O comentador especializado em famílias reais Alberto Miranda acredita que o rei Carlos III, sucessor da rainha Isabel II, vai ter um papel de continuidade e também unificador no Reino Unido e até na Commonwealth.

"O carisma de Isabel II é inigualável" e foi acumulado ao longo de sete décadas de reinado, "e claro que Carlos é diferente", além de que terá um reinado seguramente mais curto, já que ocupa o lugar quando já tem 73 anos, referiu o também jornalista em declarações à Lusa.

Realçando a paixão pelo serviço público da monarca, pondo "os deveres acima de tudo", ou seja como frisou o especialista "primeiro a rainha, não é a mulher", Alberto Miranda considera que "apesar de haver alguns motivos para haver algumas mudanças, haverá uma continuidade, a transição na continuidade de Isabel II".

Este especialista em famílias reais antevê que Carlos III concretize o plano de "fazer uma família real mais circunscrita, ou seja, com o núcleo duro reduzido", que tinha sido já uma "mensagem" de Isabel II quando nas cerimónias do Jubileu de Platina, em junho passado, apareceu na varanda do Palácio de Buckingham já com esse núcleo mais reduzido.

"No final, a despedir-se, ela aparece com o filho (agora rei Carlos III), com Camila (agora rainha consorte), com o neto William, (agora príncipe herdeiro) e com os bisnetos", recordou.

Sobre a hipótese da abdicação e transferência da coroa para o filho William, um tema abordado de forma frequente, o comentador especializado em famílias reais não acredita "que esse cenário seja plausível".

"Os britânicos são muito ligados à monarquia" e "um tributo que eles prestam também à Rainha é a aceitação do seu filho como rei. A continuidade, porque o princípio da monarquia é esse mesmo: é rei morto, rei posto", sustentou.

Além disso, "Carlos esperou toda a vida para ser rei. É claro que não é comparável à rainha Isabel II", admitiu, mas "terá também um papel unificador".

Um sinal disso é o ter sido aceite, ainda antes da morte de Isabel II, esta quinta-feira, como chefe da Commonwealth, mesmo que alguns pequenos Estados possam querer deixar esta Comunidade das Nações, uma organização intergovernamental composta por mais de 50 países independentes, que fizeram parte do Império Britânico, com exceção de Moçambique e Ruanda.

Este cargo "não é hereditário", ou seja, o rei que sucede não é automaticamente chefe da Commonwealth, referiu, mas Carlos foi aceite na última cimeira e portanto já é o chefe da Commonwealth.

"Claro que poderá haver sentimentos mais hostis num ou noutro, num ou outro país mais longínquo. Mas a prevalência da monarquia, da figura da realeza, está muito arraigada na maioria dos cidadãos, dos britânicos e também dos da Commonwealth", frisou.

Há ainda as questões que Carlos, agora rei - o príncipe herdeiro não tem funções definidas e fica à espera da ascensão para decidir -, tem que determinar como a escolha da residência oficial, se Windsor, se Buckingham, novas secretarias, e estipular novas formas de funcionamento da casa real.

O homem "da botânica, da jardinagem, dos tempos da pintura, da aguarela" vai ter que deixar tudo isso e agora centrar-se nas funções de Estado, recordou Alberto Miranda.

A rainha Isabel II morreu aos 96 anos no Castelo de Balmoral, na Escócia, após mais de 70 anos do mais longo reinado da história do Reino Unido.

Elizabeth Alexandra Mary Windsor nasceu em 21 de abril de 1926, em Londres, e tornou-se rainha de Inglaterra em 1952, aos 25 anos, na sequência da morte do pai, George VI, que passou a reinar quando o seu irmão abdicou.

Após a morte da monarca, o seu filho primogénito assume aos 73 anos as funções de rei como Carlos III.