Foi aos 15 anos que Carolina Carvalho viveu uma fase difícil, quando uma das irmãs, Simone, que na altura tinha apenas oito anos, foi diagnosticada com leucemia. “Sempre fomos uma família muito feliz e muito próxima e foi uma coisa que aconteceu muito de repente”, lembrou, referindo que quando descobriram a doença já estava “num estado muito avançado”.

Simone teve que começar logo o tratamento, tendo sido internada, e foi “uma coisa levada muito a choque por todos nós”, relata a atriz. “Às vezes podia vir a casa, tinha várias recaídas e há certas coisas que me marcaram. A minha mãe sempre nos ensinou que o amor vence tudo. Mas há certas coisas para as quais não estás preparado nunca. Lembro-me de querer apoiar os meus irmãos e de querer estar próxima deles nessa fase, mas eu própria sentia-me muito frágil”, continua, falando de seguida de momentos muito marcantes.

Lembro-me de quando a minha irmã teve que ficar no quarto do isolamento, que só a podíamos ver por um vidro e que ela praticamente já não falava… De estarmos todos de mãos dadas do outro lado do vidro a vê-la e a, de certa forma, prepararmo-nos para que ela pudesse partir”, recorda emocionada.

Entre as muitas memórias que ficaram está também a de um dia ter ficado com “uma pelada de cabelo da irmã na mão” quando estavam a brincar juntas. “Vi aquela zona careca e começas a perceber que aquilo que vês nos filmes está a acontecer. Nunca te preparas porque acho que a vida ensina-te que um dia vais perder os teus pais, os avós, mas nunca te ensina, no caso dos meus pais, que podes perder um filho ou que podes perder uma irmã”, partilha.

Carolina sempre tentou “não chorar e não mostrar a parte fraca”, pois sentia que tinha que se manter forte à frente dos restantes irmãos, uma vez que era a mais velha. “Mas houve dias em que foi muito difícil até porque nessa fase a minha irmã esteve três anos internada em tratamento e a minha avó descobriu que tinha um cancro no colo do útero. Estava uma no piso de cima e outra no piso de baixo, uma a fazer radioterapia e outra a fazer quimioterapia. Foram três anos muito difíceis. A minha avó acabou por falecer, a minha irmã felizmente ficou bem. Continua a fazer os exames de rotina porque é daquelas coisas que pode sempre aparecer, mas está bem e foi uma coisa que uniu muito a nossa família em certas coisas, mas deixas de cuidar de outras”, acrescenta.

Depois destes anos marcantes, “muita coisa mudou”. “Estamos mais unidos, mas não te vou mentir que tenho saudade de ver os meus pais juntos. É muito imaturo dizer isto porque as pessoas separam-se porque têm que se separar. Nunca lhes disse isto, mas eu não acho que eles se tenham separado por falta de amor. Acho que aquilo que aconteceu foi que te dedicas tanto a uma coisa que te esqueces de cuidar de outra. E eles estiveram de se dedicar a sete filhos que estavam a passar por aquele período, uma filha com cancro, o meu pai com uma mãe a morrer e, de repente, esqueces-te de cuidar do outro. Acho que foi isso que aconteceu”, desabafa.

Na altura não estava mentalizada para perder a irmã e sempre tentou manter o otimismo de que era apenas uma fase má que iria passar. E não deixa de confessar: “Na altura a única coisa que eu queria era ser eu a estar no lugar dela porque eu é era a mais velha, era o que fazia sentido. Não fazia sentido ser ela com oito anos a estar naquela posição. Se for por uma ordem de quem ter de ir primeiro, que seja eu. Era aquilo que mais queria, mas a vida às vezes é injusta e é isso que te torna mais forte”.

“A quimioterapia é uma coisa muito violenta e que te mata coisas boas e coisas más, como o paladar. Durante aquele período parece que tu já não reconheces a pessoa. Ela estava num quarto com quatro crianças da idade dela e todas as semanas eu chegava lá e havia um deles que tinha desaparecido. E tu chegas aquele sítio todos os dias a pensar por favor que hoje não seja ela. E ela própria, lembro-me de lhe perguntar: 'Onde é que está o João?'. E ela dizer: 'O João foi para o céu'. De todos ela era a que estava mais bem preparada se tivesse de ir”, continua.

Quando a irmã da atriz recuperou da doença, a família teve que se despedir da gata que acompanhou a sua infância. Um animal a que sempre foi muito ligada, a Simone, e que o pai da artista teve que “mandar abater porque também tinha leucemia”. “Parece que foi tudo ao mesmo tempo. Mentalizei-me muito que foi ela que curou a minha irmã, que levou ela o mal com ela e deixou a minha irmã [bem]”, confessa.

Com este susto e as perdas que sofreu, Carolina aprendeu a “relativizar muito as coisas”. “Daqui para a frente é muito difícil aquilo que me manda abaixo. É uma lição que levas para a vida”, afirma.

Hoje, para si, “o que realmente importa é ter muito amor e ter muita saúde”. “É preciso lutar muito pelas coisas e fazer com que valham a pena porque de um dia para o outro tu podes desaparecer. Faz-me querer amar mais os meus porque não sei como é que vai ser o dia de amanhã e faz-me também querer ser muito melhor na minha profissão porque sei que os deixa muito orgulhosos. Sei que a minha irmã quando me vê na televisão fica orgulhosa de mim”, partilha.

Relação com David Carreira

Recordar os momentos menos bons não foi o único destaque da entrevista com Daniel Oliveira. Além de falar da carreira, principalmente da personagem a que dá vida na série ‘Golpe de Sorte’, Jéssica, a relação com David Carreira também foi abordada.

Carolina lembra que decidiram assumir o namoro em entrevista a Cristina Ferreira porque já todas as pessoas falavam do romance e a apresentadora era para ambos a pessoa certa para abordar o assunto pela primeira vez. “Mas de repente comecei a levar com alguns rótulos que não queria. Sempre me esforcei para ser a Carolina Carvalho atriz, para ir projeto por projeto, sempre estudei e fui atrás das coisas. E, de repente, parece que tudo isso pode ser posto em causa porque te começam a ver como a namorada de alguém”, desabafa. “É um bocadinho assustador e entristece-me. Há certas coisas que são inevitáveis e obviamente que o nome dele está instituído há mais tempo, mas com o tempo, esforço e dedicação, as pessoas começam a ver: não, a Carolina Carvalho é a atriz”, acrescenta.

Apesar de sentir que por ser namorada de David Carreira “o teste e a prova que tem de dar é muito maior”, mostra-se bem com isso. “Estou cá para isso e não estou muito preocupada com isso. Ele é cantor, eu sou atriz e temos de equilibrar muito isto. A profissão dele não é mais importante que a minha, nem a minha é mais importante do que a dele. É importante que no nosso núcleo, no nosso ninho, isso esteja muito claro porque lá em casa não há espaço para haver nenhuma estrela. Eu sou a Carolina e ele é o David. No nosso ninho somos só nós e não interessam as opiniões alheiras”, afirma.

Para Carolina, ambos completam-se. “O David dá-me muito equilíbrio. Eu sou toda muito sentimental, vivo muito as coisas, muito dramática, e ele ajuda-me a ver as coisas com mais clareza, a analisar melhor as pessoas, a ter mais cuidado, a ponderar mais. Ajuda-me às vezes a focar-me naquilo que é realmente importante. Apesar de ser uma pessoa muito focada, às vezes quero fazer tudo e ele ajuda-me aí. [...] Trouxe-me amor, cuidado. Sempre me habituei a cuidar dos outros e sinto que tenho uma pessoa que também quer cuidar de mim”, conta.

Carolina frisa que conheceu o outro lado do filho de Tony Carreira e foi isso que a “fez apaixonar” pelo artista.

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