'As Folhas Já Não Caem', 'Diz-me Que Sim' e 'Só Tu Podes Alcançar' são apenas três dos temas que os 4Taste vão voltar a tocar juntos. A banda reencontra-se em palco a 8 de junho deste ano, no Passeio Marítimo de Algés, para o concerto que junta os projetos musicais que nasceram nos 'Morangos com Açúcar'.
Reunir David Gama, Nelson Patrão, Francisco Borges e Luke D'Eça não foi nada fácil. Ainda há cerca de um ano, o Fama ao Minuto entrevistou o último músico e perguntou-lhe precisamente sobre a possibilidade de voltarem a juntar-se. "Não está descartado, mas não há planos", disse-nos na altura.
Depois do alvoroço que o regresso dos D'ZRT provocou, com vários concertos por todo o país e milhares de bilhetes vendidos, surgiu a ideia de chamar para um concerto único as bandas 4Taste e Just Girls. A proposta era tentadora e o espetáculo vai, de facto, acontecer. Entretanto, também soubemos que FF irá juntar-se à nostálgica festa.
O Fama ao Minuto foi até à Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, que em tempos foi a Escola D. Sebastião nesta série juvenil, para falar com os cantores que vão ajudar a reviver tempos que não voltam mais. Anos depois, encontrámos os 4Taste mais nervosos do que se sentiam há 15 anos, a última vez que estiveram todos no mesmo palco.
Sabemos que um grande impedimento para um regresso aos palcos eram os vossos atuais compromissos profissionais. Como conseguiram conciliar as vossas agendas para tornar isto possível?
David Gama (DG): Com muito malabarismo e muita força de vontade.
Nelson Patrão (NP): Deram-nos a possibilidade de ensaiar à noite, depois dos nossos trabalhos. Deram-nos uma sala de ensaios e todas as condições necessárias para prepararmos um concerto bom.
Francisco Borges (FB): Falámos nisto ocasionalmente, mas temos todos vidas pessoais e profissionais muito organizadas noutro sentido. Houve uma junção de fatores num timing perfeito e nós tentámos perceber como nos podíamos reorganizar.
Quais são as vossas profissões agora?
FB: Só o Luke é que se manteve na música. De resto, seguimos outros percursos. Há um advogado, um engenheiro e um empresário que gere um negócio de família.
Quando viram os D'ZRT no primeiro concerto de regresso, isso mexeu também um pouco convosco?
DG: Eu estive num dos concertos dos D'ZRT e foi incrível ver aquilo. Ver as pessoas a cantarem as músicas todas deles e a viajarem até ao passado fez-me ir buscar aquele bichinho que estava escondido há muito tempo. Revivi anos incríveis da nossa vida e isso teve muita força.
Luke D'Eça: Os D'ZRT mostraram, uma vez mais, aquilo que pode ser feito, são uma espécie de bandeira e põem a fasquia lá em cima. Apesar de termos um estilo musical muito diferente, aparecemos quase na mesma altura e alcançámos o mesmo género de público.
Já começámos a ensaiar e temos vindo, aos poucos, a ganhar mais confiança
E já imaginam como será convosco no dia 8?
NP: Nós não imaginamos, nós já sabemos o que irá acontecer [gargalhada geral].
Luke: Estamos preparados para a energia que vai existir. A última vez que tocámos juntos foi há 15 anos, em 2009, agora estamos com uma 'pica' enorme. Temos estado a fazer as coisas com tempo e com calma. Quando apenas falávamos sobre isto, sentia-me calmo. Depois de ter aceitado, caiu-me a ficha e pensei: 'mas o que é que estou a fazer? Não sei se consigo fazer isto agora!'. Entretanto já começámos a ensaiar e temos vindo, aos poucos, a ganhar mais confiança.
Quando falámos com o Luke, há cerca de um ano, ele disse-nos que chegou a mostrar-vos o número de visualizações no YouTube e de reproduções no Spotify, algo de que os restantes membros do grupo não tinham bem a noção...
NP: Eu não tinha essa ideia. No passado, achei sempre que havia algum preconceito com as bandas que saíam dos 'Morangos'. Acho que esse preconceito acabou e as pessoas admitem que ouvem e gostam dos 4Taste, os números dizem isso mesmo.
FB: Recebemos um relatório há uns dias, sobre o último trimestre de 2023, e tínhamos um milhão e meio de streams...
Há artistas e bandas que lançam músicas novas e não têm esses números...
FB: É verdade. É um privilégio enorme podermos, 15 anos depois, continuar a ter esse impacto.
Luke: É ainda mais incrível se pensarmos que nunca mais aparecemos juntos, que nunca mais lançámos nada novo e que nem sequer passamos na rádio. As pessoas ouvem porque querem e porque há músicas nossas que as marcaram. É gratificante ver que há algo que criámos que faz parte da vida das pessoas. Fizemos parte de uma coisa que dá alegria a muitas pessoas.
Não sabemos que público vamos apanhar naquele espetáculo
O sucesso destas bandas na atualidade deve-se ao facto de relembrarem as pessoas de uma fase das suas vidas que já não volta?
FB: É engraçado ver o saudosismo. Quando estamos na posição de fãs, sabemos que estamos nela. Todos nós já fomos ver bandas do nosso passado e que nos faziam sentido. Quando estamos deste lado, não conseguimos dissociar-nos e ver isso. Depois de anunciarem o concerto, recebi várias mensagens de pessoas a dizerem 'tenho de ir ao teu concerto porque o meu filho está a chatear-me a cabeça', sendo que estamos a falar de crianças de nove anos, que não eram sequer nascidas quando os 4Taste começaram. Nós não sabemos que público vamos apanhar naquele espetáculo. Eventualmente, vão estar pessoas entre os 20 e os 35 [anos], mas também lá vão estar miúdos muito mais novos.
Quando ainda estavam juntos como 4Taste, vocês eram figuras públicas e todas as pessoas vos reconheciam na rua. Depois, com o fim da banda e pelo facto de terem abraçado diferentes profissões, tornaram-se praticamente anónimos novamente. Estão preparados para o facto de serem, uma vez mais, pessoas conhecidas?
Luke: Felizmente, a fama de hoje não é igual à fama que vivemos na altura.
As pessoas são menos intrusivas agora?
Luke: Acho que sim. Na altura, como não havia Internet, quando as pessoas viam um famoso na rua não acreditavam, era como se vissem um ser mítico. Hoje acho que não é tanto assim.
DG: A nossa banda é conhecida, mas nós não estamos no nível de fama do Cristiano Ronaldo, que não pode pisar a rua. Acaba por ser uma fama mais agradável.
O que têm sentido nesses ensaios noturnos de que nos falaram?
FB: Tenho sentido muitas dores de costas [risos]. No primeiro ensaio, para me conseguir levantar... [foi difícil]. São muitas horas...
NP: Tenho sentido muito prazer e vontade de ensaiar. Depois de três horas com a guitarra, fiquei cheio de dores.
FB: Quando começámos a ensaiar, tive alturas em que me esquecia do que vinha a seguir e entrava em pânico. De repente, o meu corpo tocava automaticamente. O corpo ficou com a memória do que tocávamos.
NP: Eu, quando estou a ensaiar, lembro-me daquilo que fazia ao vivo. Olhamos uns para os outros e dizemos: 'olha, aqui dávamos um salto!'.
Estamos a pensar nisto como uma experiência irrepetível. Ainda assim, não podemos dizer que é impossível fazer mais concertos depois.
Sei que a próxima pergunta é um pouco injusta, dado que ainda agora começaram a pensar neste concerto de reencontro, mas os fãs também querem saber: qual é a probabilidade de este concerto se multiplicar e não ser um evento único?
DV: A resposta mais sincera é que é muito complicado pensar noutro concerto. Só este vai trazer-nos muitas emoções, não é possível pensar mais além. Estamos a pensar nisto como uma experiência irrepetível. Ainda assim, não podemos dizer que é impossível fazer mais concertos depois.
NP: Não vamos pensar que vamos ter mais concertos depois. Vamos dar tudo neste, mas não sabemos se vamos tocar juntos novamente. Ao dia de hoje, não sabemos mesmo o que vai acontecer.
Luke: Estamos focados e a olhar para este concerto como único.
Há três de vós que já têm filhos. Encaram este concerto também como uma oportunidade de eles vos verem neste papel, algo que nunca tiveram a oportunidade de ver antes?
FB: Sim, é especial. Pessoalmente, também pesou um bocadinho na minha decisão eles poderem presenciar isto. Acho que é uma parte importante daquilo que eu sou e que eles não conseguiram ver.
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