A cirurgia plástica é a grande paixão de Francisco Ibérico Nogueira há 30 anos mas diz que não acredita
em vocações. «Acho que acima de tudo somos influenciados pelos nossos amigos e
familiares», confessa.

E, sendo bisneto, neto e filho de médicos, este cirurgião plástico
não conseguiu passar ao lado dessa história familiar que o liga à medicina desde que
nasceu.

Depois de se licenciar na Faculdade de Medicina de Coimbra e de ter feito o estágio
nos hospitais da mesma universidade, foi para o Brasil fazer a especialidade
em Ginecologia, mas rapidamente percebeu que esse não era o seu caminho. Se pensarmos que nessa altura, vivia-se, no Brasil, o boom da cirurgia plástica, não
é difícil de perceber o encantamento que sentiu assim que entrou, pela primeira
vez, numa clínica desta especialidade.

«Tem muito a ver comigo porque tem um lado
muito associado à arte e ao equilíbrio estético», realça. O seu grande aliado é o computador, já que «permite fazer um estudo virtual daquilo
que podemos modificar em cada paciente», mas está longe de considerar que os
cirurgiões plásticos sejam vendedores de sonhos e que a beleza perfeita exista.


«A cirurgia tem muitos mais limites do que as pessoas pensam. Não transformamos
uma pessoa muito feia numa pessoa lindíssima. O meu objetivo é fazer com que
as pessoas aumentem ou recuperem um pouco a sua autoestima», afirma. Daí
que defenda que um dos aspetos mais importantes da cirurgia estética seja saber
preservar a beleza e a identidade individual de cada paciente. «Sou completamente
contra a cirurgia com resultados estereotipados», sublinha.

Acredita que um bom cirurgião plástico «tem de saber ouvir os pacientes, criar uma
grande empatia com eles e perceber exatamente quais são as suas expectativas,
até porque, sobretudo na área da cirurgia estética,
surgem-nos pacientes que são
dismorfofóbicos, pessoas que nunca estão satisfeitas com a sua imagem, e esses
casos têm que ser diagnosticados». A sua experiência diz-lhe que são as mulheres quem mais procura a cirurgia plástica
porque se preocupam mais com o seu aspecto físico do que os homens, deixando-se
levar com maior facilidade pela pressão da sociedade para se manterem bonitas.

Olhando para o panorama da cirurgia plástica em Portugal, lamenta que
«cirurgiões estrangeiros ainda venham até cá fazer autênticos safaris cirúrgicos»,
parafraseando uma sua professora, e que «deixem os doentes
recém-operados sem
qualquer apoio». «À medida que a cirurgia plástica, seja reconstrutiva ou estética,
aumenta a sua reputação, essa situação inverte-se, mas de facto isso ainda
acontece», refere. E porquê? «Em Portugal as pessoas só preocupam com as coisas
quando há problemas».

O que mais lhe agrada no seu trabalho?

Gosto de todo processo de renascimento do
paciente, desde o primeiro contacto até ao bloco
operatório, um ato que envolve grande dignidade
e uma grande concentração, terminando
no acompanhamento
pós-operatório.

Já se submeteu a alguma cirurgia estética?

Não.

Já operou alguém da sua família?

Alguns cirurgiões recusam-se a operar os seus
familiares, mas a mim não me faz qualquer
diferença e já o fiz.

Algum paciente o marcou de forma especial?

Muitos pacientes, sobretudo, os que foram
mutilados, vitimas de queimaduras e acidentes.

Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?

A primeira intervenção que fiz a solo, que foi
extremamente stressante, mas que me deixou o
bichinho e o vício da cirurgia. A partir daí, a vontade
de voltar a operar foi aumentando sempre.

Veja na página seguinte: Os hábitos de vida que o cirurgião plástico considera mais
saudáveis

O que faz no seus tempos livres?

Bricolage e gosto de tudo o que está relacionado
com o mar, vela, desportos náuticos, natação ou
apenas contemplar o por do sol no mar.

Quais os hábitos de vida que considera mais
saudáveis?

Fazer uma alimentação regrada e mediterrânica
à base de muito peixe, legumes e fruta.


Evitar o tabaco, o álcool em excesso e a exposição
à poluição e ao sol.

Outro aspeto muito importante
é praticar desporto e manter uma atividade
profissional até mais tarde possível, porque acho
que a longevidade tem muito a ver com isso.

O que seria se não fosse cirurgião plástico?

Arquiteto. Gosto muito de remodelação de casas,
de construção e de criar espaços novos.

Qual o avanço científico pelo qual mais anseia?

A cura do cancro seria muito importante, mas
também seria interessante descodificar os genes
relacionados com o processo de envelhecimento.

Percurso profissional

Licenciado em medicina pela Faculdade de Medicina de Coimbra, Francisco Ibérico Nogueira especializou-se em medicina plástica reconstrutiva e estética. É fundador e diretor clínico da Clínica Ibérico Nogueira em Lisboa.

Texto: Rita Caetano