Pedro Ribeiro, 48 anos, animador e diretor da Rádio Comercial. Esta é a introdução mais curta que podemos fazer do nosso entrevistado. Mas, por trás do profissional que todos os dias diverte milhares de ouvintes, há também o homem, o pai e o líder. Estivemos à conversa com Pedro no seu gabinete nos estúdios da rádio, situados na já afamada rua Sampaio e Pina, em Lisboa.

Falou-se sobre o seu último livro, inspirado na sua companheira, Rita Rugeroni, com quem está casado há quatro anos e tem uma filha em comum, a pequena Carminho. Pedro Ribeiro também é pai de Mafalda, Gonçalo e Maria. Já Rita tem dois filhos, Francisco e Miguel, que Pedro também considera seus.

Falou-se também de rádio, do futebol e do seu histerismo e ainda do passado ligado ao presente e já a pensar no futuro.

Fale-nos um pouco sobre o seu novo livro: '50 Coisas Que Aprendi Com A Minha Mulher'...

Foi uma ideia que tivemos sobre coisas que aprendi, que mudei em mim por influência dela. É um exercício bem disposto, quase de gozo, para que outros casais possam ter essa capacidade, que acho muito importante, de rir de si próprios. Acho que ficou giro e estou ansioso para ver a reação das pessoas.

Pode revelar uma das coisas que aprendeu?

Acender uma lareira, por exemplo, eu acendia mal e porcamente e ela tem uma técnica infalível. Tem a técnica de fazer a mala quando se vai de viagem, que eu fazia de forma sofrível. Esse tipo de coisas muito particulares dos casais resumidas num livro.

O mundo feminino continua a fasciná-lo?

Completamente, é a coisa mais fascinante que há. A relação é muito assim entre homens e mulheres: temos tudo a aprender e pouca coisa a ensinar. É tentar estar atento aos sinais e tentar decifrar a vossa linguagem [das mulheres] que é uma linguagem muito própria e às vezes muito enganadora e que nós tentamos de forma tosca acompanhar.

É possível compreender as mulheres ou é uma missão impossível?

Não, há coisas que estão completamente fora do nosso alcance, está cientificamente provado, mas há muitas que se vão compreendendo, acho eu, ou pelo menos vocês dão-nos a doce ilusão que nós compreendemos, o que nos permite viver um bocadinho melhor.

Sempre tentou compreender o mundo do outro e não só o mundo feminino em particular ou era mais intrusivo?

Depende. Na profissão tens de ir à procura do mundo do outro porque tens de tentar perceber aquilo que as pessoas querem, o que procuram, o que gostam e não gostam, e isso obriga-te a fazer um auto-exame e a perceber que coisas de que gostas muito, as pessoas não gostam tanto.

O meu trabalho passa por estar muito atento ao outro

O meu trabalho passa por estar muito atento ao outro, não só por isso, mas também porque lidero uma equipa e tens de estar atento a cada um dos elementos e perceber que cada um tem as suas características, personalidade, história e que tudo influi na maneira como trabalham, nas capacidades que têm. As pessoas não são todas iguais, podes tratá-las com os mesmos valores e sentido de justiça, mas não as tratas todas da mesma maneira, porque são diferentes.

A posição de líder traz mais dores de cabeça ou alegrias?

As duas. Traz as alegrias porque és permanentemente convidado a pensar sobre as coisas, a refletir sobre a floresta para além das árvores individuais e a tentar arranjar coisas novas e a surpreender as pessoas. [E] é mau porque é muito mais simples a vida de locutor, fazes o teu trabalho e está bom. No meu caso não, fazes o teu, tens de ser avaliador de ti próprio e tens de pôr a máquina a andar. Tu e a equipa que está contigo, porque não acredito nada na ideia de que há uma pessoa sozinha e iluminada que leva isto para a frente, não é nada. Precisas da equipa e eu, felizmente, tenho a equipa.

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A equipa de animadores das manhãs da Rádio Comercial. Pedro Ribeiro, Vera Fernandes, Nuno Markl, Ricardo Araújo Pereira e Vasco Palmeirim© Global

Tenho dificuldade em pensar que uma pessoa nasce líder

E é possível aprender a ser líder ou já se nasce com esse dom?

Tudo se aprende. Tenho dificuldade em pensar que uma pessoa nasce líder. É uma coisa que se aprende. Acho que sou hoje muito melhor do que era quando cheguei a este lugar há 12 anos. Aprendes muito. Tens de te pôr em causa, tens de aprender a trabalhar a capacidade de te colocares nos sapatos dos outros, aprender sobre ti, perceber os teus defeitos, qualidades, limites, nomeadamente, físicos. Ninguém é líder, está-se, é mais isso.

Quando começou a fazer rádio imaginava-se nesta posição?

Não, de maneira nenhuma, só queria passar umas músicas na rádio e estava bom. Quando me convidaram para o lugar estava longe de pensar que iriam convidar, foi algo que aconteceu inesperadamente, mas tem sido incrível, porque é um percurso cheio de coisas boas.

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Pedro Ribeiro em bebé. Nasceu a 17 de fevereiro de 1971© Instagram

Lembra-se da sua primeira emissão?

Lembro-me no CMR [Correio da Manhã Rádio].

Correu bem?

Não… correu tragicamente como correm sempre as primeiras, maus timings, não dominava a mesa, as máquinas, os CDs, tive algumas brancas, mas tenho a cassete de programação, já ouvi algumas vezes, não me envergonha.

Há aquela sensação de 'epá, grande totó'?

Há, o mais possível, mas também a sensação que ao mesmo nível do totó há a certeza de que gosto de fazer isto.

Esse foi um caminho que fez intencionalmente ou a rádio surgiu por acaso?

Não, isso sempre quis fazer. Desde miúdo que fazia gravações com o gravador do meu pai, gravava relatos de futebol e músicas. Sempre fui muito ouvinte de rádio, esteve muito presente na minha vida. Sempre sonhei em fazer rádio, foi uma coisa que nasceu em mim desde pequeno.

Ao longo do percurso houve decisões que me favoreceram e que me permitiram errar

Então nunca houve um plano B?

Não, se corresse mal logo se veria. Foi uma série de acasos e de muita sorte. Tive sorte na rádio em que entrei, na altura em que entrei, com a equipa que encontrei. Ao longo do percurso houve decisões que me favoreceram e que me permitiram errar muitas vezes até fazer as coisas melhor.

Comparando o tempo do Pedro com o tempo atual, era mais fácil nessa altura?

Não sei se é mais fácil se é mais difícil, é diferente. O mundo também é diferente. Há mais gente mais qualificada, mais preparada, percebes que o curso não é tudo, há gente que vem muito focada na paixão por isto. Não havia redes sociais, só havia um canal de televisão, ou dois, e portanto o mundo em que vivias era outro. Havia muitos jornais, o convívio com o papel era diário, mas era outro mundo.

Falta alguma coisa desse mundo, acha que se perdeu demasiada coisa pelo caminho?

Não, acho que se ganharam outras coisas. Perderam-se coisas simbólicas, o dar valor às canções, hoje os miúdos gostam de uma coisa e daqui a dois meses apagam e nunca mais ouvem. Nós tínhamos uma militância com bandas de que gostávamos, havia mais tempo para pensar nas coisas.

O que acontece hoje é que está toda a gente com pressa não sei bem para quê, e está toda a gente a olhar para o telefone o tempo todo e à espera de notificações

O que acontece hoje é que está toda a gente com pressa, não sei bem para quê, e está toda a gente a olhar para o telefone o tempo todo e à espera de notificações. Há pouco tempo para aprofundar, para compreender, para pensar sobre as coisas. Isto é à superfície, porque depois por baixo, há uma geração nova que pensa em novos problemas, que se envolve, que luta pelas coisas e nesse sentido é menos comodista que a minha. Era uma geração que vinha da cómoda certeza de vivermos em democracia, de estarmos num mercado único. Tivemos uma geração antes que lutou pela liberdade, democracia e integração europeia e agora temos outra geração que vive com uma tenacidade os novos desafios: o ambiente, a sustentabilidade.

Na rádio também se lida com os ‘haters’?

As pessoas num teclado estão muito furiosas, dizem as coisas mais incríveis, mas aprendes a viver com isso e a relativizar

Sim, claro. É a nossa vida diária, aprendes a viver com isso. Antigamente as pessoas ligavam para cá e estavam ao telefone agora estão atrás de um teclado e dizem coisas. Está bem porque tens de destrinçar o trigo do joio e perceber que algumas críticas são justas, fundamentadas, educadas e outras são só consequência de um mau dia que a pessoa está a ter. As pessoas num teclado estão muito furiosas, dizem as coisas mais incríveis, mas aprendes a viver com isso e a relativizar.

Quando vejo algumas coisas na Internet penso: 'Perderias um segundo da tua vida a debater alguma coisa com esta pessoa?' Acho que não.

É uma selvajaria. O futebol está num estado de loucura.

E no mundo do futebol?

Ui! Sim, sim. É uma selvajaria. O futebol está num estado de loucura.

Porque é que se perde o civismo?

Tem a ver com a educação, frustração com outras coisas, mas está um 'ar irrespirável'. É o efeito redes sociais e canais de televisão - que precisam de falar de futebol porque não há mais conteúdos e é fácil pôr as pessoas a falar. As pessoas só se preocupam em ganhar e não vêem nada para além disso, cegam completamente. Está um bocado doente.

Algum dos seus filhos já dá sinais de querer seguir o mesmo caminho na rádio?

Não, isso é com eles. A rádio está pouco na vida deles, eles estão no mundo deles.

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A família de Pedro Ribeiro e Rita Rugeroni toda reunida© Instagram

Ser pai quando se é mais novo é diferente de quando se é mais velho?

Claro que é diferente. Tens outra experiência, antecipas problemas, desfrutas mais das coisas, tens outra maturidade, como já tiveste filhos já percebes o próprio processo de crescimento das crianças. Sou melhor pai de todos agora do que quando nasceram os primeiros, é normal.

Viver com adolescentes tem sido fácil?

Pelos dois adolescentes que tenho tranquilo, quer o Gonçalo, quer a Mafalda, são bons miúdos, têm boa cabeça e um bom coração.

Não podes ser um dos amigos da escola, o teu papel é outro

Como é que é como pai, o pai 'fixe'?

Sim, na maior parte das vezes sou, mas também sou disciplinador quando tem de ser. O segredo está no misto. Não podes ser um dos amigos da escola, o teu papel é outro e o teu plano para eles tem de ser outro. Mas também não podes ser um general déspota, tens de estar atento aos sinais, aquilo que dizem e o que deixam por dizer. É a coisa mais difícil mas também ao mesmo tempo a coisa mais apaixonante de todas.

Houve uma coisa em que fui muito firme com os miúdos desde cedo: na necessidade que eles vivessem sobre o imperativo da verdade, que não mentissem, não se escondessem na mentira. Com o valor da verdade vem a responsabilidade, a coragem para assumir as coisas, a humildade para perceber as limitações.

Continua a achar que vai correr sempre tudo bem?

Mesmo quando a casa está a arder penso que depois das cinzas vai nascer uma coisa melhor.

Projetos para o futuro?

Vou lançar outro livro sobre futebol, sobre uma equipa do Benfica muito marcante da minha infância, estou a entrevistar antigos jogadores. Tenho ideias para a rádio e televisão, mas nada de muito concreto, logo veremos.