Juan Carlos de Espanha nasceu no exílio, em Roma, e durante a infância viveu num colégio interno na Suíça e também com a família - os pais, condes de Barcelona, e os irmãos - no Estoril. Só aos dez anos rumou a Espanha para ser educado sob a direção do general Franco, para que um dia fosse o seu sucessor.

A adolescência do rei emérito de Espanha foi, no entanto, marcada por um acontecimento trágico, que 'assombra' o antigo soberano até aos dias de hoje.

Era Quinta-Feira Santa de 1956 e os condes de Barcelona, Juan e María de las Mercedes, receberam os filhos no Estoril. Juan Carlos, de 18 anos, levava na bagagem uma arma que um colega da Academia Militar lhe tinha dado, uma Long Automatic Star, calibre 22.

Com o irmão, Alfonso, que na época tinha 14 anos, passaram horas a disparar a arma no jardim, até que o pai de ambos, Don Juan, mandou guardar a pistola. Depois de muito pedirem, os dois irmãos convenceram a mãe a devolver-lhes a arma. "Não é para atirar, é só para ver", afirmaram.

E foi após esse momento que a desgraça aconteceu. Os irmãos estavam sozinhos quando soa um disparo, que nem os condes nem a infanta Margarida, irmã de ambos, ouviu. Apenas a mais velha dos quatro filhos dos condes de Barcelona, a infanta Pilar, ouviu o disparo.

Segundo o escritor e jornalista Abel Hernández, citado pelo La Nación, a bala entrou pelo nariz do jovem Alfonso e atingiu-lhe o cérebro. O filho mais novo dos condes de Barcelona morreria minutos mais tarde.

Don Alfonso de Borbón, 1956© Getty Images

O relatório oficial, comunicado pela embaixada espanhola em Lisboa, refere uma história que não corresponderá exatamente à verdade: "Enquanto Sua Alteza o Infante Alfonso limpava naquela noite um revólver com o irmão, foi disparado um tiro que o atingiu na testa e o matou em poucos minutos". Mais tarde, outra versão é dada a conhecer: Era Juan Carlos quem segurava a arma quando ela disparou. Desde então, as diferentes versões do que aconteceu naquela fatídica noite coexistem e ninguém sabe ao certo o que aconteceu.

Refere Hernández que Don Juan subiu as escadas de dois em dois, pegou no filho ao colo e desceu com ele, tendo-o embrulhado numa bandeira de Espanha enquanto aguardavam que chegasse o médico. Juan Carlos ficou desolado e terá chegado a dizer que queria tornar-se monge, mas o pai ter-lhe-á colocado a mão sobre o peito do irmão, obrigando-o a jurar que cumpriria os seus deveres dinásticos.

E assim foi, Juan Carlos subiu ao trono em novembro de 1975 e reinou durante quase 40 anos, até abdicar a favor do filho, Felipe VI, em junho de 2014.