Aos 11 anos, por mero acaso, deu os primeiros passos como atriz. Pouco depois tornou-se numa das inesquecíveis 'super filhas' de Luís Esparteiro ao fazer parte do elenco da série 'Super Pai'. Sofia Arruda cresceu alumiada pelas luzes dos estúdios de projetos de grande sucesso na televisão, no teatro afirmou-se como atriz e sob o olhar atento dos portugueses fez-se mulher, casou-se e é agora mãe do pequeno Xavier.

A experiência da maternidade mudou a sua vida e é sobre ela que fala no seu novo livro - 'Calma, Vai Correr Tudo Bem'.

Este é um livro onde, sem pudores, aborda os grandes tabus da gravidez e do pós-parto, e foi este o ponto de partida para uma entrevista

Em entrevista ao Fama Ao Minuto, Sofia Arruda passa em revista a sua carreira e fala-nos sobre os grandes tabus da gravidez e do pós-parto.

A tua carreira começa muito cedo, aos 11 anos. Era um sonho ser atriz ou foi um acaso?

Aconteceu mesmo por acaso. Vivia ao pé de Lisboa, mas numa quinta, com os meus avós, com uma tia e com os meus primos. A minha tia ia com o meu primo Miguel, que tem a mesma idade que eu, a um casting. Nós éramos mesmo muito próximos, tipo irmãos... e, sei lá, alguém da família ia a Lisboa e lá íamos todos passear. Enquanto estávamos à espera, a produtora disse que também estavam a fazer castings para meninas e perguntou se eu também gostava de fazer. E eu fiz, não faço ideia qual era o texto, não me lembro se fiquei nervosa, não tenho memória nenhuma disso.

Depois, passados bastantes meses, ligaram-me para fazer um episódio da série ‘SOS Crianças’... e tive a minha estreia em televisão rodeada de belíssimos profissionais, o senhor Ruy de Carvalho, o João Reis. Foi uma estreia em grande e não podia estar melhor acompanhada, ensinaram-me muitas das coisas que sei hoje. Aprendi muito nesses dias de gravações.

Fui fazer a licenciatura, mas não gostei nada. Não me identifiquei

E depois aparece na tua vida a série 'Super Pai'...

Sim, e isso foi outra coincidência. A produção da ‘SOS Crianças’ foi a mesma que estava a avançar com o projeto ‘Super Pai’ e alguém lá dentro, que eu não sei quem, mas agradeço, lembrou-se que tinham gravado no ‘SOS Crianças’ com uma menina loirinha que podia ser a filha do Luís Esparteiro.

Aí já foi uma experiência mais longa. A série durou bastante tempo e teve um grande sucesso.

Sim, foram dois anos de gravações e, por isso, ficaram também amizades para a vida. Era um elenco muito pequeno e estávamos praticamente todos os dias juntos, foi muito intenso.

Como é que foi nessa altura, em que eras ainda muito nova, lidar com exposição que o 'Super Pai' te deu?

Não havia a Internet que há hoje, não havia redes sociais, era uma exposição muito cara a cara. Eram os miúdos e as famílias que quando me viam na rua vinham falar, pediam um beijinho, uma fotografia, o que tornava as coisas muito próximas, bastante queridas e controladas até. Às vezes, nos centros comercias, gerava-se assim alguma multidão, mas fora isso era tudo muito tranquilo. Não havia a exposição que há hoje em dia e que nos faz estar sempre ao alcance de toda a gente.

Depois do 'Super Pai' vieram os 'Morangos Com Açúcar', outro grande 'boom' de audiências e popularidade.

Sim, é verdade [risos].

No fundo passaste parte da tua infância e adolescência inserida no meio artístico e sendo já uma figura pública. Sentiste algum tipo de limitação nessa altura por seres famosa?

Não, era a minha realidade. A verdade é que não cresci com outra realidade. Para mim era normal que os meninos da minha idade olhassem, comentassem e viessem ter comigo para pedir um beijinho ou um autógrafo.

Claro que para quem está ao meu lado acaba por ser mais chato. Lembro-me de ir ao centro comercial com uma prima que me disse: ‘Nunca mais venho ao centro comercial contigo. Tens noção que estamos aqui há uma hora e que tens pessoas a seguirem-te há uma hora?’. E eu não tinha reparado, não dei conta. Já era uma coisa tão normal ter pessoas a olhar que acabava por não ver. Não reparava se estavam a tirar fotografias às escondidas ou a comentar alguma coisa. Acho que por isso não afetou muito a minha adolescência. Sempre pude fazer tudo normalmente, nunca tive grandes limitações. A única pessoa que me colocava limitações era a minha mãe.

Com o David o que aconteceu é que ainda no início do namoro, ainda havia paparazzis, fomos ‘apanhados’ a andar de patins...

Quando, mais tarde, decides fazer o curso de Comunicação Social, era uma espécie de plano B?

Foi um plano B, sim. O que aconteceu é que tive ali uns anos em que não sabia bem o que queria, nem se queria continuar a representar, porque gostava de outras coisas também. Gostava de desenhar, gostava de moda. Acabei por fazer uma formação em Design de Moda e ainda pensei ir viver para o Porto para fazer lá a faculdade. Fiquei um bocadinho indecisa e, no meio dessas indecisões todas, acabou por surgir a licenciatura em Comunicação Social e eu pensei: 'Bem, como gosto de comunicar, jornalismo pode ser uma boa vertente'. Fui fazer a licenciatura, mas não gostei nada. Não me identifiquei e acho que não tenho perfil nenhum para jornalista. Acabou por não acontecer e nem acabei a licenciatura, ficaram umas cadeiras para trás.

Quando decides lançar-te no digital, com o teu canal de YouTube, foi uma forma de dares a volta à tua carreira numa fase de menos trabalho ou foi uma aposta pensada?

Foi um bocadinho das duas coisas, estava com trabalho em televisão mas que não me ocupava os dias todos e, ao mesmo tempo, vi que estava a crescer uma zona que eu não conhecia. Para mim o YouTube, até à altura em que decidi entrar, era uma coisa de miúdos a fazerem desafios parvos ou uma forma de ver videoclipes. Não sabia que havia este mundo gigante do YouTube, onde se pode aprender tantas coisas e onde há canais especializados. Foi por aí, comecei a consumir e isto coincidiu com uma altura em que comecei a receber muitas mensagens a pedir tutoriais sobre maquilhagem e looks. Comecei a fazer de forma muito ingénua e muito leiga… coitados dos meus primeiros vídeos, metade do vídeo era desfocado. Não sabia mesmo como fazer e com essa experiência aprendi sozinha muitas coisas de edição. Comecei a perceber de luz, de som, enquadramento. Deu-me muita bagagem para depois começar a fazer trabalhos com marcas e a desenvolver projetos meus, como foi o caso do ‘BabyBoom’.

Sempre foste muito discreta em relação à tua vida privada, mas a certa altura decides tornar pública a tua relação.

Em miúda sempre que tinha namorados, se a relação era estável, eles acompanhavam-me nos eventos. Claro que era de uma forma bastante discreta, mas nunca escondi os meus relacionamentos. Com o David o que aconteceu é que ainda no início do namoro, na altura ainda havia paparazzis, fomos ‘apanhados’ a andar de patins... muito românticos. Isso tornou logo o relacionamento público, apesar de na altura terem errado no nome dele. A partir daí a nossa relação foi-se consolidando. Passaram 10 anos e o David acompanha-me nas estreias dos meus espetáculos. Sempre o coloquei muito à vontade dizendo-lhe que pode acompanhar-me mas não é obrigado a ser fotografado. Há dias em que ele quer, outros em que não quer. Nas redes sociais acabamos por partilhar algumas coisas da nossa vida e isso, se calhar, faz com que as pessoas se sintam mais próximas deste relacionamento do que dos outros.

O casamento com o David foi um sonho concretizado?

Sim, era uma coisa que queria bastante. O David queria 'QB' [risos]. Queria acima de tudo fazer uma festa para os nossos amigos e a nossa família e foi exatamente isso que aconteceu. Fizemos uma grande festa e depois fomos de lua de mel. Casava outra vez só para ir outra vez de lua de mel, nunca tive tantas férias na vida. Três semanas de lua de mel, foi maravilhoso, e depois vem o nosso Xavier.

A primeira coisa que pensas é: não é justo. Gravidez não é doença, quase não tenho barriga e, no entanto, não posso trabalhar

Precisamente, depois vem o Xavier e no teu novo livro - 'Calma, Vai Correr Tudo Bem' - falas de um tema muito importante: a ansiedade de não conseguir engravidar no tempo desejado. Algo que aconteceu contigo.

Não há um timing, nós não escolhemos. As mulheres quando querem engravidar, muitas vezes, demoram muito tempo. No meu caso foram seis meses, mas tenho casos próximos em que demoraram anos e realmente causa ansiedade. Dizia para mim mesma que não estava ansiosa, mas a verdade é que havia uma voz na minha cabeça a pensar: será que foi desta, será que estás grávida? Causa ansiedade e as pessoas à nossa volta também contribuem um bocadinho para essa ansiedade. Acabam sempre por perguntar: ‘Então e o bebé? Já casaram, agora tem de vir o bebé’. Isto acaba por criar ansiedade, mesmo quando somos jovens e está tudo bem.

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[A capa do novo livro de Sofia Arruda]© Reproduções Instagram / Sofia Arruda

Acabas depois por engravidar quando tinhas colocado a ideia de lado porque ias fazer uma nova novela.

Acho que, se calhar, é isso mesmo. Quando nós parámos de pensar nessa possibilidade, porque deixou de ser um possibilidade, agora eu vou fazer a novela e não faz sentido engravidar, é que acaba por acontecer.

Quando percebes que já não podias fazer aquele trabalho, isso mexeu contigo? Sentiste de alguma forma que não era justo?

É ingrato comparativamente com os meus colegas homens que são pais e que continuam a trabalhar à vontade. A minha personagem naquele projeto não poderia engravidar, não era possível esconder uma barriga naquela personagem. A própria personagem era uma mulher que não queria engravidar, mas claro que, na altura, a primeira coisa que pensas é: não é justo. Estou bem, sinto-me bem. Gravidez não é doença, quase não tenho barriga e, no entanto, não posso trabalhar.

Custou-me um bocadinho gerir essas emoções, porque depois já existe a questão hormonal, mesmo não querendo assumir. Nunca foi opção não ter o bebé, mas fiquei um bocadinho aflita porque não gosto de falhar com os outros e sentia-me a falhar com a produção. Eles foram impecáveis e não houve problema nenhum, mas pronto tiveram de contratar outra atriz.

Não se sintam um E.T. porque o bebé está bem e elas choram, porque só lhes apetece chorar. É normal, aconteceu comigo também

Esta não foi a única fase em que tiveste dificuldade em gerir emoções durante a gravidez, chegaste a pedir ajuda profissional nesse sentido.

É sempre importante procuramos especialistas e sem vergonha. É normal as grávidas e até os pais sentirem alguma ansiedade, porque é tudo novo. Lembro-me que dizia à minha obstetra: ‘Doutora, quero fazer todos os exames que existem para ter 100% de certeza que o meu bebé está bem.’ E quando ela me diz que não há nenhum exame que me fosse dar 100% de certeza, fiquei com ansiedade. Não sabemos como vai ser, é uma carta fechada, só no parto é que sabemos… às vezes só mais tarde.

No teu livro revelas "o que não nos contaram sobre a gravidez e o pós-parto". Ainda há muitas coisas que não são faladas no que diz respeito a estes temas?

Sim, sem dúvida. Houve várias coisas que não fazia ideia que pudessem acontecer e algumas acabaram por acontecer comigo, foi assim que percebi que não se falava sobre isso. Apesar de ter várias amigas que já foram mães e que partilhavam tudo, achava eu que partilhavam tudo, a realidade é que as pessoas não o fazem. Vão guardando estes momentos de ansiedade, de medos. As coisas menos bonitas guardam para elas, o que eu percebo, não se querem expor, mas por outro lado faz com que as as mães criem expetativas de gravidezes perfeitas e tranquilas e pós-partos bonitos, que depois não acontecem assim. Foi por aí que achei que podia ajudar contando as coisas na primeira pessoa. Claro que acabo por me expor, claro que depois existem capas de revista menos bonitas, mas como estou muito mais tranquila e já não tenho aquela coisa das hormonas, consigo lidar bem com isso.

Uma capa ou outra menos bonita não fazem mossa se conseguir ajudar várias mães a ficarem mais tranquilas durante a gravidez e a sentirem-se mais representadas. Quero que não se sintam um E.T. porque o bebé está bem e elas choram, porque só lhes apetece chorar. É normal, isso acontece, e isso aconteceu comigo também.

Fiquei mais magra do que estava antes de engravidar. Não podia estar tão magra

No teu caso, o que é que não te contaram sobre a gravidez ou o pós-parto e que te deixou mais surpreendida ao descobrires?

Acho que o que mais me custou foi mesmo lidar com os ataques de choro no pós-parto. Na minha cabeça, achava que só as mulheres que tinham tido uma gravidez muito difícil ou que não estavam bem acompanhadas e que se sentiam sozinhas é que iam passar por isso e ter motivo para chorar. E quando, de repente, acordava a chorar e com vontade de chorar, pensava: eu não tenho direito a isto. Porque é que estou a chorar? Não tenho nada para chorar, não tenho motivo nenhum, tenho um bebé que é saudável, tenho a família à minha volta a ajudar-me, estou ótima, está tudo bem. E, no entanto, tinha motivos para chorar. Eram as hormonas, a pressão que eu colocava em mim, tinha um ser humano dependente de mim 24 horas por dia. Não sabia disso, não sabia que podia ser atacada por esses baby blues. Só depois quando falei com pessoas que me eram próximas é que elas confidenciaram que tinham passado por isto. E eu pensei, como assim? Como é que passaram por isto e ninguém me avisou?

As coisas têm de ser faladas e por isso é que decidi escrever o livro na primeira pessoa, com uma linguagem nada médica e muito acessível.

No que diz respeito à recuperação pós-parto, achas que a pressão é maior para quem é figura pública?

Acho que só pelo facto de ser mulher já há essa pressão, vejo à minha volta pessoas que não são figuras públicas e que sentem essa pressão. Têm um bebé em fevereiro e já estão a pensar se vão estar boas para o verão.

Coloquei na minha cabeça que a minha recuperação iria ser de dentro para fora, não ia estar preocupada em fazer massagens nem tratamentos. Primeiro tratar a cicatriz da cesariana e depois, quando me senti realmente confortável e já com alta médica, voltar aos treinos. Fui começando com muita calma, não tinha nem força de vontade, nem força física. Tive de começar tudo outra vez como se nunca tivesse treinado na vida.

Como figura pública preocupo-me em mostrar a minha realidade, mas não consigo controlar se a minha realidade vai ser motivo de frustração

Mas a verdade é que recuperaste muito rapidamente a forma.

O que aconteceu é que devido ao meu metabolismo perdi muito peso durante a amamentação, fiquei mais magra do que estava antes de engravidar. Não podia estar tão magra, portanto o trabalho foi feito de maneira a ganhar massa muscular outra vez. Foi um trabalho quase de fisioterapia durante o primeiro ano do Xavier, só depois voltei aos treinos normais e com outros objetivos.

Na era digital que vivemos, os exemplos de mulheres e celebridades que ao sair da maternidade já estão em forma acaba por trazer ainda mais pressão às mulheres?

Claro que sim, claro que cria mais pressão, mas acho que também tem de ser um trabalho individual de cada pessoa. Se só seguir contas que não têm nada a ver com a minha realidade, vou estar sempre frustrada. Temos de seguir contas que nos fazem bem, e depois há, claro, um discernimento de perceber que aquele corpo não é igual ao meu.

Não podemos só culpar os outros, não pode ser só aquela pessoa que não pode mostrar que é magra e que tem abdominais assim que a criança nasce. Claro que pode! Se for falso, acho muito mal, mas se é a realidade dela, ela pode mostrar. Da mesma forma que eu depois de o meu filho nascer continuei com uma barriga de cinco meses e mostrei. Tinha uma barriga enorme e com o passar das semanas e dos dias ela foi diminuindo. Também não achei que ia ficar com uma barriga tão grande. Como figura pública preocupo-me em mostrar a minha realidade, mas não consigo controlar se a minha realidade vai ser motivo de frustração para as pessoas que a vão ver.

Desde que se engravida até ao pós-parto, durante todo este processo 'chovem' palpites da sogra, da tia, da avó...

É verdade [risos].

Uma mulher falar sobre a sua sexualidade é motivo de capa de revista? As mulheres não podem ter desejo sexual?

E agora esses palpites surgem também nas redes sociais. Como é que lidas com isso?

Há sempre quem dê alguns palpites, mas às vezes eles até são bem-vindos. Há pouco tempo uma seguidora alertou-me de que não devia ter o Xavier preso aos cintos da cadeira da papa, porque se ele se engasgar o facto de estar preso pode dificultar as coisas. Nunca tinha pensado nisso. Foi um conselho e foi uma coisa boa, foi útil. É bom conseguirmos fazer esse filtro e dar valor só aquilo que é importante. Nem tudo o que vem da Internet e é gratuito é mau. Eu não tenho muitos haters em relação à maternidade, não me posso queixar.

Outra coisa que falas no livro, e esta sim já deu capas de revista, é o tema sexualidade. Admites que tiveste mais líbido durante uma fase da gravidez e as dificuldades em voltar a ter relações sexuais no pós-parto. O facto de as tuas declarações terem sido capa de revista prova o quanto o tema ainda é um tabu?

Sim, exatamente. É triste por isso, porque ainda é tabu. Uma mulher falar sobre a sua sexualidade é motivo de capa de revista? As mulheres não podem ter uma opinião? Não podem ter desejo sexual? Continua a não fazer sentido e, lá está, mais um motivo para estar no meu livro e para falar sobre isto. Se as mulheres sem estarem grávidas já têm esta pressão de, se falam sobre isto serem conotadas de isto e daquilo... grávidas então as mulheres ficam muito mais inibidas.

A ideia era exatamente falar abertamente sobre o tema para passar a mensagem às grávidas de que é normal, que podem vir a ter mais desejo sexual, que podem vir a ter menos desejo sexual, que não há uma altura para retomar as relações sexuais, que podem pedir ajuda, e devem pedir ajuda depois do pós-parto para retomar as relações sexuais. Não é fácil, 90% das mulheres têm dor e vivem com essa dor achando que é normal. Não se fala sobre isso e as mulheres acham que têm de retomar a relação sexual, sentem a pressão da família que começa a dizer: ‘Então, olha que depois o marido vai procurar fora’. Coisas deste género, que me foram relatadas. Por isso decidi falar sobre o tema, senti que há mesmo uma vergonha imensa de se falar, quer em casa, quer nos grupos de amigas. Não se fala, assume-se que é assim: A mulher depois de dar à luz tem de estar pronta para retomar a vida sexual e de cara alegre, e isso muitas vezes não acontece. Já durante a gravidez pode até acontecer as mulheres terem muito desejo sexual... e não o devem reprimir só porque são mulheres. Se for o marido a procurar está tudo bem, se for a mulher já dá capa de revista.

Cheguei a ouvir de familiares mais velhos que tinha muita sorte porque o meu marido me ajudava. E eu pensava: mas calma lá, ele não me está a fazer nenhum favor

Outro grande tabu da maternidade prende-se com a divisão de tarefas entre a mãe e o pai das crianças.

Acho que isso vem muito dos nosso pais, daquilo que não acontecia antes. Os familiares mais velhos ainda veem como uma coisa estranhíssima o facto de o pai participar tanto como a mãe.

Sei que o David divide contigo todas as tarefas. Sentiste nos outros a estranheza pelo facto de isso acontecer?

Cheguei a ouvir de familiares meus mais velhos que tinha muita sorte porque o meu marido me ajudava. E eu pensava: mas calma lá, ele é o pai da criança, ele não me está a fazer nenhum favor, ele tem de participar tanto como eu.

O pai pode partilhar todas a tarefas e fazê-las sem a presença da mãe. Mas essa parte acho que já está a mudar, os pais têm cada vez mais uma participação ativa e querem fazê-lo sem vergonha. Já começa até a ser motivo de orgulho.

Como é que foi este primeiro ano do Xavier?

Foi ótimo. Passámos pelo confinamento, mas o que fez com que no caso do meu marido ele ficasse em teletrabalho e pudesse estar mais tempo em casa. Conseguimos estar mais tempo os três e ver a evolução do Xavier. Ele é uma criança amorosa e que nos dá alegrias e anima todos os dias.

Aí sentia-me a pior mãe do mundo e voltava a correr para casaFoi difícil para ti voltar ao trabalho depois de teres sido mãe?

Voltei ao trabalho o ano passado, em junho, com o espetáculo ‘Mais Respeito Que Sou Tua Mãe’, trabalhava de quarta a domingo e sempre à noite. Foi gradual, ficava durante o dia com ele e quando o David chegava a casa eu ia trabalhar. No final do ano retomei à televisão com as gravações de ‘Patrões Fora’, mas também já estava a trabalhar a parte do digital e estava muitas vezes fora durante o dia. Adaptámo-nos muito bem. O Xavier ou fica com a minha mãe ou fica com os meus sogros. Ele está sempre em família e eu fico 100% descansada, são avós espetaculares. Claro que quando tenho de ficar dois ou três dias sem o ver, porque estou a trabalhar fora de Lisboa, fico a morrer de saudades, mas temos de gerir essas saudades.

Não tiveste de lidar com o sentimento de culpa que acaba por assombrar muitas mães na altura de deixarem os filhos aos cuidados de outras pessoas?

Neste momento não sinto essa culpa, senti bastante nos primeiros meses de vida do Xavier. Já estava com alguns trabalhos e dava de mamar, saía para trabalhar e de repente ligava-me a minha sogra ou a minha mãe a dizer: ‘Sofia, tens de voltar que ele não quer o biberão e só chora'. Aí sentia-me a pior mãe do mundo e voltava a correr para casa. Ainda estava com as hormonas ao saltos e tinha esse sentimento de culpa, foi muito complicado. Agora as coisas já estão mais controladas.

Um conselho para as futuras-mamãs, que conforto vão elas encontrar no teu livro?

No meu livro podem encontrar um relato verdadeiro da minha gravidez, da minha experiência. Podem encontrar uma amiga que vos vai contar as coisas todas ao pormenor, sem tabus. E espero que isso vos vá tranquilizar e que se sintam mais acompanhadas. Às vezes temos tanta gente à nossa volta e sentimo-nos muito sozinhas, achamos que ninguém está a sentir o mesmo que nós. Este livro vai ajudar-vos.