A paixão pelas questões ambientais
Aos 74 anos, Carlos III pode ser apontado como um dos membros da realeza que tem, de forma ativa e ao longo de grande parte da sua vida, lutado pelo meio ambiente. Esta é uma paixão que vem de família uma vez cresceu a ver o pai, o duque de Edimburgo, defender diversas causas em que acreditava, como era o caso da preservação ambiental e a vida selvagem.
O então Príncipe de Gales partiu do exemplo de Philip para traçar o seu próprio caminho e tornar-se uma figura central no combate às alterações climáticas e proteção do planeta. Mas o interesse por green issues não começou agora. Desde cedo que mostrou ter uma grande sensibilidade para as questões ambientais, como explicou, em 2018, num vídeo publicado no canal de Youtube da Família Real.
"Lembro-me de há muitos anos, na década de 1960, quando ainda era um adolescente, importar-me muito com tudo o que se estava a passar, a destruição de tudo. O arrancar das árvores e arbustos, a drenagem de terrenos cobertos por água. A destruição de habitats. A destruição do centro das nossas vilas e cidades e este progresso e tecnologia extremos que levam à exclusão da natureza e daquilo que nos rodeia, e também esta determinação em derrotar a natureza e suprimir tudo o que tem a ver com ela."
O primeiro grande discurso
A 19 de fevereiro de 1970 fez o seu primeiro discurso sobre as questões ambientais, onde a poluição e as suas consequências foram um dos temas centrais por si abordados.
"Devem existir poucas pessoas que nunca ouviram falar em ‘conservação’ ou ‘poluição’ ou ‘ambiente’ ou em termos horríveis como ‘ecologia’ e ‘biosfera’. Mas será que sabem o que significam? O Dr. Frank Fraser Darling disse recentemente que tinha medo de que ‘as pessoas se cansassem da palavra ecologia antes de saberem o seu significado’. Eu acho que existe um perigo real de isto acontecer – de ser algo temporário que atinge um excesso de atenção e que depois perde dimensão rapidamente", disse na época da sua intervenção no Countryside Steering Committee, no País de Gales.
Em 2018 refletiu sobre este discurso numa entrevista à Vanity Fair, dizendo que o facto de se ter sentido incompreendido por muitas pessoas levou-o a trabalhar ainda mais arduamente nesta causa. "Um dos meus deveres tem sido encontrar soluções para os desafios que enfrentamos em relação à aceleração da crise climática... Contudo, demora-se muito tempo a alertar as pessoas para a magnitude deste desafio. Há mais de 40 anos lembro-me de fazer um discurso sobre os problemas do plástico e outros desperdícios, mas naquela altura ninguém estava interessado e fui considerado antiquado, desatualizado e ‘anti ciência’ por alertar para essas questões."
As mudanças no seu estilo de vida
Após adquirir a propriedade Highgrove House, esta foi a oportunidade perfeita para Carlos III pôr em prática a sua visão. Consciente dos benefícios da comida orgânica e das práticas agrícolas biológicas para a saúde e para o ambiente, converteu a Duchy Home Farm, em Highgrove, numa quinta orgânica. É de salientar que, em 1986, este espaço foi repensado pelo filho de Isabel II de forma a privilegiar um sistema agrícola biológico alicerçado em práticas mais amigas do ambiente.
Tal como referiu numa mensagem dirigida ao The Organic Center, o seu desejo é que este espaço "possa ser um exemplo daquilo que pode ser feito. É a prova viva de que é perfeitamente possível produzir comida, com excelente rentabilidade e sem o uso de pesticidas, fertilizantes artificiais, antibióticos promotores de crescimento ou organismos geneticamente modificados". O atual monarca vê, neste tipo de agricultura, "a solução para a segurança alimentar e escassez, para a crise climática e acredito que o futuro dos nossos netos está no agricultor sustentável que trabalha em harmonia com a natureza, que capta algo de bom através do solo saudável, das colheitas e dos animais saudáveis e que, ao fazê-lo, fornece comida saudável", disse em março de 2009.
O passo seguinte foi a criação da Duchy Originals, uma marca pioneira de produtos orgânicos lançada em 1991 e que, passados 20 anos, é considerada uma referência no Reino Unido. É de salientar que todos os produtos são produzidos a partir de ingredientes naturais oriundos da Duchy Home Farm. Em 2009 a marca foi adquirida pela cadeia de supermercados Waitrose e rebatizada como Waitrose Duchy Organics, sendo que todos os lucros revertem para The Prince Charitable Fund (PWCF).
Para além disto, a propriedade tem a preocupação de usar fontes renováveis de energia, como é o caso de um sistema de aquecimento a biomassa, painéis solares fotovoltaicos para a conversão de luz solar em energia elétrica e painéis solares térmicos para o aquecimento de água, refere o site oficial de Highgrove.
É de destacar que estes princípios sustentáveis se estendem aos jardins da residência real. Para além do aproveitamento da água das chuvas para processos de irrigação e da utilização de diversos métodos de compostagem, foi ainda implementado um mecanismo para tratamento e reaproveitamento de água.
Outra das preocupações da família real prende-se com as emissões de CO2, sendo utilizados nas suas deslocações diárias veículos mais amigos do ambiente, como os carros elétricos. No caso de viagens internacionais isto torna-se mais difícil de controlar uma vez que são utilizados aviões privados neste tipo de deslocações de longo curso. Contudo, a Casa Real refere que "o impacto ambiental está a ser tido em consideração quando é planeada a sua agenda de compromissos" de forma a tentar reduzir emissões.
Em maio de 2021 deu uma entrevista à revista Country Life onde revelou que a Sandringham House, em Norfolk, está a seguir os passos de Highgrove e a ser convertida numa propriedade 100% orgânica. "Existe um constante fluxo de ideias, que discuto com a conhecedora - e muito sofrida - equipa que faz a gestão da propriedade", disse sobre este projeto que está em curso desde 2018.
As iniciativas em prol de um futuro sustentável
Em 2020, o rei de Inglaterra lançou o Sustainable Markets Initiative (SMI): um projeto que "apela às comunidades, negócios, investidores e consumidores para adotar medidas urgentes e concretas, necessárias para se transitar para práticas mais sustentáveis" e que tem por base um plano de ação que pretende auxiliar nesta mudança de trajetória, refere o site oficial da Família Real.
"Eu acho que às vezes nos esquecemos que fazemos parte da natureza. Portanto o que fazemos ao mundo que nos rodeia estamos a fazer a nós mesmos. […] Acredito vivamente que temos de desenvolver uma abordagem que coloque a natureza no centro de todo este processo. De qualquer benefício que tenhamos, também temos de fazer algo em benefício da natureza, ao devolver-lhe algo para que os meus e os teus netos possam ter um futuro razoável. […] Não podemos continuar assim com as calotas a derreterem completamente. Para mim, isto é, e sempre foi, assustador", afirmou num vídeo sobre este projeto foi que lançado com o apoio do World Economic Forum e onde conheceu pela primeira vez a jovem ativista Greta Thunberg.
Do SMI destacam-se diversas iniciativas que pretendem combater as alterações climáticas e encontrar soluções sustentáveis, onde se incluem inúmeras reuniões com líderes da cimeira do G7 e o lançamento da Terra Carta, "que serve como um roteiro para a recuperação da natureza e das pessoas", pode ler-se no site oficial do projeto.
É através da sua fundação, The Prince of Wales’s Charitable Fund (PWCF), fundada em 1979, que também coloca em prática a sua missão de construir comunidades sustentáveis, dando apoio a causas e projetos de áreas distintas. Deste organismo faz parte o The Prince’s Countryside Fund (PCF) que se destina a "melhorar a sustentabilidade da Agricultura Britânica e das comunidades rurais que apoia", refere o site deste projeto lançado em 2010.
Ao longo dos anos, o filho de Isabel II também tem marcado presença em diversas cimeiras e eventos que se têm realizado pelo mundo fora. Em novembro de 2021 participou na COP26, a conferência do clima das Nações Unidas, que se realizou em Glasgow. "Só vos posso pedir, enquanto agentes decisores a nível mundial, que encontrem formas úteis de ultrapassar as nossas diferenças de modo a podermos trabalhar, em conjunto, de forma a resgatar este precioso planeta e salvar o futuro ameaçado dos nossos jovens", disse.
No ano passado chegou às livrarias It’s Up to Us: um livro para crianças que pretende alertar os mais novos para as questões climáticas e que contou com um prefácio da sua autoria. Parte das receitas desta obra infantil revertem a favor da The Prince's Foundation, outra das fundações do atual monarca.
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