Ganhou em Inglaterra o título de "Melhor Actriz de Teatro Musical" e ainda esteve nomeada para o prémio "Lawrence Olivier". Sonhava um dia chegar até aqui?
Sonhar, sonhei sempre até porque sou muito ambiciosa e, pelo menos, gosto de tentar. Nunca pensei  é que fosse tão rápido. Pensava que ia tirar o curso de teatro musical em Londres e o que é facto é que nem sequer o terminei... Mas tenho na mesma o diploma,  porque a escola achou que devia dar-mo... (risos). Correu bem e tive muita sorte.
Para estudar em Londres os seus pais tiveram que fazer alguns sacrifícios?
Como todos nós sabemos, Londres é uma cidade caríssima. Eu consegui apenas uma bolsa de estudo para as propinas da escola.
Estamos a falar de quanto?
Quatro mil libras por ano. Tive essa bolsa de estudo, mas era curta e os meus tiveram de fazer um empréstimo. Foi complicado porque arriscámos muito e as pessoas que me conhecem sabem bem os sacrifícios que foram precisos para ir para Inglaterra. Podia ter corrido muito mal, mas felizmente isso não aconteceu e comecei a trabalhar ainda antes do fim do curso.
Nos primeiros dois anos viveu com grandes dificuldades?
Sim, mas é muito normal (risos). Lembro-me de estar a trabalhar até às três horas da manhã no restaurante ao lado da escola. Éramos muitos os alunos da escola a trabalhar ali. Tinha que controlar as minhas despesas e muitas vezes contei trocos para poder comer. Tinha que poupar dinheiro para ir tomar um café, um pequeno luxo a que nós aqui em Portugal não damos valor.
Acabada de sair de Guimarães, chegou a Londres. Quais foram as primeiras impressões?
Adorei o ambiente da escola. Pensei que estava no "Fame". Por todo o lado havia actores, cantores e alunos com os seus instrumentos.
Havia alguma referência?
Várias. Passaram pela escola actores como Ewan McGregor, Daniel Craig ou Orlando Bloom.
Quando é que descobriu tinha jeito para cantar?
Sempre fez parte de mim essa vertente das artes do espectáculo mas ao mesmo tempo era muito tímida. Em quase todas as minhas brincadeiras em criança havia um palco, mas o público eram bonecas. Quando os meus pais me pediam para cantar em público eu recusava. Nem pensar em tal coisa! Mais tarde, para eu vencer a timidez, os meus pais inscreveram-me num grupo de teatro amador e foi aí que tudo começou. Tinha cerca de 13 anos.
Como surgiu a ideia de Londres?
Foi-me aconselhada por professores do Conservatório do Porto, para onde eu fui aos 18 anos. Diziam para eu tentar, já que não tinha nada a perder, e foi com esse espírito que parti para a aventura.
"O Fantasma da Ópera" foi o 1º grande papel da sua carreira em Inglaterra. Como surgiu esse desafio?
Vi o anúncio no jornal e pensei que era mais uma oportunidade de aprendizagem. Eram milhares de pessoas e neste género de coisas é importante aparecer e começar a ser vista pelos directores de casting. Passados oito meses ligaram-me a dizer que tinha ficado com o papel. Estava perto da escola e tive que me sentar durante meia hora e só depois liguei aos meus pais a contar a novidade. Estava em pânico.
E logo a seguir entrou no "West Side Story"...
Acabou por ser muito mais simples. Não tinha agente, as audições eram fechadas e fiquei logo com a ideia de que não iria conseguir. Já tinham escolhido três possíveis "Marias", mas o director americano veio vê-las e não gostou de nenhuma. Viram-me no "Fantasma da Ópera", gostaram e convidaram-me.
Graças a esse papel, ganhou o prémio de Melhor Actriz de Teatro Musical...
A boa onda começou logo quando estreámos o "Fantasma da Ópera". Os críticos lá são impiedosos. Conseguem destruir uma carreira ou deitar abaixo um musical, mas comigo foram muito generosos...
As críticas do "Times" davam conta que Sofia Escobar é "melhor que a Natalie Wood", graças à sua "voz angelical". Quando leu isto o que pensou?
Não há palavras que possam descrever o que senti nesse momento, porque de facto as críticas foram muito positivas para mim e para o espectáculo também.
Já atingiu na sua carreira o que queria?
Há sempre mais qualquer coisa e os sonhos evoluem. Quero fazer mais personagens!
Há alguma em especial que gostasse de fazer?
Tive uma oferta para fazer de "Cosette" no musical de "Os Miseráveis", mas recusei porque é mais uma tournée e estou muito cansada.    
Já se dá ao luxo de recusar?
(Risos) Confesso que não foi fácil, porque o desafio era muito tentador. Convidaram-me também para fazer a tournée mundial do West Side Story, que está agora no Japão, e também tive que recusar. Preciso de um novo desafio e não quero ficar marcada por uma só personagem.
Se surgisse um convite para um musical em Portugal, por exemplo um do Filipe La Féria, aceitava?
Depende do papel e da minha vida nessa altura. Vi o nosso "West Side Story", é muito diferente do que fiz em Londres, mas confesso que gostava muito de trabalhar em Portugal. Os musicais de La Féria são mesmo muito bons.
E cinema? Faz parte dos seus planos?
Cinema é um sonho muito antigo que quero concretizar até porque comecei a minha carreira como actriz e não como cantora.  Tenho uma grande paixão pelo mundo da representação.
Considera-se uma verdadeira mulher do norte?
Sou uma mulher do norte sem os nervos à flor da pele. Sou calma, mas se me pisam os calos...
A Sofia encontrou em Londres um grande amor, mas infelizmente as coisas não correram bem. Pensa em constituir família?
Quero muito ter uma família. Gostava de ter dois ou três filhos (risos). Quero encontrar a pessoa certa, mas neste momento não tenho tempo para ter uma relação com ninguém.
Foi por isso que a Sofia e o Gavin terminaram o namoro?
Penso que sim. Tanto eu como ele passamos o tempo todo a viajar, porque o Gavin também é actor. O fim da nossa relação foi muito pacífico.
Não há nenhuma paixão em terras lusas?
Ui... isso seria problemático (risos).
Pensa regressar a Portugal definitivamente?
Penso. Às vezes apetece-me fazer a mala e vir embora porque as minhas raízes estão aqui. Sou portuguesa e é aqui que eu deveria trabalhar. Um dia isso vai acontecer!