Sabe-se que é uma óptima cozinheira, começou muito cedo e mexer em tachos e panelas e tem mesmo um livro publicado (“A Minha Cozinha”). Essa atração pela culinária foi incentivada por sua mãe ou foi uma coisa espontânea?
Existe sempre uma dose de incentivo e uma dose inata para as coisas. Quantos filhos de excelentes cozinheiros não gostam de cozinhar e não sentem nenhum apelo pela cozinha… E nesse sentido, do apelo, eu até poderia ter-me desviado bastante da matéria, porque quando a minha mãe estava na cozinha, olhar para ela era olhar para uma situação de grande stress de timing. Se eu olhasse para o trabalho da minha mãe como uma coisa romântica, não teria ido por aí.

E no entanto…
Acabei por ficar, por querer ser melhor que ela, que tinha a capacidade de fazer parecer tudo fácil. Eu encaro a cozinha como um prazer, não estou a vê-la como uma profissão…

É uma forma de mostrar amor?
Sim, é de facto uma forma de mostrar afetos, de dar atenção, e fico supertriste quando não gostam. Eu gosto de experimentar coisas novas, de testar novos sabores, que eu acho tão especiais e que depois não são assim tão bem aceites…

Gosta de receber amigos?
Gosto muito. Já há muito tempo que não faço nada, mas gosto de preparar uma reunião de amigos, as festas dos miúdos, essa parte é muito importante para mim. Não seria capaz de comprar tudo feito. As coisas não têm o mesmo sabor, é demasiado impessoal.

Os seus filhos são abertos a novos paladares?
A minha filha é mais do que o meu filho. Ele é mais difícil de convencer a experimentar coisas novas. Acho que é uma característica masculina, mas que mais tarde vai acabar por se desvanecer um pouco. Eles são adolescentes e daqui a uns anos tudo será diferente…

Jornalista de primeira linha na televisão portuguesa e cozinheira de mão cheia, imagine que um dia lhe diziam: ‘Clara, temos aqui para si um Pulitzer e uma estrela Michelin, mas só pode escolher um dos prémios’. Para onde ia o seu coração?
Para a minha profissão, sem dúvida. O jornalismo sempre à frente de tudo, eu sou acima de tudo uma jornalista. Não há qualquer tipo de dúvida. Nunca deixaria o jornalismo pela cozinha. Adoro cozinhar, mas não acho que fosse capaz de fazer disso profissão. Faltar-me-ia sempre a parte intelectual, o contacto… Cozinhar pode ser um ato muito solitário, embora depois se passe para fora, mas a preparação é solitária e no jornalismo existe uma dinâmica muito mais vasta com todas as áreas.

Não é, portanto, uma pessoa solitária?
Não, tenho os meus momentos, mas sou uma pessoa que gosta muito do contacto com o exterior, não sou de me isolar.

O seu ritmo é muito intenso?
É bastante, nesta fase então tenho andado mesmo muito ocupada. Para além do trabalho normal ainda tenho depois as duas páginas do Facebook para alimentar. E pelo menos na página de culinária convém colocar uma receita por semana, o que ainda ocupa um bocadinho de tempo. É necessário pensar no que se vai fazer, escrever os textos, tirar as fotos…

Sente alguma pressão extra no seu trabalho do dia-a-dia, com todas estas notícias de despedimentos e reduções de pessoal nas Redações?
Está complicado em todas as áreas e não só na comunicação social. No nosso caso (SIC), que não vivemos dos fundos do Estado, vivemos da publicidade, a crise afeta a receita e as empresas de comunicação social têm de se adaptar, de evoluir. Por uma questão de sobrevivência é necessário readaptar. É óbvio que algumas medidas têm maior ou menor sucesso, mas não sinto pressão no trabalho.

Então, na SIC, continua tudo igual em termos de trabalho?
Continuamos todos a fazer o nosso trabalho e tão empenhados como sempre estivemos. Obviamente que gostávamos de ter às vezes mais equipas para podermos cobrir mais histórias, mas se tivéssemos mais equipas, as histórias seriam ainda mais. As histórias são como as cerejas, atrás de uma vêm outras…

Está satisfeita?
Estou. Se for preciso trabalhar mais horas, trabalhamos, estamos todos a remar no mesmo sentido. Houve uma redução de ordenados que foi pública, e que é normal nestas circunstâncias. É um esforço de quem ganha mais e que tem o dever de contribuir mais… Enquanto as coisas estiveram assim temos todos que colaborar. A única pressão que sinto é a do tempo, que nunca chega. A SIC faz muito com os meios que tem e a prova de que fazemos bem é que a informação do canal é boa e está sempre nos primeiros lugares das audiências.

Sempre a pressão das audiências…
Não sujeito o meu trabalho à pressão das audiências, mas tenho consciência de que a liderança é importante. Mais liderança significa mais meios, mais receita…

Sente que os portugueses já estão cansados de más notícias?
Acho que não, pelo contrário. Sinto que o público tem uma grande sede de informação, as pessoas querem saber. Ficam tristes pela maioria de notícias más, mas vão existindo algumas melhores que dão alento. Os portugueses continuam muito solidários, muito generosos, veja o caso do Banco Alimentar que teve uma subida enorme em relação às outras coletas.

A Clara, desde o seu divórcio, não voltou a surgir acompanhada em público. Está solteira, assim-assim…
Não vou falar sobre esse assunto.