Nunca sonhou ser atriz, mas a vida encarregou-se de a levar para o mundo artístico, onde permanece até aos dias de hoje.

Nasceu em Portugal, mas teve sempre uma forte ligação a Espanha, uma vez que a sua mãe é espanhola.

Viveu em Portalegre até iniciar a sua carreira académica em Lisboa. Inicialmente, entrou no curso de Medicina, mas ficou inacabado. Nessa altura, foi convidada para fazer parte da associação a Universidade Nova de Lisboa e foi aí que decidiu “iniciar” um grupo de teatro no estabelecimento de ensino. Para isso, pediu ajuda ao Conservatório, onde acabou por ficar a estudar, tendo tirado um curso na área da representação.

Aos 58 anos, Custódia Gallego conta com um vasto ‘currículo’ em teatro, cinema e televisão. Uma carreira que é hoje assinalada em entrevista ao Vozes ao Minuto.

Apesar de ser portuguesa, as férias de verão eram passadas em Espanha, uma vez que é filha de mãe espanhola.

Sim, até vir para Lisboa iniciar a carreira académica universitária. E mesmo depois, sempre que podia [ia lá].

Quais as melhores memórias que guarda dos momentos que passou no país vizinho?

Senti-me realmente privilegiada por duas razões principais. Porque emocionalmente tinha a minha abuela, o meu abuelo, a Titina [tia-avó], - que faziam parte daquele agregado familiar, que era a minha avó, mãe da minha mãe, a tia da minha mãe e o pai Essas três pessoas foram realmente aquilo que eu acho mais parecido com a família. Claro que os meus pais também eram a minha família, mas eles se calhar eram a parte da família que me educavam e os outros eram os que só me amavam.

Por outro lado porque, nessa altura, vivíamos em Portalegre e nas capitais de província, naquela altura, havia muito os estigma da moralidade sobretudo na classe média que era a que nós pertencíamos. E em Espanha não. Espanha era aquela liberdade que hoje em dia não faz diferença nenhuma, mas naquela altura para eu sair à noite era uma desgraça total. Em Espanha isso era normal. Saía-se com as crianças às sete da tarde para o el paseo, para picar, beber uns copos, conversar, e as crianças andavam ali a brincar à vontade. Era uma cultura que, sendo ibérica, era completamente diferente.

Entretanto, cresceu e entrou no curso de Medicina na Universidade Nova de Lisboa [sendo que não acabou a licenciatura]. Teve então a ideia de 'criar' um grupo de teatro no estabelecimento.

Convidaram-me para fazer parte da associação e politicamente eu até era um bocadinho inculta em relação a todas as pessoas que estavam ali. Portanto, não consegui integrar em nenhuma atividade se não no lazer - que eram as festas e, uma coisa que eu já sabia, nas universidades havia muito o culto.

O teatro é uma coisa fundamental porque ajuda muito o crescimento das pessoas, ajuda muito a socialização das pessoas, ajuda muito o lazer e o prazer com esse lazer. Percebi que não havia, então iniciei o grupo de teatro.

Na altura, para mim, ser artista de teatro era ter jeito, não era preciso propriamente aprender

Para o fazer, pediu ajuda ao Conservatório. Como é que se desenvolveu todo esse processo?

Eu pensei: ‘Não vamos fazer um grupo de teatro completamente amador, com cada um a dizer algumas coisas e depois fazer umas festinhas’. Fui pesquisar o suficiente para dizer: ‘Agora não me vou armar em encenadora. Se vamos fazer isto, aproveitamos alguém que está a estudar para ser encenador e vamos convidar a ver se alguém está interessado em começar a exercitar a sua atividade connosco’.

Cheguei lá, falei com algumas pessoas, expliquei o que era e comecei a ir lá almoçar muitas vezes… Para mim, ser artista de teatro era ter jeito, não era preciso propriamente aprender. Qualquer um podia ser ator desde que tivesse jeito. E então [nessa altura percebi]: ‘Não espera aí, afinal é uma profissão como deve ser, não é só quem tem jeito’. Pronto, foi a gota de água. Depois abriram os exames de aptidão, eu fiz e passei.

Depois não conseguiu conciliar a medicina e o teatro e teve de escolher uma das áreas…

Não foi só conciliar. A partir do quarto ano de medicina é muito mais hospitalar, mais intenso em termos de horas. Não era possível e eu já tinha decidido o que é queria fazer da minha vida.

Mas os pais não concordavam com a sua escolha.

Só depois de eu ter acabado o Conservatório, depois de ter mesmo de dizer: ‘Já terminei o curso, afinal isto pode ser uma profissão. Eu tirei o curso do conservatório, é uma licenciatura, fiz um curso superior como vocês queriam mas vou trabalhar noutra área’.

Agora é só menos vergonhoso porque é muito mediatizado, as pessoas dão muita importância à imagem e faz com que pareçam importantes só porque são muito mediáticas e muito vistas. Naquela altura não era bem assim. Era uma desgraça completa.

A sua mãe só a viu a atuar muitos anos depois...

A minha mãe ajudou-me sempre muito com os meus filhos. O meu pai era médico, portanto, havia ali umas zonas em que a gente não estava em casa à noite. Numa das vezes, estava a fazer um espetáculo Gil Vicente nos Jerónimos – em que andávamos ao longo dos claustro e usávamos aquele espaço todo com o público - não vi a possibilidade de o meu filho mais velho - que enquanto não estava na escola passou muitas horas nos ensaios, nos espetáculos comigo – de vir atrás de mim com o público assim sozinho. Então pedi à minha mãe, e ela foi.

O que recorda desse dia?

Fiquei muito contente porque a minha mãe não se inibiu, mesmo não concordando com aquilo que eu fazia, de ser a coisa principal ajudar o neto e a filha a estarem bem e não me disse: ‘Deixa estar que eu levo-o para casa’. Nem sequer pôs em causa ir. Ainda hoje não sei se a convidei para ver mais do que dois ou três espetáculos.

Mas existe alguma razão. Acha que se sentisse a presença dela iria ser diferente?

Não, porque acho que a cultura, – e com cultura quero dizer maneira de comunicar - aquilo que se comunica e a forma como se comunica, uma pessoa tem a intuição de que aquele grupo social não entende aquela linguagem e até pode levar para outro lado que não interessa, e sofrer com isso. Portanto, não quero que ela sofra com isso.

A única câmara que hoje ainda não me deixa à vontade é a câmara fotográfica

Conta com vários trabalhos em teatro, cinema e televisão... Qual a deixa mais à vontade?

Vou dizer ao contrário, a única câmara que hoje ainda não me deixa à vontade é a câmara fotográfica. É a que mais me inibe ainda hoje, se bem que ao longo da minha vida - que é como todos nós - arranjamos estratégias de sobrevivência e de superar as nossas dificuldades. Já arranjei algumas e sinto-me um bocadinho menos tensa, mas não posso dizer que estou à vontade. Se calhar, porque a minha vivência como artista é a ação. Sinto-me à vontade com as sessões fotográficas da pré-estreia, quando vão aos ensaios, mesmo quando às vezes vão fotografar um dia de gravações. Se eu estiver em ação não me ralo, agora sessões fotográficas não. Também depende, já encontrei (três ou quatro) pessoas que me ajudaram muito. Se calhar só sou tensa com essa máquina fotográfica porque não encontrei profissionais à altura destas dificuldades, de serem também diretores de quem estão a fotografar.

O nosso currículo não é como o de um médico ou um engenheiro. Aqui é o quem te viu fazer o quê, se não, não existes

Hoje é uma das atrizes mais acarinhadas pelo público e mantém a vida profissional ativa, ao contrário de outros atores que não tiveram o mesmo destino. O que acha que pode falhar nesses casos que acabam por ficar longe do público?

Não sei se me apetece falar disso porque é tudo tão circunstancial. Quando comecei tinha uma inveja de quem tinha mais trabalho do que eu. O meu percurso foi o que eu acho o percurso normal das dificuldades normais de quem começa.

O nosso currículo não é como o de um médico ou um engenheiro que diz que sabe isto e aquilo, tive esta experiência e este estágio assim. Aqui é o quem te viu fazer o quê, se não, não existes. A imagem hoje em dia tem muita importância. Se tu és uma imagem que já garanta aquele produtor que lhe vai dar muitas audiências, não precisa de saber se tu sabes fazer isto ou aquilo.

Hoje em dia, o meu percurso, para mim, foi o ideal, porque fui aprendendo a executar a minha profissão nas várias áreas com calma, e aprendendo realmente. E fui ganhando o meu estatuto à medida que fui mostrando o que era capaz de fazer. Mas hoje sou capaz de ver isto, na altura [não].

Acho que hoje em dia a grande diferença é que os jovens estão melhores do que eu estava porque há mais trabalho. Há mais gente, mas há mais possibilidades de trabalho. Eventualmente, o que eu acho que há menos são os grupos independentes de teatro. Uma vez que há mais possibilidades de trabalho fora das áreas do teatro, os jovens que saem do conservatório não pensam em passar como eu passei, que é ter de ir ganhar dinheiro a dar aulas - foi o que comecei por fazer. Depois juntar-me a não sei quantos jovens atores como eu, com os mesmos gostos artísticos para fazermos espetáculos em conjunto sem dinheiro nenhum para podermos mostrar o que é que somos porque, lá está, o currículo é esse. Nesse sentido, havia muitos mais grupos independentes exatamente para isso, para a gente se poder mostrar aos outros. Hoje em dia, se calhar, essa rampazinha está na televisão. Não é: ‘Os jovens não têm grupos independentes porque não querem trabalhar’. Não, é outra maneira de aproveitar as circunstancias das coisas. Às vezes não são as mais corretas em termos de formação.

Há um grupo de atores que parece que pertence ao dos que protagonizam e outro dos que nunca protagonizam. E não é pela qualidade

E quais é que foram os maiores obstáculos que a 'definiram' enquanto atriz?

Todos os obstáculos servem para a gente resolvê-los, e ao resolvê-los aprendemos. Há alguns mais dolorosos do que outros. Por exemplo, há pouco tempo disse assim: ‘Isto mesmo na minha geração, e se calhar isto tem a ver mais com a ficção porque no teatro não é assim, - não me sinto prejudicada - hão-de reparar que nas novelas há um grupo de atores que parece que pertence ao grupo dos que protagonizam e outro dos que nunca protagonizam. Tenho a certeza, porque conheço e já trabalhei com a maior parte deles, que não é pela qualidade. Também não é pela imagem, não sei o que é. É como se os agentes tivessem uma carteira. Não sei porquê, mas também não tenho resposta. Acho que lá está outra vez as circunstâncias da vida e os hábitos.

É muito crítica em relação ao seu próprio trabalho?

Claro. Não temos de ser todos? E temos de aproveitar a crítica dos outros também. E a crítica não é só quando ouvimos dizer mal ou bem. Crítica é, às vezes, as questões que nos põem.

Mas gosta de ver os seus trabalhos quando eles estão no ar, ou prefere não o fazer?

Vejo o suficiente em televisão para saber se aquilo que projetei fazer e que estou a pensar que estou a fazer está certo em imagem, mas só para isso. Nós gravamos muito e às vezes já gravamos o 100 e ainda está a passar o 50. Vendo isso, posso modificar algumas coisas de que não goste. Nunca há-de ser na essência, espero.

De todas as personagens que já interpretou, qual foi a mais desafiante e porquê?

É sempre a última porque é o que ainda não tenho a certeza que está bem feito.

Quanto mais me confundirem com as personagens mais contente fico porque é mais verdade para eles, portanto, estou a fazer um bom trabalho

Quando é que chega essa certeza? Com o feedback do público?

Também. Tem tudo importância. Se vou vendo e vou gostando. A contracena no dia a dia com os meus colegas, se é fácil eles contracenarem comigo é porque sou mais verdadeira. E o público sim. Quanto mais me confundirem com as personagens mais contente fico porque é mais verdade para eles, portanto, estou a fazer um bom trabalho.

Na rua, as pessoas vêm ter consigo para falarem sobre o seu trabalho?

Sim. E noutro dia pensei nisso por causa de uma abordagem dessas carinhosa. Já passou pela cabeça, se calhar de toda a gente, não sou eu que sou maluca, tipo: O que é que a gente está aqui a fazer neste mundo? Somos os palhaços desta sociedade? A nossa função é só entreter estas pessoas. Não é só isso, mas no fundo eu não construo casas, não trato da saúde das pessoas… Mas sempre que ouço 'ai, obrigado Custódia, faz-nos rir e é tão bom', eu fico bem porque parece que faz sentido aquilo que a gente gosta de fazer e que não é assim uma superficialidade.

Às vezes o público leva muito a sério algumas personagens... Já teve alguma abordagem menos boa de alguém que não tenha gostado de uma personagem sua?

Mas eu gosto disso. Isso é porque é verdade. Acredita de tal maneira naquilo, que é verdade. Agora, esta personagem [Ofélia, da novela ‘Paixão’, da SIC] é giríssimo, porque as outras personagens são todas tão positivas, não foram nenhumas daquelas que moralmente não estão de acordo com as pessoas, agora esta é. De repente, as pessoas olham para mim com carinho porque me conhecem como atriz e ao longo do tempo fui-lhes dando histórias que elas foram gostando, mas olham para mim com aquela vontade de dizer: 'Então, esta personagem foi-se embora e deixou os filhos e o marido. O que é que é isto?'. Mas lá está, já estão a começar a acreditar.

A cultura tem sido até agora nas escolas um penso rápido ou então como alguns dizem: 'A gente quer é rir-se'

Muitos atores comentam a falta de apoio do Governo para com a cultura. O que deve ser alterado para melhorar o mundo das artes em Portugal?

Tudo. E quando digo tudo começa por uma coisa que já não vai dar sequer para eu ver que é: A cultura é um consumo que desde o início dos nossos tempos, da civilização, é popular, é uma necessidade humana. Agora, hoje em dia, não foi sendo, e é na educação - na formação das pessoas - a necessidade de consumir cultura, como há a necessidade de consumir objetos, comida, estatuto social... Isso não acontece.

Fiz muita formação teatral nas escolas primárias, nas escolas com problemas, nas prisões, nas Taipas com os toxicodependentes… Milhentas coisas porque o teatro ajuda na formação, na relação com as emoções, nossas e dos outros. Mas, e sei, que nas escolas isso é como dar um rebuçado. Não faz parte da formação das pessoas, na educação das crianças desde que vão para a escola. O que é que é a escola? Dão-nos uma data de saber para depois tu escolheres o que gostas, com o que é concordas, para começares a ser inteligente e interventivo, mas na cultura isso não é assim.

A cultura tem sido até agora nas escolas um penso rápido ou então como alguns dizem: 'A gente quer é rir-se'. Já gerações e gerações que não têm educação para consumo das artes como têm para consumo de coisas. Quando eu disse tudo é a partir daqui. Claro que para isso tem de haver vontade política de acreditar nisto, de saber que isto é verdade e de intervir logo na educação.

O ano de 2017 acabou com a perda de grandes nomes do mundo das artes em Portugal. Um deles foi o ator João Ricardo, com quem tinha trabalhado. Quais os sentimentos que surgiram quando soube que ele tinha partido?

Eu acompanhei-o nas últimas semanas e [foi difícil] até no sentido de ao que a gente chega. Uma pessoa que foi um homem ativo, que fez um trabalho de um ano inteiro em conjunto comigo que foi muito generoso e gratificante, depois olhamos para ele e parece que é nada.

A falta, para mim, transforma-se sempre numa memória

Das pessoas que já partiram, e que lhe são próximas, de quem é que sente mais falta?

Sinto a falta de todos, não posso dizer isso. Até porque a falta, para mim, transforma-se sempre numa memória. Quando me lembro, vêm-me à memória coisas que dissemos, críticas que lhe fiz, graças horríveis que ele me dizia, assim como os outros. O Pedro Alpiarça, por exemplo, fiz teatro com ele em duas peças que foi uma maravilha de fazer. Adorei fazer aquilo com ele, e era um cómico do caraças. E tu quando te apercebes, - porque não tive a oportunidade de ter a certeza absoluta se aquilo foi um suicídio, se foi uma queda ou o que é que foi - quando ele vem à memória, lembro-me do que é que ele fez e claro que nessas circunstância pensa-se assim: ‘Como é que um homem que parece tão positivo e sempre tão irónico em relação a tudo depois tem aquele fim’. Mas é só assim. Das minhas memórias das pessoas que já se foram, fica-me o que me deram e o que eu dei.

Tem medo da morte?

Tenho muito. Mas não sei quem é que não tem. Mesmo que me digam que é tranquilo, sim, vai ter de ser. Também quero construir uma tranquilidade em relação a isso, mas tudo o que puder fazer para prolongar os meus dias, vou fazer.

Podem denunciar porque já têm poder, já ninguém lhes tira o poder que têm, o trabalho, o pão para a boca

Um dos temas que tem vindo a ser muito comentado é a existência de assédio e abuso sexual em Hollywood. Nos últimos meses são muitos os casos que estão a ser expostos. O que pensa sobre esses casos?

Quis pensar melhor sobre isso e veio-me assim uma frase que pode ser um bocadinho, se calhar, até machista. Assédio sexual, e hoje em dia há se calhar dos dois géneros, tem a ver com razões de poder. Há em todas as profissões e é para com quem não tem poder nenhum. Ou seja, quem faz é quem tem poder exercendo contra os que não têm poder nenhum. É bom que se fale nesse problema, mas não sei se vai impedir que ele exista porque o assédio faz-se exatamente como estou a dizer. Três ou quatro pessoas que vão começar num trabalho e quem decide se tu ficas com aquele trabalho ou não dá-te uma palmada no rabo. Tu vais dizer logo a seguir aquele não sei o quê, perdes o emprego. Isto foi o que eu pensei, vai continuar a existir.

Agora, é muito bom que haja este 'boom' de se falar sobre o assunto porque, se calhar, os que tinham em mente que poderiam fazer isso retraem-se mais. Mas não são essas jovens e esses jovens que estão a começar que vão começar a denunciar logo de início como estas agora denunciaram porque já têm poder também. Podem denunciar porque já têm poder, já ninguém lhes tira o poder que têm, o trabalho, o pão para a boca.

Mesmo a mim já me aconteceu. Acabou rapidamente porque tive quase, quase para executar mesmo. A gente às vezes ouve coisas nos quintais vizinhos e diz assim: ‘Espera aí, isto não é coiso, não é alguém que está… espera aí, então mas eu não devia dizer qualquer coisa?’ E a gente ainda não tem capacidade como cidadãos, como interventores sociais de fazer o nosso papel. Ainda somos moralistas com aquela: ‘Entre marido e mulher não meta a colher’.

Se algum dia deixasse de ter trabalho no mundo da representação, voltar a estudar Medicina era uma opção?

Não porque eu acho que agora não tinha vontade de reiniciar uma vida profissional. Uso a medicina para meu proveito próprio do conhecimento, do comportamento humano.

A Custódia é embaixadora da primeira campanha de sensibilização para a bexiga hiperativa. O que a levou a associar-se a esta causa?

Acreditei muito na educação que tentei dar aos meus filhos que é informar. Quanto mais informada uma pessoa é, mais capacidade tem para vive o seu dia a dia. Este problema da bexiga hiperativa tem a ver com a falta de informação porque à partida é uma dificuldade que dá vergonha, que cria um estigma, cria dificuldades nas relações com as pessoas no trabalho, nas relações mais íntimas, tudo, na tua autoestima. Tu sofres com isso se não tiveres a informação que aquilo é uma doença. Só tens a capacidade de falar com o médico e pedir-lhe ajuda se tiveres a certeza ou a informação de que é uma doença. Se tiveres falta de informação e por isso achares que é uma dificuldade tua, ou uma incapacidade, tu não vais falar com ninguém. Escondes. Daí a dificuldade que estas pessoas têm em viver. Por causa da minha imagem, a importância que as pessoas me dão na minha profissão, se for um veículo facilitador de informação, boa. Já tenho alguma importância. Foi o que me motivou.

Há alguma causa social a que gostaria de se associar mas que ainda não teve oportunidade?

Todas as causas que impliquem isso, a facilidade da informação. Tudo o que eu possa ajudar como facilitadora de informação eu faço.

É uma pessoa vaidosa? Como é que lida com o envelhecimento?

Sou [vaidosa]. Lido muito bem [com o envelhecimento], no sentido em que, até hoje, tenho feito o que é possível ao longo dos anos de me melhorar ou, por outro lado, de manter o mais possível as minhas capacidades de acordo com a minha idade.

Quais os principais cuidados que tem?

Exercício físico para os músculos. A coisa que mais se consegue manter é a tonicidade muscular ao longo dos anos. Não consigo manter a tonicidade da pele, temos muita pena. Mas também alimento com aquilo que há. Faço os tratamentos de rosto, pescoço e de corpo que existem, sem facas, sem agulhas e sem me maltratar.

Era incapaz de fazer uma cirurgia estética?

Não posso dizer não sou capaz. Até me pode dar um vaipe um dia, olho para o espelho e digo: ‘Não quero isto’. Até hoje, isso não me passa pela cabeça, mas não posso dizer desta água não beberei.

Não temos brio, e os espanhóis têm um brio do tamanho de um boi

Quais são as características que considera vir da veia espanhola? E o que é que em si é tipicamente português?

As que são tipicamente espanholas são o quero ser feliz todos os dias da minha vida e estar sempre em festa. As de Portugal é lutar todos os dias para não me deixar ir abaixo porque a vida está difícil. O negativismo dos portugueses. Não temos brio, e os espanhóis têm um brio do tamanho de um boi.

O que a deixa mais apaixonada na vida?

Olhar para outras pessoas e tenho, felizmente, ao pé de mim algumas que me fascinam. A capacidade de ser feliz é incrível. Tenho pessoas ao pé de mim que olho e aquela pessoa tem uma capacidade de transformar às vezes o que é negativo em felicidade. Acho que há dois grupos de pessoas no mundo em termos de comportamento: Os que aproveitam tudo para transformar em felicidade e os que não sabem ser felizes, não têm capacidade para ser felizes.

É uma pessoa religiosa? Acredita em Deus?

Não. Acredito no humano, nas pessoas.

Quais os sonhos que ainda não foram realizados?

Conhecer o mais possível do resto do mundo.

Se hoje pudesse pedir um desejo, qual seria?

Que os meus filhos nunca sofressem com falta de saúde. Não é possível fazer nada, seres nada, sem teres saúde, sem sentires que és uma pessoa capaz. E esse é o meu desejo para todos os anos. O primeiro de todos.