Homem dos sete instrumentos, Vítor Fonseca, 36 anos, mais conhecido por “Cifrão”, dá graças aos céus por ter a seu lado a atriz, manequim, bailarina e coreógrafa Noua Wong, com quem namora há vários anos. “Somos a simbiose perfeita”, diz o multifacetado artista nesta conversa com o Sapo Lifestyle.

Há quem diga que marido e mulher não devem trabalhar juntos, mas a sua sólida relação pessoal e profissional com Noua parece demonstrar que as coisas não são bem assim…
Pois, para nós é ao contrário do que se costuma dizer. É muito mais gratificante e prazeroso estar sempre com ela a trabalhar. Conheço a Noua desde que ela tem 12 anos. Eu tinha mais quatro anos, mas crescemos com o mesmo grupo de amigos e os mesmos grupos de dança. A nossa linha de pensamento é a mesma e ela tem um talento nato para coreografar e para se adaptar às danças muito maior do que o meu, embora as pessoas, às vezes, nem reparem nisso. Eu sou muito específico na parte de hip-hop, a Noua adapta-se muito facilmente a qualquer estilo de dança. Depois, eu coreografo mais para homens e a Noua mais para mulheres. É a simbiose perfeita.

Fazem jus ao ditado “em casa de ferreiro espeto de pau” ou também dançam em casa?
Nós dançamos muito em casa. Estamos sempre a dançar. Há sempre música na nossa casa, há sempre alegria e estamos sempre a dançar, seja porque estamos a preparar o nosso trabalho, seja porque estamos a curtir e da cozinha até à sala há um trajeto que tem de ser preenchido com dança. A Noua é uma pessoa muito alegre, muito divertida, com uma energia gigante e é impossível ficarmos parados ao pé dela. Há sempre muita alegria e muita dança em nossa casa, metade dos nossos amigos são bailarinos e é difícil as coisas não acontecerem assim.

Faz algum sentido para vocês virem a oficializar a relação um dia destes?
Não pensamos muito nisso. Costumamos dizer que somos casados de fé. Já estamos juntos há oito, nove anos. Bem, nós perdemo-nos um bocado nestas datas, sabemos os dias, não sabemos bem os anos. Isto porque parece que foi ontem que nos conhecemos e começámos a namorar.

Preferem, então, continuar a ser namorados?
Não pensamos muito nisso. A nossa vida está complicada para ter filhos para já. Oficializar seria assinar um papel e ir à Igreja e não seria por aí. Para já, não é uma prioridade na nossa vida. Acho que mais rapidamente aparecerá um filho do que o casamento…

Foi jurado e coreógrafo no “Dança com as Estrelas”, da TVI. Julga que esse programa contribuiu para mudar o estado da dança em Portugal?
Creio que em Portugal se está a dançar cada vez mais e gosto de pensar que isso também se deve um bocadinho ao programa. Conseguimos mostrar às pessoas que podemos dançar mesmo que tenhamos dois pés esquerdos. É só querer e … trabalhar para isso.

Aliás, o próprio “Cifrão” já chegou a afirmar que quando começou a dançar tinha dois pés esquerdos…
Tinha mesmo dois pés esquerdos! A primeira vez que fiz uma aula, as pessoas iam todas para a direita e eu, não sei porquê, ia para a esquerda (risos). Não percebia bem o que se passava com o meu corpo. O que aconteceu foi que, mesmo sendo péssimo no início, gostei e comecei a fazer. No primeiro mês já me adaptava ao estilo e no primeiro ano já começava a fazer a coreografia e já me divertia. Qualquer pessoa consegue dançar – tem é que persistir e trabalhar.

Entretanto transformou-se num bailarino, coreógrafo, ator, cantor, músico… É tudo isto ao mesmo tempo, ou há alguma área em que se defina melhor?
Sei que a palavra está a tornar-se um bocadinho depreciativa mas eu considero-me um artista. Um artista pode expressar-se de maneiras diferentes. Os meus pais negociavam arte e cresci rodeado de pinturas e de uma série de pintores portugueses com os quais fui tendo contacto. Não me virei para essa arte mas envolvi-me com a dança que, depois, me levou ao “acting”. Procurei escolas e o teatro, a dança e depois a tuna da faculdade de Gestão levaram-me para a música. Quando saí do ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão fui para o Conservatório de Música D. Dinis. A meio resolvi ir para Londres ter formação de teatro musical. Uma coisa levou sempre à outra. Depois, há fases em que estou completamente focado na dança, outras em que estou na música…

E em que fase está agora?
Estou completamente focado na dança há dois anos e agora a música já começa a chamar por mim. Há cerca de ano e meio comecei a trabalhar num álbum e a minha próxima fase, tenho a certeza, será a música.

O que poderemos esperar desse álbum?
Muita coisa diferente daquela que as pessoas estão habituadas a ver. Vou criar um álbum de originais. Estou numa fase em que quero criar música.

Já se consegue imaginar a voltar aos palcos com o novo álbum?
Acho que das coisas que neste momento sinto mais saudades é de poder subir a um palco e dar um espetáculo. Pisar um palco é muito viciante. Fazer televisão é bom – e de certo modo também é um palco – mas quando mas quando tens um público ali à frente, a reagir, é diferente. Estou a necessitar de pisar um palco com um projeto musical.

O que anda a fazer agora?
Para já estou a trabalhar com os “Pequenos Gigantes”, da TVI, e no meu projeto de música. Entretanto, eu e Noa estamos a coreografar a novela “A Única Mulher” e vamos fazendo outras coisas pontuais.

Como consegue gerir as suas múltiplas atividades?
Desde que nasci que queria ser gestor de empresas como os meus pais. Não queria ser bombeiro, nem polícia, nem nada disso. Queria ser gestor de empresas! Isso faz com que a gestão do meu dia-a-dia, dos negócios que tenho, da minha parte artística, esteja muito à flor da pele. Por exemplo, era eu que negociava e revia os contratos dos “D’Zrt”. Ou seja, a minha parte de gestão sempre esteve atrás de mim para eu enfrentar o mundo das artes.

Mas acabou por abandonar completamente o curso de gestão?
Sim porque não me preenchia. Adoro gestão, adoro gerir pessoas, no “Dança com as Estrelas”, por exemplo, faço mais ou menos isso, faço a gestão de uma série de bailarinos com os convidados VIP, a gestão do que que vamos criar. Isso é um bocadinho gestão de empresas, não envolvendo a parte monetária. As duas áreas estão muito interligadas. Gosto muito das duas coisas, sendo que a gestão, para mim, só serve para gerir artes.

Na realidade, além daquilo que o público conhece, o “Cifrão” é, sobretudo, um homem de bastidores… Concorda?
Começou nos “Morangos com Açúcar” quando me pediram que coreografasse. Depois comecei a gerir a equipa de atores que dançavam. Continuei a ser responsável pela parte coreográfica dos projetos da TVI/Plural. Agora a (produtora) Endemol deu-me um voto de confiança para o “Dança com as Estrelas” e estou ligado à parte de entretenimento. Também comecei a fazer o programa “Pequenos Gigantes” como coreógrafo. De certa forma, essa vida de bastidores começou desde os “D’zrt”. Acabou por ser natural porque já trabalhava como professor de dança desde os 16 anos, como coreógrafo desde os 17/18 anos… De certo modo estou tanto à frente como atrás das câmaras.