A convite da Sociedade Portuguesa de Cefaleias (SPC) e da MiGRA - Associação de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias, Rita Redshoes lançou, em 2019, a música 'Migraine', inspirada na realidade dos doentes que sofrem de enxaquecas.
O desconhecimento sobre a patologia e a necessidade de debate sobre a forma como impacta a vida dos doentes voltaram a falar mais alto e o tema musical foi recentemente materializado num videoclipe protagonizado pela artista.
Em conversa com o Fama Ao Minuto, Rita Redshoes falou-nos das peculiaridades da doença que afeta cerca de um em cada sete portugueses.
Lançou este tema musical dedicado às enxaquecas em 2019 e chega agora o videoclipe. Qual a mensagem que quer transmitir?
Tanto a canção como o videoclipe aquilo que pretendem é chamar a atenção da sociedade civil, sobretudo quem não sofre de enxaquecas e cefaleias, para o quão incapacitante é esta doença. Normalmente, pensa-se que é só uma dor de cabeça, mas a verdade é que quem sofre de enxaquecas não consegue trabalhar, ter uma vida normal, porque não se pode ouvir barulho nem ver luzes. Há ainda algum desconhecimento. O vídeo, de forma artística, tenta através de fumos e imagens de espelhos partidos passar a sensação do que é ter uma dor de cabeça deste género.
É, sobretudo, uma mensagem de solidariedade e empatia?
É uma mensagem de empatia para com as pessoas que veem a sua vida em suspenso por causa desta doença. Por outro lado, é também para chamar a atenção de pessoas que possam ser mais insensíveis à causa e trazê-las um bocadinho para essa solidariedade.
Quando diz que é importante sensibilizar outras pessoas, refere-se, por exemplo, às entidades empregadoras?
Sim, é uma das preocupações da Sociedade Portuguesa de Cefaleias e da MiGRA. No âmbito profissional os patrões perceberem que as pessoas não conseguem ir trabalhar porque estão com uma dor de cabeça. É uma dor de cabeça que é mesmo incapacitante, há pessoas que não conseguem levantar-se da cama. Ainda há alguma incompreensão e as pessoas são lesadas por falta de ser um assunto mais discutido.
Sendo um tema tão específico, quais foram os maiores desafios em abordá-lo e torná-lo em arte?
Todos tínhamos a preocupação de não passar uma imagem pesada, porque já basta as pessoas que sofrem da doença. Tentou-se ir buscar algumas sensações, como a vista turva, o sentido de confusão, as imagens distorcidas ou até mesmo a sensação de solidão. Concentramo-nos mais nesses pontos e tentamos ilustrá-los de uma forma mais visual e não tanto alguém a bater com a cabeça nas paredes por desespero.
Este trabalho vem reforçar que a arte está ‘escondida’ nos mais comuns detalhes da vida?
Tudo é passível de se partilhar artisticamente, mesmo sendo um tema que à partida é apelativo. Este podia ser um tema difícil de ilustrar, mas tanto a letra como a música e o vídeo, acho, respeitaram bastante aquilo que as pessoas sentem. Não é para ser um vídeo bonito, trata-se de uma causa.
Como está a ser o feedback do público? Chegam-lhe testemunhos de doentes com enxaquecas?
Sim, tenho recebido bastantes testemunhos e mensagens de agradecimento por se verem de alguma forma representados. É uma doença bastante posta de parte. As mensagens vêm de todas as partes do mundo e são de agradecimento pela empatia.
Sofre desta patologia?
Felizmente, não.
Estando a representar estes doentes, onde é que se inspirou para a realização do videoclipe?
Na própria letra, que é escrita por uma neurologista. Também tive algumas conversas sobre o que as pessoas sentem. Por outro lado, não sofro de enxaquecas, mas sofro de sinusite e já tive ataques fortes. De alguma forma, fui buscar essa lembrança para tentar interpretar o possível mal-estar de uma enxaqueca.
De que forma é que espera que este trabalho, além de uma mensagem de solidariedade, seja uma mensagem de esperança?
Cada vez mais, há dados científicos e medicamentos que ajudam nesta patologia. Algumas pessoas que sofrem da doença ainda não sabem das soluções e, nesse sentido, espero que possam encontrar-se com esta música, com a Associação Portuguesa de Cefaleias e com a Migra, porque têm entidades e médicos especializados que podem ajudar.
Não posso deixar de perguntar como está a lidar com este confinamento?
Expectante. Aprendi com o primeiro confinamento a viver um dia de cada vez e a não alimentar grandes esperanças. Há uma maior compreensão sobre o que temos de enfrentar, mas é um bocado complicado. De repente vejo a minha vida profissional completamente em suspenso, muitos colegas estão em situações complexas. Além da frustração que é querer trabalhar e não se poder. Há que ter paciência e resiliência.
Como tem combatido esse congelamento da agenda?
Tentei arranjar alternativas, consegui criar projetos paralelos que não passam por dar concertos. Criei um programa com a rádio Zig Zag de atividades para crianças, tive um podcast de sonhos na Rádio Comercial. Tenho um projeto com empresa Between sobre alimentação saudável para os mais pequeninos e onde faço apresentações por Zoom para as creches. Vou tentando diversificar a minha criatividade de modo a ter algum income financeiro e para não ficar frustrada sem atividade, porque acho que isso faz muito mal à saúde mental.
Enquanto artista, está confiante nesta fase de desconfinamento?
Já estive mais otimista. Agora prefiro esperar para ver. O número de casos sobe, o Rt sobe… enquanto a maioria da população não for vacinada, será complexo e há o receio de voltar a meses como janeiro e fevereiro.
Falou no tema da saúde mental. Era também um assunto que gostasse de abordar artisticamente?
Sim, as minhas canções, de forma não literal, abordam esse tema. Sou licenciada em psicologia clínica e tenho algum historial clínico em termos de depressão. É uma coisa que tem de ser cada vez menos tabu porque as pessoas ficam isoladas a acharem que são malucas ou que quem têm de ir ao psicólogo é maluco, quando não é assim.
Quais são os planos futuros que nos pode desvendar?
Com alguma cautela, espero que alguns concertos que tenho agendados se realizem, que o meu disco possa sair, finalmente, e que venha uma digressão.
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