Treinava num ginásio em Málaga, no sul de Espanha, quando despertou a atenção de duas diretoras de casting. Depois de ter feito uma pequena participação numa produção televisiva, o antigo futebolista viu-se a braços com o papel de protagonista da série "Toy boy", uma das produções de maior êxito da Netflix nos últimos meses. Em entrevista exclusiva ao Modern Life/SAPO Lifestyle, que pode ver resumida no vídeo que se segue e depois ler na íntegra logo de seguida, Jesús Mosquera fala da paixão pela representação, revela pormenores da vida em confinamento e recorda as férias familiares em Portugal.
Não se sabe muito sobre si. Nem sequer se encontra muita informação sobre si na internet. Quem é, afinal, Jesús Mosquera?
Sou de Málaga. Tenho 27 anos. Vivo atualmente em Madrid. Estou a tirar um curso de representação e desde pequeno que jogo futebol. Joguei durante 20 anos e, de repente, um dia, a minha vida mudou com o casting para a série "Toy boy". Há dois anos e meio que me dedico à representação e estou muito feliz por fazê-lo...
A representação foi um acaso na sua vida ou era um sonho de infância?
Para mim, a representação foi sempre algo de muito distante. Achava que não tinha capacidade. Na realidade, era medo e insegurança... Convenci-me de que nunca seria capaz! Mas, quando via um filme ou uma série, pensava sempre que gostaria de estar lá, de ter aquela experiência. Por circunstâncias da vida, dediquei-me sempre ao futebol e nunca tive essa oportunidade, até ser convidado para fazer o casting para a série.
Ser futebolista era o seu sonho de criança ou tinha outro?
O meu sonho foi, desde sempre, ser feliz. E, sim, o meu sonho de infância era ser jogador de futebol profissional...
Chegou a jogar em equipas como o Antequera CF, o Málaga CF, o Vélez CF, o Athletic de Bilbao U19 e o Betis Deportivo Balompié, que na altura se chamava Real Betis B. Tem 27 anos. Se não tivesse feito o casting para a série, o que é que acha que estaria a fazer agora? A jogar à bola?
Acredito que estaria a fazer algo relacionado com desporto. É do que gosto e foi para isso que estudei. Sou licenciado em desporto. Também gosto muito de crianças e gostava de trabalhar com elas... [faz uma pausa e sorri] Portanto, estaria focado em algo no desporto que envolvesse crianças. De qualquer forma, continuarei ligado ao futebol, até porque não sei o que o futuro me reserva...
Foi descoberto num ginásio em Málaga e não tinha experiência em representação. Quando começou a fazer as primeiras provas do casting, não sabia que poderia vir a ser o protagonista. Foi uma surpresa para si?
As diretoras de casting, a Eva Leira e a Yolanda Serrano, estavam à procura de dois rapazes, um para a personagem de Hugo [o protagonista] e outro para a personagem de Iván [outro dos papéis de destaque]. Na primeira prova, fizemos uma entrevista pessoal, sobre nós e as nossas vidas. E elas, em função da nossa personalidade e do que viram em nós, atribuíram-me o Hugo e ao meu colega José de la Torre o Iván. Elas são magníficas e têm um talento incrível para associar pessoas às personagens...
E gostou da decisão ou, dada a responsabilidade de ir protagonizar uma série sem ter qualquer experiência como ator, preferia que tivesse sido ao contrário?
Não troco a minha personagem por nada! A personagem do José é uma grande personagem e penso que, se lhe fizesse a mesma pergunta, ele também lhe diria que não trocaria. No fundo, é muito tempo a trabalhar numa personagem e acabamos por ganhar-lhe um carinho pessoal. Eu não a trocaria por nada...
Uma das primeiras cenas que gravou, numa fase em que ainda se estava a ambientar a este tipo de produções, foi a da famosa orgia, uma das mais comentadas pelos que já viram a série. Foi mais difícil de gravar ou encarou-a como uma cena como outra qualquer?
É inevitável que, numa cena dessas, tenhas um pouco mais de pudor ou de vergonha. Era o terceiro dia de gravações e tive que enfrentar logo uma cena assim... Mas tive a sorte de ter nove meses para me preparar e de ter uns colegas e uma equipa incríveis. Senti-me, por isso, muito confortável, num ambiente de muita confiança. De início, atribuímos-lhe mais importância mas, ao longo da rodagem, percebemos que se tratava apenas de mais uma cena.
Em Espanha, quando estreou na televisão, na Antena 3, no fim de setembro de 2019, a série não obteve o êxito que tem tido desde que passou a estar disponível na plataforma digital de distribuição Netflix e a ser vista em todo o mundo, em março deste ano. Este sucesso repentino foi uma surpresa para si?
A série não teve tanto êxito em Espanha porque o público passou a consumir as séries através dessas plataformas. Não esperava tanta aceitação do público, confesso. Sinto-me afortunado por ter chegado aos ecrãs das pessoas e por elas nos terem aceite com tanto carinho.
A série está a ter um sucesso enorme em todo o mundo…
Sim, está…
Está a viver um dos melhores momentos da sua ainda curta carreira mas, paradoxalmente, não pode saboreá-lo porque tem de estar fechado em casa por causa da pandemia global de COVID-19...
Sim, tenho pensado nisso. Mas penso, também, que sou um sortudo por ter a minha família e os meus amigos bem de saúde! Há muita gente que não está bem, que perdeu pessoas que eram importantes para si... Seria um pouco egoísta da minha parte pensar que não posso desfrutar do que me está a acontecer na Netflix quando há pessoas, por todo o mundo, que estão a passar por situações muito difíceis...
Está confinado há quase dois meses. Ter de estar fechado em casa é, para si, um problema ou, antes pelo contrário, até nem é complicado?
Na verdade, para mim, não é um problema. Os dias passam muito depressa. Faço muitas coisas. Faço desporto, leio, cozinho, tenho aulas por videoconferência, vejo filmes, séries... Estou muito entretido! Gostaria de poder sair, claro, não quero viver para sempre assim, mas tento passar o tempo da melhor forma.
Tem de cozinhar, como disse. Gosta de o fazer ou é uma das tarefas que dispensava?
Gosto de comer muito e de cozinhar pouco! [risos]
Numa publicação que fez nas redes sociais, queixou-se do facto do seu cabelo ter crescido muito nesta fase de confinamento, deixando a sua cabeça parecida com a de um brócolo. Vai conseguir aguentá-lo ou ainda vai tentar cortá-lo?
Têm-me enviado muitas mensagens a pedir que corte o cabelo. Tenho uma máquina e poderia tentar fazê-lo mas tenho medo de cortá-lo mal. Acho que vou esperar até poder sair à rua para ir ao cabeleireiro.
Não vamos falar do final de "Toy boy" porque há pessoas que ainda não viram a série mas, num direto que fez recentemente no Instagram com a Cristina Castaño, uma das protagonistas femininas, assumiram que o final da produção não foi do vosso agrado. Do que é que não gostaram?
Nós não dissemos que não tínhamos gostado. O que dissemos é que, ao personagem, ao Hugo, é que não terá agradado o final da série. Não a mim, mas ao Hugo. Não creio que ele tenha ficado muito contente...
E, a si, agradou-lhe o final? Se o tivesse escrito, tê-lo-ia redigido de outra maneira?
Se os guionistas fizeram assim, é porque é assim que tem que ser. Afinal, foram eles que escreveram a série, que tanto sucesso tem feito em todo o mundo. No final, fica tudo um pouco no ar, talvez para dar a impressão ao público que tudo se possa solucionar numa próxima temporada...
Toda a gente o questiona acerca de uma nova temporada. É a pergunta que mais lhe fazem nas redes sociais!
Tanto eu como os meus colegas, falo por todos, adoraríamos fazer mais uma temporada.
Em casa, neste confinamento, tem continuado a fazer desporto. O corpo continua igual? Continua perfeito?
Não, claro! Ando a comer muito, ainda que tente cuidar-me e manter um pouco a linha. Mas o nível da série era um nível muito rígido, um nível de muito muito sacrifício. Treinámos e fizemos uma dieta durante nove meses. Agora não estou nesse estado! Se voltarmos a fazer outra temporada, tenho que voltar a ficar em forma... [sorri]
Fez uma produção para a revista Shangay, uma publicação espanhola dirigida a um público homossexual. Fê-la apenas para se promover ou também para passar uma mensagem, aproveitando a visibilidade que tem enquanto artista?
Fi-la porque a considero igual às reportagens e às produções que faço para as outras revistas. Achei importante fazer uma reportagem com eles para poder expressar a minha linha de pensamento e para que me pudessem conhecer um pouco mais.
Em Portugal, desde que estreou em março, "Toy boy" tem sido sempre uma das séries mais vistas na Netflix. O que é que sabe sobre o nosso país? Já cá esteve?
Estive no Algarve de férias há uns anos e gostava muito de voltar em breve. Como sou de Málaga, vou sempre para lá nas férias e Portugal não está longe. Tenho muito boas memórias dessas férias...
Foi há muito tempo que esteve no Algarve?
Sim, fui ainda em criança. Tinha 12 anos. Eu e a minha equipa fomos jogar um torneio de futebol em Huelva e, quando terminou, eu, os meus pais e a minha irmã aproveitámos e fomos de férias para Portugal.
No direto que fez com a Cristina Castaño, a sua colega da série, falou da dobragem das vossas personagens em vários países. No Brasil, dobraram os diálogos da sua personagem e assumiu publicamente que gostou muito do resultado...
Adorei! Quando vi o trailer em português pela primeira vez, gostei tanto que o vi uma série de vezes seguidas, porque queria ver como é que era a voz de cada um dos personagens. Foi algo diferente. Nunca me tinha ouvido dessa maneira e acho que os atores que trabalharam na dobragem fizeram um trabalho incrível. Eu gosto mesmo muito dos vídeos que me mandam em português...
E gostou da sua voz brasileira? Há atores que não costumam gostar das vozes que lhes atribuem nalguns países...
Na verdade, estou muito contente com a voz do ator. Acho que, no geral, fizeram todos um trabalho de dobragem muito bom...
Tem recebido muitas mensagens do Brasil e não só nas redes sociais. Como é que é a sua relação com estas plataformas? Lê todas as mensagens e todos os comentários que lhe escrevem?
Antes, quando tinha menos seguidores, tentava responder a todas as mensagens, principalmente àquelas pessoas que agradecem o nosso trabalho e que o valorizam, pessoas a quem teremos ajudado por se terem sentido retratados na personagem, mas, ultimamente, tive um aumento muito grande de seguidores.
Tento ler tudo e tento responder a todos mas são cada vez mais... Sempre que posso, agradeço publicamente, envio-lhes muito carinho e muito amor, mas já não consigo responder a todos. Gostaria muito mas não consigo...
Só no Instagram tem mais de um milhão de pessoas. Alguma vez pensou ter tanta gente de olho no que faz?
Para dizer a verdade, eu, antes, nem sequer tinha Instagram. Não era uma pessoa anti-redes sociais mas sou uma pessoa tímida e reservada e não gostava de me expor nem de expor a minha vida a toda a gente. Mas, com a série, disseram-me que seria positivo para o meu trabalho criar um perfil para comunicar com o público.
Passar de zero a um milhão de seguidores num ápice foi um impacto muito grande e estou muito agradecido a todos os que me seguem e que me felicitam e que querem saber de mim. Isso deixa-me muito feliz!
Sendo uma pessoa tímida e reservada, como é que encara a fama? É algo que procura e ambiciona ou é uma consequência da sua profissão e da vida que escolheu?
Desde o primeiro dia em que decidi enveredar pela interpretação que sei que é um trabalho muito exposto, porque estou na televisão e sou visto por toda a gente. Sei que a fama é uma consequência do meu trabalho. Eu amo o meu trabalho mas não gosto da fama. Gostava de passar despercebido. A fama faz-me sentir pouco à vontade. Fico incomodado. É a minha personalidade, eu sou assim.
Mas é bom que as pessoas queiram saber de nós, que queiram falar connosco, tirar fotografias... Isso também me deixa muito feliz porque significa que as pessoas valorizam o teu trabalho e que gostaram. Não o vejo como algo negativo. Vejo-o, antes, como algo positivo porque, na realidade, se o público valoriza o meu trabalho, isso, para mim, é uma satisfação muito grande.
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