Horas depois de António Costa ter anunciado as novas medidas para tentar travar o aumento dos casos de Covid-19, Rui Maria Pêgo recorreu às redes sociais para falar sobre o enceramento dos estabelecimentos culturais.

Inicialmente, na publicação que fez na noite desta quarta-feira, o locutor da Rádio Comercial começou por dizer: "Durante seis meses fiz parte de um espectáculo de teatro que levou milhares de pessoas ao teatro em segurança. Fizemos apresentações de noite, à tarde, e até de manhã. As lotações foram reduzidas, os actores testados, as bolhas das pessoas com quem nos cruzávamos regidas de forma espartana. Não houve beijos na boca sem três pensamentos prévios. O 'Avenida Q' ainda assim, no meio de uma pandemia, foi um sucesso".

"E isso deve-se ao comparecimento do público e à argúcia da Força de Produção e, claro, ao nosso trabalho que pôde felizmente acontecer. A emoção e beleza desse momento encheu-nos de alegria, e fez-nos respirar de alívio quando acabou: ninguém doente, nenhum caso entre espectadores", acrescentou, recordando que "os protocolos para ir ver espectáculos em 2020 eram apertados".

"Distância, timings diferentes para sair, desinfeção, e o público irrepreensível a seguir normas. Obrigado. Muitos de vocês viram vários: de teatro, de dança, música, ou de performance", destacou, lamentando de seguida: "Muitas correntes de ar para pensarmos. Ninguém discute a dificuldade do momento que atravessamos, ninguém põe em causa a violência que é transversal a todos, mas a cultura não vale menos do que as cerimónias religiosas, ou do que eventos desportivos. Talvez seja mais perigosa porque nos faz duvidar sobre o que há e o que é, mas é saudável, sempre, porque reflecte o tempo".

"Um país que não se pensa a si mesmo definha, e abre ainda mais auto-estradas para extremismos. Convém lembrar que nenhum dos candidatos presidenciais se debruçou sobre a cultura, esse eterno enteado enfesado escondido na despensa. Soubemos hoje que os espectáculos estão proibidos durante esta fase de confinamento geral. Repito: não houve casos em teatros. Mas haverá casos de pobreza extrema, fome, gente a ficar sem casa, muitas famílias que nem sequer têm caras conhecidas, e que provavelmente não poderão contar com apoios mágicos", escreveu ainda.

Antes de terminar, reforçou: "Não duvido da exigência do momento, não argumento que a cultura vale mais do que os outros sectores que tantos desempregados vão gerar, mas não significa, certamente, menos. Boa sorte a todxs. Dê lá por onde der, havemos de dar a volta".

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