Foi na véspera do seu aniversário, no dia 7 de outubro, que João Baião viu partir a mãe, Maria Luísa, no mesmo dia que o pai também morreu, há nove anos. Um momento marcante que foi recordado durante a presença do apresentador no ‘O Programa da Cristina’, da SIC, esta segunda-feria.

Inicialmente, João lembrou a morte dos avôs, a sua primeira grande perda. “Foi uma coisa horrível, estava no palco e não sabia o que estava a fazer. Estava completamente ausente. Foi assim a primeira experiência. Quando foi o meu pai eu estava a fazer o programa com a Tânia Ribas de Oliveira”, partilhou, afirmando que faz questão de continuar com o seu trabalho mesmo estando desfeito por dentro porque o público “não tem que levar com o seu sofrimento”.

Isto porque quando a mãe morreu, a uma segunda-feira, no sábado seguinte Baião não faltou à emissão do seu programa, que ocupa as manhãs dos fins de semana da SIC.

É muito difícil falar nisto porque é muito difícil explicar como é que se pode estar alegre estando desfeito por dentro”, confessou, reconhecendo que se tivesse ficado em casa “tinha sido pior porque a sua mãe tinha o maior orgulho em si, como todas as mães têm orgulho nos filhos, e gostava muito da sua alegria, do programa e daquilo que fazem”.

Em conversa com Cristina Ferreira, Baião contou ainda que teve uma irmã que “nasceu morta” e que se fosse viva seria a mais velha.

Foi há tanto tempo que nunca percebi ou tentei fazer uma imagem do que seria a minha irmã. Seria a mais velha, mas nunca pensei nisso. Mas é muito difícil queres disfarçar um sofrimento que é uma dor profunda”, acrescentou, explicando que nunca falou abertamente com a mãe sobre este assunto.

Ainda de luto, João admite que nesta primeira fase o tempo “não ajuda nada”. “Então nesta época é horrível porque eu vivia muito a época natalícia. Gosto muito do Natal e viva muito esta época pela família e com a família. E não ajuda nada porque cada vez mais tu vais passando por fases da tua vida em que qualquer coisa te faz recordar. Está sempre presente e a imagem de uma mãe num caixão é uma coisa que não se esquece nunca”, desabafou.

Baião destacou que há cerca de 15 dias o cantor Marco Paulo esteve no ‘Olhó Baião’ a interpretar um tema de Pedro Abrunhosa, ‘Para os Braços da Minha Mãe’. “De repente, naquela frase ‘quero voltar para os braços da minha mãe’, é tão forte que tu pensas que isso é uma coisa que já não vai ser possível”, realçou.

“A nossa relação sempre foi muito próxima, mas uma relação diferente. São outras gerações. Nunca falei com o meu pai ou com a minha mãe sobre os nossos problemas, os meus medos, porque não havia essa abertura. Era aquela coisa mais superficial, embora sendo uma coisa profunda e de laços muito fortes. Neste último mês da minha mãe, eu ia todos os meses visitá-la e enquanto ela estava consciente dizia sempre: mãe, tenho muito orgulho em si, amo-a muito e é uma mulher extraordinária. E houve uma vez que ela me disse: dizes isso agora. Isso foi uma coisa que me [tocou muito]. Não que ela estivesse a culpabilizar-me, mas foi algo que me marcou porque eu devia ter dito mais, mas não havia essa frontalidade, essa abertura para falarmos sobre sexo ou dos nossos problemas, daquilo que eu vivia na escola...”, partilhou.

Mas não ficou por aqui e confessou que “a morte do pai tocou-lhe um bocadinho mais” porque sempre o viu como a pessoa mais forte da família.

“A minha mãe sempre foi mais frágil em termos de saúde e eu sempre me habituei a ver o meu pai como o suporte da família. [...] Quando ele fragiliza e percebemos que ele tinha um cancro, foi uma coisa…”, contou, afirmando que este foi um dos piores momentos da sua vida.

No caso da minha mãe, sempre vivi apavorado com o desaparecimento dela. Ela quando trabalhava, se dizia que chegava às 6h e às 8h não estivesse, eu chorava à janela à espera dela. Tinha tanto medo que ela não viesse, que não voltasse. Vivi sempre apavorado com esta ideia e pensava: espero que se um dia isso acontecer que eu seja mais crescido para não sofrer tanto, para não precisar tanto dela, mas não é assim. Não se tem idade”, disse.

João lembrou também que estava de férias e que teve de regressar uma semana antes das mesmas terminarem porque a mãe tinha ido para o hospital. “Quando cheguei ao hospital, ela recupera, vem e ainda fala comigo. E é tão estranho porque pensei sempre: a minha mãe ainda vai escolher o mesmo dia do meu pai porque ele também partiu na véspera do meu aniversário”, recordou, pensamento que veio a acontecer.

Recentemente, o apresentador foi na companhia dos irmãos “buscar as coisas a casa da mãe e foi uma sensação de vazio total”. “Porque quando tens descendência acabas por perspetivar a tua vida a encaminhá-los. Quando tu não tens ficas sem os teus alicerces, sem o passado, e no futuro começas a ver-te só, embora não esteja só ou esteja só por opção. Eu não tenho medo da morte, não tenho medo de morrer, mas uma coisa que me está sempre aqui na cabeça é o não ver mais a pessoa, o que é que a gente sente depois de morrer, o que é que é isto para além de morrer? Então estas duas pessoas que foram as mais importantes da minha vida nunca mais as vês, nunca mais as sentes, as beijas… É um vazio grande”, desabafou.

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