'V.H.S. Vol. 1' é o novo álbum de Fernando Daniel em que, diz, "deixou completamente as expectativas de lado e limitou-se a fazer música". Um trabalho que ficará completo com o lançamento do segundo volume, onde tem guardados "alguns trunfos".
Em conversa com o Fama ao Minuto, o cantor confessou que os reconhecimentos, os "prémios mais pessoais", não deixam de ser "motivadores". Ainda assim, o mais importante, e que será sempre, é o público.
Este é o primeiro disco que lança após ter sido pai da pequena Matilde, que nasceu em dezembro de 2021 e é fruto da relação com Sara Vidal. A paternidade, confidencia, "trouxe-lhe maneiras diferentes de encarar várias coisas", tendo também "levado isso para as suas canções".
Durante a entrevista, além de também comentar as cotas da música portuguesa, não deixou de partilhar pormenores sobre os estúdios e escola de música com cariz social que está a construir no Furadouro. O que também não ficou esquecido foi a sua participação no 'The Voice Kids', que está novamente no ar na RTP1.
Como referiu em entrevistas anteriores, neste novo álbum, 'V.H.S. Vol. 1', esteve mais focado no que gosta e não tendo em vista prémios. Por que motivo assim foi? Um pouco por frustração por os anteriores trabalhos não terem atingido os objetivos que ambicionava?
Acho que é essa mesmo a resposta. Aliás, os outros atingiram aquilo que ambicionava em termos de resultados. O primeiro disco teve resultados incríveis. Estamos a falar de um disco que me deu 150 concertos – para um artista que tinha acabado de aparecer, com outros artistas do mesmo estilo já bem implementados no país. Foi um disco que me permitiu estar no top de vendas durante 30 e tal semanas. Nas primeiras três ou quatro horas ficou logo em primeiro lugar no top de vendas digitais… E nenhuma das músicas, nem o próprio disco foi nomeado para rigorosamente nada.
Acontece que depois fiz o 'Presente', esse sim, já me valeu dois prémios MTV mas, ainda assim, os críticos nacionais de música não quiseram ou não prestaram muita atenção. Foi um bocadinho frustrante para mim porque também foi um disco com bons resultados, boas músicas e, mais uma vez, praticamente não foi nomeado para nada.
Não faço música para os críticos, mas a verdade é que também não posso ser hipócrita e dizer que não vejo potencial em algumas músicas que me poderiam dar uma ou outra nomeação. Com isto não quero dizer que fiz os outros discos para os críticos me notarem ou aperceberem-se daquilo que estava a fazer. Fazia e faço música única e exclusivamente para os fãs. A única coisa é que tinha expectativas relativamente a esses discos para receber prémios. Com este deixei completamente as expectativas de lado e limitei-me a fazer música. Quem gostar, gosta, quem não gosta, não gosta. O mais importante para mim é que os meus fãs gostem.
Ter sido pai trouxe-me maneiras diferentes de encarar várias coisas. Não pensar tanto naquilo que os outros pensam e tentar fazer felizes aqueles que me rodeiam
O músico trabalha para o público porque existe com ele, mas o reconhecimento das suas músicas acaba também por ser um incentivo…?
Exatamente. Não podemos ser hipócritas e dizer que não motiva ter um prémio ou outro - prémios que distinguem as músicas ou os músicos entre si. Felizmente, não tenho razão de queixa no que toca a galardões, porque os galardões de discos de ouro, de platina, duplo platina, a meu ver são justos. É o resultado daquilo que se consome. Uma música para ter um galardão de ouro e platina é porque o público ouve essa música, é sinal que o público gosta. E esses são os melhores prémios que posso ter. Felizmente, desses não me posso queixar.
Agora, os prémios mais pessoais, aí sim, fico sempre um bocadinho mais frustrado. Mas faz parte. Já sei lidar melhor com isso. E uma das razões é ter lançado este disco que é única e exclusivamente para aqueles que me apoiam e me dão os prémios mais bonitos, que são estes galardões de ouro.
Acha que, de alguma forma, a sua maturidade enquanto artista e também a paternidade acabou por lhe dar uma nova visão de como fazer o seu trabalho e isso reflete-se neste novo álbum?
Posso dizer que sim. Ter sido pai trouxe-me maneiras diferentes de encarar várias coisas. O facto de pensar mais para dentro, ou seja, não pensar tanto naquilo que os outros pensam e tentar fazer felizes aqueles que me rodeiam, foi uma das coisas que mais me marcou. E tendo em conta que mudou muita coisa, também decidi levar isso para as minhas canções e tentar criar uma simbiose daquilo que tenho vivido com aquilo que as pessoas já gostavam. E dar algo novo para as pessoas consumirem as minhas músicas.
Estou a construir o meu estúdio e museu, o meu espaço, mas é um espaço que também terá esta vertente social de criar bolsas
Este álbum é uma espécie de 'regresso'/inspiração nos anos 80 e 90. Mas para quem ainda não o ouviu, de que forma é que este novo trabalho pode levar as pessoas a viajar ao passado? Que características destaca nesse sentido?
Trabalhei com grande pessoas, compositores, produtores, e é um disco que está muito rico em termos de sonoridades - para as quais me decidi inspirar nos anos 90 e finais da década de 80. Está muito forte no que toca a melodias. Acaba por ser uma viagem [ao passado] ouvir este disco porque podemos viajar a outra época. Este disco está dividido em duas fases, uma bocadinho mais genérica em que decidi escrever e compor sobre coisas da minha imaginação, e depois há uma parte muito mais pessoal. É uma parte em que fala de como muda um relacionamento com a paternidade, como é a paternidade, inclusive, tenho uma música para a Matilde, há uma música dedicada aos fãs que me têm apoiado bastante…
Temos o 'Casa', que é o meu último single e que está a correr super bem e a crescer muito bem – é autobiográfico e fala sobre o facto de a música me ter salvado e me salvar todos os dias… Sou suspeito para falar disto porque estou aqui a vender o meu peixe e é um bocadinho estranho, mas a verdade é que, a meu ver, é um dos meus melhores discos, senão o melhor dos três que lancei até agora.
Na verdade, é um disco que reflete esta fase da sua vida, que é o que muitas vezes os músicos costumam fazer com os seus trabalhos – partilhar através da música os reflexos das fases da vida…
É um disco em que me despi mais de preocupações e falei um bocadinho mais 'sem tabus' sobre vários assuntos.
© Divulgação Instagram_fernandodaniel
Li conversas anteriores sobre um novo projeto que está a construir, que se trata de dar uma nova vida à discoteca Pildrinha, no Furadouro (Ovar), onde vai ter o seu estúdio, uma escola de música com cariz social, um museu… A abertura está prevista para outubro?
Gostava que abrisse até ao final do ano, estou a dar o deadline [prazo] de novembro/dezembro. Era para ter sido em maio, mas as coisas atrasaram-se. É complicado, não há muita mão de obra. Se não for este ano, tem outro deadline previsto que será o primeiro trimestre do ano de 2024.
Este é um projeto em que avançou sozinho, não teve nenhum tipo de apoio?
A aquisição foi sozinho, alguns investimentos estou a fazer sozinho. Se bem que também estou a ter algum apoio de marcas que me têm ajudado bastante. Estamos a falar de um investimento grande, de vários milhares, e é ótimo contar com o apoio de marcas dispostas a ajudar.
Estou a construir o meu estúdio e museu, o meu espaço, mas é um espaço que também terá esta vertente social de criar bolsas. Vamos abrir audições e atribuir as bolsas gratuitas para que essas pessoas, se realmente tiverem talento, tenham uma oportunidade de conseguirem explorar o dom com que nasceram, possam efetivamente fazê-lo ali e com as melhores condições. Estou a reunir alguns parceiros...
Este disco que lancei agora também teve alguns atrasos porque tenho muitos projetos em mãos e ando aqui a desdobrar-me em vários Fernandos para conseguir estar em todas as frentes.
Portugal não é só Lisboa e Porto. Temos conseguido com que outros distritos consigam dinamizar-se. Mas a verdade é que existem também municípios, concelhos que vão perdendo pessoas porque procuram grandes centros
Tem alguma intenção de ter um papel ativo na escola de música como, por exemplo, a dar aulas?
Neste momento não estou a pensar nisso. Tenho uma equipa - que são os meus músicos - que serão os professores principais da escola. A minha única posição neste momento é coordenar as aulas, delinear um projeto de estudo, de ensino, estudá-los com os meus músicos e pô-los em ação.
Claro que vou aparecendo, dando uma força, porque acredito que também sirva de inspiração. Mas a verdade é que não quero, de todo, forçar algo que, para já, não me sinto capaz. Ou seja, aprendi sozinho, não tenho muitas bases, tenho as bases que fui aprendendo, e é essa a filosofia da escola. Não ser só matéria, mas também ir muito atrás do feeling, daquilo que a pessoa procura. O método de ensino será mais ou menos esse.
Como mencionou, acaba por ser uma inspiração porque vem de um ponto do país em que não há tantas oportunidades como noutros lugares. Isso também acabou por ser um motivo para abrir a escola, sentiu que é importante que haja mais oportunidades noutros pontos do país?
Sim. Defendo sempre que Portugal não é só Lisboa e Porto. Felizmente, temos conseguido com que outros distritos consigam dinamizar-se. Mas a verdade é que além das capitais de distritos, existem também municípios, concelhos que vão perdendo pessoas porque procuram grandes centros para se conseguirem implementar. A minha ideia é exatamente o oposto. É tentar criar oportunidades em municípios e concelhos em que não há tanta oferta.
Neste caso estamos a falar de Ovar - que fica entre o Porto e Aveiro - que, se calhar, consegue atrair pessoas de outras grandes cidades que procurariam estes dois polos. Estamos a falar de cidades como Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Estarreja, Espinho… E também é uma forma de dinamizar a terra que me acolheu, que foi o Furadouro.
Não posso aproveitar esta quota para exigir a uma Rádio Amália, uma Vodafone FM ou uma Smooth FM que toque a minha música. Não faz sentido porque não é para o meu público
Há algumas semanas discutíamos as cotas da música portuguesa… Hoje em dia as rádios continuam a ser fulcrais para o sucesso de um artista ou, com a chegada de plataformas como o Spotify, as rádios continua a ter um papel importante, mas não exatamente com a mesma dimensão que tinham antigamente?
Vai muito depender de géneros e estilos. Existem duas rádios principais, ou que têm mais ouvintes, estamos a falar da Comercial e da RFM. Por norma, o público que ouve essas rádios gosta de música mais pop, mais comercial. Não são géneros específicos, não estamos a falar de rock, de fado… O que quero dizer com isto é que no público em geral, essas rádios vão continuar a ter um papel fundamental porque têm muitos ouvintes, agora, se quisermos ouvir coisas mais específicas, é óbvio que [usamos] plataformas como o Spotify. E agora também existem cada vez mais rádios a terem segmentos mais específicos.
Acho que se trata de equilíbrio. As rádios serão sempre fundamentais e vão ser sempre, mas as plataformas vieram só trazer [a opção] de que se não gosto do que está a passar [na rádio], vou ouvir na plataforma. Dá-nos mais uma opção de escolha.
Daí achar que obrigar rádios a tocar, a ter um limite para passarem músicas, não acho justo. Se as pessoas não querem ouvir a música que passa naquela rádio, procuram outras rádios ou as plataformas. Defendemos sempre - e ainda bem - a liberdade, porque é que não devemos deixar as rádios tocarem aquilo que elas querem? Não é uma quota que tem de obrigar uma rádio a passar mais ou menos música portuguesa. Já se faz de forma natural passarem músicas em que as rádios acreditam. A rádio não é obrigada a acreditar em toda a música portuguesa que se faz. Não posso aproveitar esta quota para exigir a uma Rádio Amália, uma Vodafone FM ou uma Smooth FM que toque a minha música. Não faz sentido porque não é para o meu público.
As pessoas querem tanto obrigar as outras a fazer outras coisas que se esquecem que elas têm a liberdade de escolher. Se não gostam do que está a passar na rádio, subscrevam, comprem Spotify. A maior parte das pessoas que está a pedir, a obrigar as rádios a ouvir mais música portuguesa, se calhar não pagam apps para escolherem as músicas que querem ouvir.
Ou seja, estamos a obrigar rádios a passarem mais música portuguesa com o intuito de ajudar mais artistas portugueses, mas depois essas pessoas não são capazes de pagar Spotify ou iTunes para ouvir mais música portuguesa.
Tento sempre falar e lidar com as crianças como se estivesse a falar com a Matilde, ou como gostaria que os outros tratassem a Matilde
Já participou no 'The Voice' e continua a fazer parte do programa, mas como mentor. Este papel acaba por ser diferente e especial para si do que, por exemplo, em comparação com o Carlão, uma vez que já esteve do outro lado? Leva aquilo de uma forma diferente, ou acha que não?
Ter participado no programa enquanto concorrente dá-me algum avanço relativamente aos meus colegas – exceto a Bárbara Tinoco que também já lá esteve – sobre como é que é o programa. Todos os momentos, como é que os miúdos se estarão a sentir. Sempre que estou a falar e a lidar com eles, tento sempre lembrar-me – e consigo porque é uma coisa bastante presente – de como foi em 2016 quando eu concorri. Não acredito que me dê um avanço muito grande, mas ajuda a compreender mais o que os miúdos estão a sentir.
E agora sendo pai, como é para si dizer não a uma criança ou vê-la a chorar. Como tem feito essa gestão?
Tento sempre - e já antes o fazia – falar e lidar com as crianças como se estivesse a falar com a Matilde, ou como gostaria que os outros tratassem a Matilde. Fiquei muito mais vulnerável, claro, e muito mais sensível, mas a verdade é que a minha postura sempre foi tratá-los como gostava que tratassem os meus filhos. E é sempre assim, quando nos conseguimos pôr no papel do outro, conseguimos criar empatia, ser pessoas amáveis com os outros.
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