinema teve que pintar o cabelo. Como se sente na pele de uma loira?
Não tem nada a ver comigo. Nunca pensei mudar tão radicalmente de visual.
Quando se viu ao espelho, qual foi a reacção?
O que sinto é que nos próximos dois meses, tempo previsto para a
rodagem do filme, não vou ser a Soraia, vou ser a "Mariana". Tenho que
pensar na personagem. Mas quando terminar as gravações vou
imediatamente pintar o cabelo!
E a personagem "Mariana" tem alguma coisa de Soraia Chaves?
Não tem muito, confesso. É mesmo uma mulher que não tem nada a ver ver
comigo. Não se preocupa em seduzir, não se preocupa em estar bem. É uma
mulher que está muito satisfeita com a vida que leva, mas que está à
beira de um ataque de nervos por culpa dela. Está frustrada porque
sente que, de certa forma, perdeu a sua identidade. Há uma frase no
filme em que ela diz ‘sinto que a minha vida anda a ser ficcionada'.
E porque é que ela desperta tanta atenção por parte dos paparazzi?
Porque ela é uma estrela de telenovelas. No filme, ela é protagonista
de várias telenovelas. É a mais mediática e a mais desejada pela
imprensa.
Lembra-nos um bocadinho a Alexandra Lencastre, será?
(risos)...ela é a Mariana! A questão passa um pouco por aí. Ela está
nesse mundo e está com uma crise de identidade. Não sabe o que fazer da
vida. Está muito revoltada e agressiva. Diz tudo o que pensa. A
personagem, é de facto, muito engraçada. É uma história actual. Basta
ir a uma banca ver as capas das revistas e não é difícil hoje em dia
detectar vários casos. Mas não há, no filme, uma única referência
nominal.
Mas a "Mariana" vai apaixonar-se pelo paparazzo, interpretado por Marco d' Almeida?
A uma dada altura conhece uma pessoa e ela não sabe que é paparazzo.
Mas ele infiltra-se na vida de "Mariana"?
Não podemos contar, não convém (risos). Mas tinha de ser, porque isto é
uma comédia romântica. Somos o casal, sim. Como nos conhecemos, não
posso revelar. Os dois cruzam-se e acabam por mudar a vida um do outro.
 Na vida real, alguma vez teve de enfrentar uma notícia pessoal que a deixasse preocupada ou triste?
Preocupada? Não. Em relação à imprensa, eu tento criar uma certa
distância. E quando há invasão de privacidade, tento que isso não me
afecte. Não chego a ficar triste, mas se calhar fico chateada durante
uma hora ou duas.
Como é que lida com os paparazzi?
Por vezes somos apanhados desprevenidos em situações que fazem parte da
nossa esfera pessoal. Eu sinto que é uma invasão. Mas em Portugal não é
assim tão agressivo como noutros países. Não tenho tido experiências
más. Nunca tive ninguém à porta de minha casa, o que é muito bom
(risos).
A Soraia foge um pouco das novelas, porquê?
Não foi por falta de convites, mas os meus objectivos neste momento não
passam por aí e não são compatíveis com esse tipo de projectos. Tenho
investido mais no cinema. E certamente vou voltar a trabalhar em
televisão, assim o espero. Mas quero apostar mais na minha formação.
A propósito, sabemos que esteve no estrangeiro a fazer vários cursos de representação...
Sim. O meu último trabalho foi em Junho do ano passado e aproveitei
este intervalo para investir na formação. Estive a maior parte do tempo
em Madrid a estudar representação. Vinha a Portugal de vez em quando,
até porque estava pertinho. Mas estive também em Moscovo a fazer um
curso de teatro.
Porquê Moscovo, que é tão longe?
Porque o teatro nasceu em Moscovo. A escola do teatro tem origem em
Moscovo e a sua tradição está em Moscovo ou em Londres. Entre o
Shakespeare e o Tchekov, escolhi o Tchekov...
Aprendeu a falar russo?
Eu não falo russo... (risos)
Então em que língua é que se expressava? Inglês?
Também não. Estive numa das escolas mais prestigiadas da Rússia: o
GUITIS, que é o conservatório de Moscovo. O professor é russo e dá
estas aulas de teatro há 12 anos para grupos de fora, mas quem organiza
são brasileiros, é uma escola de teatro brasileira. Portanto, tínhamos
uma tradutora. Eu era a única portuguesa do grupo.
Recentemente vimos Soraia Chaves ao lado do conceituado actor, Clive Owen...
É verdade, tive esse privilégio. O encontro foi curto. Não deu para
formar nenhuma ideia acerca dele nem para alongar muito a conversa,
confesso. Mas foi um privilégio conhecê-lo. Estive num festival de
cinema em Dublin e foi numa das festas que conheci o Clive Owen.